Estudo de bactéria revela
patógenos no sangue de doador

24/02/2015 - 13:28

Pesquisadores da Unicamp acabam de publicar trabalho de alto impacto no PLos Neglicted Tropical Diseases, da Public Library of Science, periódico dedicado a desvendar doenças tropicais negligenciadas. O estudo – “Bacteremia por Bartonella spp. em doadores de sangue de Campinas, SP” – aborda as bartonelas, bacilos gram-negativos que infectam hemácias e células endoteliais (que respondem pela formação de novos vasos sanguíneos e que reparam os danificados), podendo causar infecção crônica ou fatal. Estas bactérias são agentes pouco conhecidos ou estudados. Segundo o médico da Unicamp Paulo Velho, coordenador do trabalho, a investigação revelou presença de patógenos no sangue de doadores assintomáticos que não estão sendo rastreados no sangue doado e que podem ser responsáveis por doenças ainda não diagnosticadas em pacientes imunodeficientes. 

A publicação, que saiu no mês de janeiro, é de autoria dos pesquisadores da Unicamp Luiza Helena U. Pitassi, Marina Rovani Drummond, Bruno Grosselli Lania, Rovilson Gilioli, Maria Lourdes Barjas-Castro e Paulo Eduardo Neves Ferreira Velho, e por pesquisadores de outras instituições, a maioria norte-americanas, como Silvia Colombo, Pedro Paulo Vissotto de P. Diniz, Diana Gerardi Scorpio, Stanley Sowy, Edward Breitschwerdt e William Nicholson. 

O gênero Bartonella, explica o médico, constitui um grupo de bactérias que tem sido associado a vários tipos de doenças graves. As bartoneloses humanas mais conhecidas são a peruana, febre das trincheiras, doença da arranhadura do gato, angiomatose bacilar e endocardite. 

Como existem espécies de Bartonella intraeritrocitárias capazes de ocasionar infecção persistente e assintomática em humanos, esse grupo de pesquisadores procurou avaliar a prevalência da exposição às bartonelas e a infecção por estas bactérias em doadores de sangue. Foram pesquisados 500 doadores da região de Campinas e adotadas como metodologias a sorologia, culturas líquida e sólida, reações moleculares e sequenciamento genético, para identificação dos patógenos. 

Os anticorpos contra Bartonella henselae e B. quintana foram detectados em 16,2% e 32% dos doadores respectivamente. O DNA de bartonela foi demonstrado em 3,2%, e em 1,2% houve isolamento da bactéria do sangue doado. 

A transmissão de infecção por acidente percutâneo, com agulhas que continham sangue contaminado, já havia sido relatada na literatura médica e o mesmo grupo havia demonstrado a capacidade da Bartonella henselae sobreviver em uma unidade de concentrado de hemácias armazenada a 4° C durante 35 dias. “Os receptores de transfusão de sangue muitas vezes são ou podem se tornar imunodeficientes, com o risco de desenvolver formas graves de bartonelose”, informa Paulo Velho. 

Os resultados apresentados na publicação apontam para a necessidade de uma reavaliação por autoridades da área de Saúde Pública acerca dos riscos e do impacto da transmissão das bartonelas por meio de transfusões sanguíneas, especialmente para pacientes imunodeficientes. “Esforços devem ser concentrados para melhorarem os métodos diagnósticos e para proteger os receptores de transfusão de sangue”, afirma o médico Paulo Velho, que é professor da Disciplina de Dermatologia da Unicamp.