Programa de pós-graduação em gerontologia da Unicamp completa duas décadas de criação

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Público durante o evento no Centro de Convenções da Unicamp
Público durante o evento no Centro de Convenções da Unicamp

O programa de pós-graduação em Gerontologia da Unicamp, primeiro no Brasil nesses moldes, comemorou na manhã desta quarta-feira (13) o marco de duas décadas de existência durante o X Seminário de Pesquisa em Gerontologia e Geriatria, realizado no Centro de Convenções da Unicamp. O evento reuniu pesquisadores, docentes, alunos, funcionários e participantes do programa UniversIDADE.

O reitor Marcelo Knobel esteve no evento e integrou a mesa de abertura do seminário juntamente com o pró-reitor de pesquisa Munir Skaf, o diretor associado da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) Roberto Teixeira Mendes e o professor André Fattori, um dos organizadores do evento. 

A educadora Anita Liberalesso, presente na cerimônia, foi uma das criadoras do programa de pós-graduação em Gerontologia, ao lado de um grupo de professores de vários departamentos que estudavam velhice e envelhecimento na Universidade.

André Fattori afirmou que esse programa de pós-graduação começou discretamente suas atividades, mas que hoje está disseminado no Brasil. A iniciativa já formou 185 pesquisadores, sendo 170 mestres e 15 doutores. Roberto Teixeira Mendes recordou que, originariamente, esse programa surgiu na Faculdade de Educação (FE) e que depois migrou para a FCM. "Admiro o esforço dos pesquisadores em manter um atendimento de qualidade e dar suporte ao ensino e à pesquisa. Vejo que a formação deve estar no centro do cuidado. Diagnóstico e tratamento são apenas uma parte”, defendeu.

O psiquiatra da FCM, Paulo Dalgalarrondo
O psiquiatra da FCM Paulo Dalgalarrondo

O pró-reitor de pesquisa reforçou que esse trabalho é de suma importância à medida que a expectativa de vida da população brasileira aumenta. “São novas necessidades do ponto de vista emocional, biológico, psicológico e outros. São também novas linhas de pesquisa e novos métodos que vão surgindo”, frisou. O reitor Marcelo Knobel parabenizou o programa, enfatizando o seu pioneirismo que se reflete principalmente na pesquisa. Realçou também sua atuação multidisciplinar, ao trazer questões compatíveis com o envelhecimento populacional. "Esse assunto nos preocupa e demanda políticas públicas que devem levar em conta um melhor cuidado a essa parcela da população.”

A professora Flávia Arbex Borim, da organização do evento, assinalou que há atualmente várias facetas a serem abordadas sobre o envelhecimento: biológica, psicossocial, atividades de lazer, estratégias de enfrentamento, resiliência, qualidade de vida. "Temos preocupação com esse grupo etário que envelhece e com os longevos, com 80 anos ou mais, hoje mais frequentes no país", sublinhou.


Arte
O psiquiatra da FCM Paulo Dalgalarrondo, professor titular de Psicopatologia, apresentou a primeira palestra do seminário, falando sobre “Visões do tempo: psicologia, ciência e arte”. Destacou cinco pintores consagrados mundialmente: Vincent van Gogh (1853-1890), Francisco de Goya (1746-1828), Edvard Munch (1863-1944), Frida Kahlo (1907-1954) e Georgia Totto O’Keeffe (1887-1986), que mudaram o seu modo de ser ao passarem por adversidades ou viverem transtornos mentais, o que pode ter tido influência em suas pinturas. Segundo Dalgalarrondo, esses casos se inserem no campo da patografia, um estudo que visa apresentar elementos psicopatológicos interessantes e o seu significado para a obra de artistas, pintores. "Esses elementos são ricos para pensar o processo de envelhecimento", expôs o médico. Veja, a seguir, trechos da fala de Dalgalarrondo:
 

Pinturas de Frida Kahlo e Francisco de Goya
Pinturas de Frida Kahlo e de Francisco de Goya

Frida Kahlo morreu aos 47 anos (1907). Aos três anos teve uma poliomielite. Foi apelidada de pé-de-pau. Mais tarde, sofreu um acidente na linha do trem, ficando entre a vida e a morte. Teve que fazer diversas cirurgias. Pintou a transformação do seu corpo destroçado. "Casou-se, teve uma vida tumultuada e separou-se. Era uma mulher linda. O pai era alemão e, a mãe, índia mexicana. A vida toda se dedicou a fazer uma síntese dessas duas culturas em suas pinturas. No final da vida, teve uma pneumonia, mas não se sabe ao certo a causa de sua morte, visto que, próximo do seu desfecho, foram encontrados vidros de medicamentos vazios ao lado do seu corpo", contou Dalgalarrondo.

Goya morreu aos 82 anos. Seu exemplo ensina como um evento pode transformar uma vida. Ele era um pintor da corte. Suas pinturas eram alegres. Refletiam a sociedade espanhola do século 18. Aos 46 anos, teve uma doença grave. Sobreviveu com sequelas. Ficou surdo e com a visão prejudicada. Por fatores biológicos ou existenciais, sua personalidade mudou. Passou a fazer críticas à sociedade, denunciando os horrores da guerra. Desencantou-se com o Ocidente. A sua pintura, antes alegre, tornou-se sombria. Na fase final de vida, solitário e atormentado, pintava a loucura e o terror. "Foi uma pintura talvez mais rica. A doença que o tornou amargo o tornou visionário", reforçou o psiquiatra. 
 

Pinturas de Georgia O'Keeffe e Vincent van Gogh
Pinturas de Georgia O'Keeffe e Vincent van Gogh

Van Gogh morreu aos 37 anos. "Era uma personalidade desesperada, mas com muita força. Não conseguiu entender esse mundo e cometeu o suicídio. Não conseguiu comercializar seus quadros na época, exceto um para seu irmão. Hoje seus quadros são caríssimos. Chegou a cortar a própria orelha e depois pintou seu sofrimento. Seus retratos eram de tristeza, pesar e melancolia", relatou.

Munch morreu aos 51 anos. Pintor norueguês, autor de O grito, era uma personalidade desesperada. O grito era uma marca de profunda angústia e inconformidade com a vida moderna. Munch presenciou o falecimento de sua mãe, quando tinha três anos. Estava sozinho com ela. O pai era médico e estava em atendimento naquele momento. Esse episódio foi um trauma para o pintor. Sua irmã mais velha assumiu seus cuidados. Quando Munch tinha 15 anos, ela também morreu. Sua relação com as mulheres passou a ser tumultuada. Sofreu um surto psicótico e foi internado numa clínica. Nos últimos anos de sua vida, chamava seus quadros de filhos. Tornou-se mais sereno, ganhou dinheiro com a pintura e ajudou outros pintores.  

Pintura de Munch - O Grito
Pintura de Munch - O Grito - marca de profunda angústia e inconformidade com a vida moderna

Georgia O’Keeffe, mãe da pintura moderna norte-americana, nasceu numa fazenda. Pintava flores. Alguns críticos diziam que sua pintura era erótica. Georgia negou esse rótulo. Mudou-se para Nova Iorque. Foi estudar. Acabou casando-se com o fotógrafo Alfred Stieglitz. Serviu de modelo para algumas fotografias nuas, rompendo com sua educação conservadora. Outros críticos diziam que sua pintura era feminista. Ela também negou esse rótulo. "Quando envelheceu, ficou viúva e voltou às suas origens, passando a viver em um sítio no Novo México, onde representava imagens do deserto. Começou a pintar carcaças de bois, chifres. Perdeu a visão. Suas imagens eram agrestes e retorcidas. Não se deprimiu. Aprendeu a fazer esculturas. Ela se reinventou na arte e conseguiu superar as dificuldades decorrentes do envelhecimento”, lembrou o psiquiatra.

Professora Flávia Arbex Borim, uma das organizadoras do evento
Professor André Fattori, da FCM
Mesa de abertura do X Seminário de Gerontologia e Geriatria da Unicamp
Público durante o evento no Centro de Convenções da Unicamp
A professora Anita Liberalesso, uma das criadoras do programa de gerontologia da FCM

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