Uso de anticorpo aumenta tempo de vida de pacientes com câncer de mama apesar de custos elevados, aponta pesquisa da Unicamp

Pesquisadores da Unicamp realizaram uma revisão sistemática com metanálise de 864 pacientes incluídos em quatro ensaios clínicos randomizados, que avaliaram o tratamento de quimioterapia com ou sem trastuzumabe em pacientes com câncer de mama avançado. Estima-se que no Brasil, aproximadamente 9.800 pacientes façam tratamento paliativo contra o câncer de mama pelo SUS e que, desse total, cerca de 2.500 sejam elegíveis para fazer uso combinado de quimioterapia com trastuzumabe.

O trastuzumabe é um anticorpo monoclonal humanizado recombinante, recomendado por várias diretrizes internacionais para o tratamento de um subtipo específico de câncer de mama denominado HER2 positivo, e já está aprovado pelas principais agências reguladoras em todo o mundo. Em 2013, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec) do Sistema Único de Saúde (SUS) incorporou o trastuzumabe só para o tratamento adjuvante em pacientes com a doença em fase inicial, e não para a doença na fase disseminada, denominada metastática.

“As Secretarias de Saúde Estaduais vêm notificando uma elevação progressiva nas demandas judiciais para o grupo de pacientes que apresenta câncer de mama metastático e que são impossibilitados de acessar o medicamento pelo Ministério da Saúde. Segundo a Conitec, há inconsistência nos dados de eficácia disponíveis na literatura que sustentem a decisão de disponibilizar a droga para o tratamento dessas pacientes. Nosso objetivo, nesta pesquisa, foi analisar a eficácia da combinação de trastuzumabe à quimioterapia de primeira linha em pacientes com câncer de mama HER2 positivo avançado, bem como avaliar o impacto econômico da incorporação desta droga no SUS”, disse a responsável pela pesquisa Adriana Camargo de Carvalho, do Centro de Evidências em Oncologia (Cevon) da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp.

A pesquisa “Clinical and economical evaluation of Trastuzumab for metastatic breast cancer in Brazil: a public health system perspective” ganhou o prêmio de melhor pôster no 11º Congresso Mundial da Sociedade Internacional de Avaliação de Tecnologias em Saúde (HTAi em inglês), que ocorreu entre os dias 14 e 18 de junho de 2014, em Washington, Estados Unidos. A orientação da pesquisa é do médico oncologista do Hospital das Clínicas da Unicamp André Deeke Sasse. A co-autoria é da professora da FCM da Unicamp Carmen Silvia Passos Lima e do oncologista João Paulo da Silveira Nogueira Lima.

Um estudo de custo-efetividade foi desenvolvido através de um modelo estatístico de Markov que avaliou custos e desfechos da doença neste grupo de pacientes. O impacto orçamentário da incorporação do trastuzumabe ao SUS foi estimado utilizando dados epidemiológicos e econômicos do SUS.

De acordo com a pesquisa, o ressarcimento total do SUS para o tratamento de pacientes em uso exclusivo de quimioterapia com paclitaxel, atualmente, é de R$ 37.941,00. Com a combinação do trastuzumabe à quimioterapia, o custo adicional total estimado pelos pesquisadores da Unicamp é de aproximadamente R$ 42 mil por paciente, o que elevaria os custos individuais totais para cerca de R$ 80 mil.

Quanto à eficácia, este modelo econômico demonstrou um ganho de sobrevida de pouco mais de cinco meses, em média, com a combinação dos dois tratamentos. Estimou-se, ainda, que a incorporação deste anticorpo para o tratamento no contexto paliativo de primeira linha no SUS, geraria um impacto de mais de R$ 63 milhões no orçamento da saúde, já no primeiro ano.

“Nós encontramos evidências na literatura que sustentam a hipótese de que a adição de trastuzumabe à quimioterapia em pacientes com câncer de mama do subtipo HER2 avançado prolonga significativamente o tempo de vida dessas pacientes. Porém, devido aos preços ainda elevados da medicação, a Relação de Custo-Efetividade Incremental (variável analisada em um estudo como esse), ainda encontra-se acima do limiar recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para a incorporação de novos medicamentos em países como o Brasil. Este estudo já está sendo analisado pela Conitec-MS e acreditamos que, se uma negociação de preços for feita junto à indústria farmacêutica, esses resultados podem ser mais adequados à realidade nacional e favorecer 2.500 pacientes com câncer de mama atendidas pelo SUS”, disse Adriana.

Sobre o 11º Congresso Mundial da Sociedade Internacional de Avaliação de Tecnologias em Saúde

O HTAi é uma sociedade científica internacional, composta por 59 países, que atua como um fórum de colaboração e compartilhamento de informações e experiências na área de avaliação de tecnologias de saúde. Entre os participantes do fórum estão pesquisadores, agências de avaliação de tecnologias, gestores, acadêmicos e profissionais de saúde.

O tema do encontro este ano foi a melhora da assistência centrada no paciente em uma era de incerteza econômica. A delegação brasileira contou com  85 participantes do Ministério da Saúde, ANVISA, Universidades e profissionais da área. O encontro anual do HTAi é o principal fórum mundial que discute bases conceituais, métodos e aplicações da Avaliação de Tecnologias em Saúde como forma de ampliar a qualidade e acesso a tecnologias efetivas, seguras e eficientes.