Fibroma ovariano torcido

Dez de 2016.

 

Autora: Amanda Ito

Orientador: Prof. Dr. Rodrigo Menezes Jales

                                                                                                                                                                                                                    


RELATO DE CASO

Mulher de 56 anos com história de dor intensa em fossa ilíaca direita há um dia. Relata um episódio de febre (38oC) nesse período. Ao exame físico, o abdômen apresentava sinais de peritonite mais acentuados em fossa ilíaca direita. Suspeitou-se de apendicite aguda, mas a tomografia (Figura 1) descartou esta possibilidade e identificou uma massa anexial à direita. A ultrassonografia transvaginal (Figura 2) identificou um tumor sólido ovariano à direita de contorno regular, praticamente sem fluxo ao Doppler, extremamente doloroso ao estudo dinâmico, medindo cerca de 9 cm e sugestivo de fibroma, além de pequena quantidade de líquido livre na pelve. Com a  hipótese diagnóstica de tumor ovariano torcido com aspecto ultrassonográfico benigno, a paciente foi submetida a laparotomia com incisão pélvica transversa. O inventário da cavidade confirmou a torção do ovário direito, com aderência em epiplons. Realizada lise das aderências e anexectomia direita, sem intercorrências (Figura 3). O resultado anátomo patológico da congelação da peça cirúrgica sugeriu lesão fusocelular, com áreas de necrose e hemorragia recente. A paciente evoluiu bem no pós operatório, com resolução da dor. O resultado anátomo patológico final da parafina confirmou o diagnóstico de fibroma do ovário com extensas áreas de edema e hemorragia recente (infarto hemorrágico pós-torção).

 

 

IMAGENS DO CASO

Figura 1 - Tomografia computadorizada do abdômen em cortes axiais - pós contraste - fase portal - mostra lesão sólida, hipovascular, com aspecto heterogêneo, sem realce significativo ao contraste.

 

Figura 2 - Ultrassonografia transvaginal, mostrando o útero (seta branca) e o tumor anexial à direita (seta azul), hipoecoico, com ecotextura sólida e contorno regular. Não foi identificado fluxo ao Doppler. Esses achados ultrassonográficos são compatíveis com fibroma ovariano.

 

Figure 3 - Intraoperatório mostrando a torção do pedículo vascular. Ao corte da peça, extensas áreas sugestivas de necrose e hemorragia, que foram confirmados no exame anatomo patológico.

 

DISCUSSÃO

A torção do ovário sobre os seus ligamentos e pedículo vascular compromete os seus fluxos venoso e linfático. O fluxo arterial costuma ser menos afetado em função da espessura da parede muscular. O aumento da pressão sanguínea e linfática leva ao aumento do volume ovariano, ao edema do parênquima, à distensão da cápsula e à transudação de líquido livre para a cavidade abdominal. Os sintomas não são específicos, podendo incluir dor aguda localizada do lado direito ou esquerdo do abdômen inferior, massa abdominal palpável, sinais peritoneais, febre, náuseas e vômitos. Com o tempo, podem ocorrer fenômenos como trombose arterial, isquemia e infarto do tecido, que podem evoluir para inflamação e infecção sistêmicas.

A torção ovariana pode ocorrer em mulheres de qualquer faixa etária, porém é mais frequente nas mulheres em idade reprodutiva. Até 20% dos casos ocorrem em mulheres grávidas. A torção ocorre principalmente devido à presença de massas ovarianas, como grandes cistos e tumores, como teratomas, cistos hemorrágicos, cistoadenomas e fibromas. A torção de um ovário normal é rara e mais frequente em adolescentes.

O fibroma é o tumor sólido benigno de ovário mais frequente. Acomete mulheres entre 20 e 65 anos, principalmente entre a 5ª e 6ª décadas de vida. Geralmente são assintomáticos, mas podem se manifestar com distensão abdominal, sintomas urinários, dor abdominal e torção de ovário.

O tratamento da torção ovariana é cirúrgico. O diagnóstico precoce favorece a preservação do ovário em mulheres jovens antes que trombos vasculares ou danos irreversíveis ao parênquima ocorram. A salpingooforectomia é o tratamento de escolha nas mulheres mais velhas.

Os sintomas clínicos da torção ovariana também ocorrem em outras condições como apendicite aguda, doença inflamatória pélvica aguda, gestação ectópica tubária e corpo lúteo hemorrágico. Exames laboratoriais e de imagem como a tomografia computadorizada e a ultrassonografia pélvica e/ou transvaginal auxiliam no diagnóstico definitivo.

 

Referências

Chang, H.C., Bhatt, S., Dogra, V.S. Pearls and pitfalls in diagnosis of ovarian torsion. (A review Publication of the Radiological Society of North America, Inc.)Radiographics. Sep-Oct 2008;28:1355–1368

Majdouline Boujoual, Ihsan Hakimi, Jaouad Kouach, Mohamed Oukabli, Driss Rahali Moussaoui, Mohammed Dehayni. Large twisted ovarian fibroma in menopausal women: a case repor. The Pan African Medical Journal. 2015;20:322. 

. Fibroma ovariano torcido. Dr.Pixel. Campinas: Dr Pixel, 2016. Disponível em: https://drpixel.fcm.unicamp.br/pt-br/discussao-de-casos/fibroma-ovariano-torcido. Acesso em: 29 Mar. 2024