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Liga do Trauma da Unicamp estimula formação de cirurgiões gerais

Pesquisa aponta que de 2.011 médicos formados na FCM de 1995 a 2014, 363 foram ligantes

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Diariamente, mais de 14 mil pessoas perdem suas vidas em decorrência de trauma. Estima-se que no mundo, anualmente, 9% da mortalidade ocorre em decorrência das causas externas, representando aproximadamente cinco milhões de pessoas, principalmente os jovens. Os traumas em decorrência de trânsito, agressões físicas, afogamentos, queimaduras, quedas, intoxicações e os atentados terroristas estão entre as causas mais comuns.

“Trauma é a terceira causa de óbito no país. As causas externas correspondem a aproximadamente 12% do total de mortes. Apesar desses números, tanto a prevenção quanto o tratamento ao trauma continuam sendo negligenciados no Brasil”, aponta o médico Romeo Lages na dissertação de mestrado Influência da participação na Liga do Trauma na especialização em cirurgia geral entre os formandos em medicina na Unicamp, recém-defendida na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp.

Foto: Antonio Scarpinetti
O médico Romeo Lages: “O que atrai o jovem acadêmico, entre outras coisas, são as Ligas Acadêmicas”

De acordo com a pesquisa, nos últimos anos, cada vez menos, a especialidade de cirurgia geral e a área de atuação em cirurgia do trauma têm sido atraentes para os estudantes de graduação em medicina. Em 2015, a procura dos médicos recém-formados pela área de cirurgia geral na Unicamp foi de 26,8 candidatos por vaga. Ao passarem para as áreas específicas da cirurgia, a relação foi de 2,5 candidatos por vaga para a atuação em cirurgia do trauma, enquanto que para especialidades como urologia, cirurgia plástica e cirurgia vascular, a relação de candidatos por vaga foi de 9, 7 e 19,5, respectivamente.

“Constata-se que há uma alta procura por outras especialidades cirúrgicas, o que tem promovido um declínio no número de residentes que optam por permanecer na cirurgia geral e de urgência. Na década de 1980, esse índice era de 20% e, atualmente, varia entre 7,5% e 15%. Programas para atrair mais acadêmicos e residentes para a especialidade de cirurgia geral devem ser estimulados. E o que atrai o jovem acadêmico, entre outras coisas, são as Ligas Acadêmicas”, afirma Romeo.


Liga do Trauma da Unicamp

As Ligas Acadêmicas são constituídas por grupos de estudantes de diferentes anos da graduação médica. Os ligantes, como são chamados os integrantes de qualquer Liga, aprofundam o conhecimento teórico e prático sob a supervisão de profissionais da área, com foco na educação, pesquisa e extensão.

A Liga do Trauma da Unicamp (LTU) surgiu em 1992 com o objetivo de estimular a aquisição de conhecimento extracurricular e se tornou referência no Brasil. A primeira turma se formou em 1995. O grande incentivador foi o médico Mario Mantovani, que implantou a disciplina de cirurgia do trauma na FCM em 1987.

A pesquisa, conduzida por Romeo, com a orientação do professor e coordenador da disciplina de Cirurgia do Trauma da FCM, Gustavo Pereira Fraga, fez um levantamento de quantos médicos se formaram de 1995 a 2014 e quantos frequentaram, regularmente, a Liga do Trauma da Unicamp. De acordo com os dados da pesquisa, nesse período a FCM formou 2.011 médicos, sendo que 12,5% fizeram residência médica em cirurgia geral.

Do total geral de médicos formados nesse período pela Unicamp, 363 frequentaram a Liga do Trauma durante a graduação do curso. Desse número, 276 responderam ao questionário da pesquisa e 268 afirmaram que fizeram residência médica e, entre os que fizeram residência médica, 36,1% disseram que escolheram cirurgia geral a partir de experiências adquiridas como ligantes do Trauma.

Foto: Antonio Scarpinetti
O professor Gustavo Pereira Fraga, orientador da dissertação e coordenador da disciplina de Cirurgia do Trauma

“Observamos de 36,1% dos alunos que participaram da Liga do Trauma acabaram optando pela especialidade cirurgia geral. Isso é três vezes mais que o número total de médicos formados que escolheram a mesma especialidade médica. Já no grupo de cirurgiões, 76% sabiam que queriam fazer cirurgia e a Liga do Trauma confirmou e até reforçou essa tendência”, diz Romeo.

A pesquisa também mostrou que 182 dos egressos tiveram alguma produção científica, sendo 36,3% relacionadas à Liga do Trauma. Além disso, 78 alunos fizeram pós-graduação, sendo 71,8% no mestrado e 43,6% no doutorado.

De acordo com Romeo, geralmente quando um estudante de medicina se forma, os primeiros locais onde vai trabalhar são o Pronto-Socorro, o Pronto-Atendimento, o SAMU, Unidades de Terapia Intensiva (UTI), entre outros setores de urgência. Os jovens médicos sentem a necessidade de estar treinados e bem formados para atender os pacientes politraumatizados.

“Por isso, a Liga do Trauma é tão atraente aos olhos dos estudantes, mas ela não pode ser um modelo substitutivo de ensino. O dever da formação é da escola médica. Não podemos seguir pelo currículo paralelo. Entretanto, quando bem supervisionada por docentes, como é o caso da Liga do Trauma da Unicamp, ela tem o seu poder de influência, conforme mostramos na pesquisa”, pondera Romeo.

Em 2017, a Liga do Trauma da Unicamp comemora 25 anos de fundação. No mês de maio, durante o XIX Congresso Brasileiro das Ligas do Trauma (CoLT), o 4th World Society of Emergency Surgery (WSES) Congress e a Intergrastro&Trauma que acontecem em Campinas, a Liga do Trauma fará um jantar especial e pretende reunir os ex-ligantes da Unicamp.

 

Imagem de capa JU-online
Fotos: Antonio Scarpinetti

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