Departamento de Tocoginecologia comemora 50 anos com descerramento de placa e relatos históricos

Enviado por Edimilson Montalti em Ter, 06/12/2016 - 08:40

O Departamento de Tocoginecologia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp comemorou na sexta-feira (2) seu Jubileu de Ouro. A cerimônia dos 50 anos aconteceu no anfiteatro do Hospital de Mulher Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti (Caism) e reuniu novos e antigos professores, chefes do Departamento, alunos, médicos-residentes, funcionários e autoridades da Unicamp. A abertura do evento foi conduzida pela atual chefe do Departamento de Tocoginecologia, Eliana Martorano Amaral.

“É importante recontar a história do Departamento. Para quem está chegando, parece um flash, mas nesse meio século de existência, muitos foram os profissionais, docentes, médicos, colaboradores, alunos e residentes que ajudaram a construir essa trajetória. O sentimento é de que o Departamento é uma casa para onde as pessoas vão e voltam. O evento de hoje é uma oportunidade de reencontro, troca de experiências e de confraternização”, revelou Eliana Amaral em sua fala de boas-vindas.

O coordenador geral da Unicamp, Álvaro Penteado Crosta, disse que a história do Departamento de Tocoginecologia (DTG) se mistura à história da Unicamp e por qualquer balanço que se faça, ambas são histórias de muito sucesso. Crosta destacou o esforço da Unicamp em recompor o quadro de docentes e pontuou que em três anos e meio a Universidade contratou 450 novos docentes, sendo 58 para a FCM e 8 para o DTG. “Tenho certeza que o DTG é um belíssimo exemplo desse trabalho acadêmico desenvolvido com muito empenho, competência e dedicação”, disse Crosta.

O diretor da FCM, Ivan Felizardo Contrera Toro, salientou o papel que o DTG exerce na faculdade nas áreas de graduação, pós-graduação, pesquisa, assistencial e administrativa. Além disso, Toro disse que a GO – sigla pela qual a Tocoginecologia é conhecida ao englobar as áreas de Ginecologia e Obstetrícia – lhe deu experiências práticas como cirurgião no início da carreira, além de grandes amigos. “Esse primeiro meio século é somente a gestação de um Departamento com futuro muito grandioso”, comentou Toro.

Muitos perguntam quem veio primeiro, o DGT ou o Hospital de Mulher Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti, mais conhecido pelo nome de Caism. Segundo Luis Otávio Zanatta Sarian, superintendente do Caism, o hospital da mulher é produto da capacidade empreendedora do DTG. “O Caism é a casa do DTG e continuará assim. É uma demonstração de agregar ideias consistentes que se tornam realidade no Brasil”, revelou Sarian.

Histórias para contar

Coube aos professores aposentados João Luis de Carvalho Pinto e Silva, Luis Guillermo Bahamondes e Gustavo Antonio de Souza relatarem suas trajetórias dentro do Departamento de Tocoginecologia da FCM a partir de suas especialidades. Antecipando os depoimentos, Eliana Amaral contextualizou um pouco da história com dados relativos ao Departamento. Nesses 50 anos já passaram pelo DTG 80 docentes, 420 médicos-residentes, mais de 5 mil alunos, dois cursos de pós-graduação com nota 7 da Capes, 823 teses defendidas e foram produzidas 7.529 publicações.

“O Caism foi eleito a primeira maternidade do Estado de São Paulo pela opinião das usuárias. Manter o nível técnico sem abrir mão do atendimento humanístico é a característica do Departamento. Nosso papel é formar pessoas e produzir ciência para melhorar a saúde”, revelou Eliana.

“Para Pinotti, um bom serviço é o que faz um bom Departamento”, disse o obstetra João Luis de Carvalho Pinto e Silva ao iniciar sua fala.

De acordo com João Luis, aluno da segunda turma do curso de Medicina da FCM, o Departamento de Tocoginecologia foi o pioneiro em diversos programas e projetos na área de obstetrícia, dentre eles o programa de incentivo de cobertura de pré-natal e parto, a atenção especial a grupos de risco de doenças prevalentes como hipertensão, diabetes, endocrinopatias, doenças infecciosas, prematuridade e perdas gestacionais.

“Fomos pioneiros na aplicação de anestesia para reduzir o sofrimento do parto, sempre que possível. A emoção é grande em poder estar presente no Departamento comemorando esse modelo de atenção à saúde mulher que se diferenciou ao longo dos anos e tem sido objeto de outros serviços no Brasil e América Latina”, disse João Luis.

Na área de ginecologia, Luis Guilhermo Bahamondes destacou o pioneirismo do DGT em pesquisas nas áreas de reprodução assistida e contracepção. Segundo Bahamondes, alguns estudos realizados no Departamento fizeram o Ministério da Saúde “acordar” para a necessidade de discutir a fertilização assistida para mulheres carentes. “O Departamento se envolveu desde o início no desenvolvimento de implantes contraceptivos. Isso deu lugar a um estudo multicêntrico em parceria com Organização Mundial de Saúde”, revelou Bahamondes.

Compartilhando uma de suas memórias mais afetivas, Bahamondes disse que chegou no Departamento em 1978. Quem o levou de carro para antiga Santa Casa de Misericórdia foi João Luis. Ao cruzarem o prédio da Prefeitura de Campinas – todo em mármore branco – Bahamondes demonstrou seu contentamento ao achar que ali ficava o Departamento de Tocoginecologia onde iria trabalhar, ao que João Luis, imediatamente, disse que a Santa Casa ficava atrás.

“Quando eu vi o hospital, eu queria sair correndo e voltar para o México”, disse rindo Bahamondes. “Espero que esses 50 anos sejam apenas um prólogo dessa história”, comentou.

Gustavo Antonio de Souza, primeiro médico-residente contratado do Departamento, disse que na verdade a entrada para quem chegava ao Departamento ficava no porão da Santa Casa. “Cheguei no Departamento em 2 de janeiro de 1968. Só não fui aluno, todos os demais cargos eu ocupei”, disse.

Sobre sua chegada, Gustavo contou, com seu jeito peculiar, que se encantou com uma palestra de “um tal grupo da Faculdade de Medicina de Campinas” sobre Tocoginecologia quando cursava Medicina da Universidade Federal do Paraná. Entre os palestrantes, Bussâmara Neme e José Aristodemo Pinotti. Decidiu vir de trem para Campinas e tentar a vaga de médico-residente.

“Quando cheguei, os alunos estavam em greve, acampados em barracas, onde hoje é o estacionamento do Giovanetti 5. O prédio era horroroso. Quase fui embora. Fiz a entrevista, fui aceito e já no primeiro dia peguei plantão. Fazíamos  de dois a três partos por dia. Dei aula até a turma 51 do curso de Medicina. Agradeço estar vivo para ver toda essa evolução do Departamento. Valeu a pena”, completou Gustavo.

Após os depoimentos, foi descerrada a placa alusiva aos 50 anos do Departamento de Tocoginecologia. À noite, na Estação Guanabara, aconteceu um jantar em celebração ao Jubileu de Ouro.

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