Boletim FCM

 

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ISSN: 2595-9050
 

A nova Pediatria e os desafios do século XXI

Data de publicação
08 out 2019

Atualmente, apenas no Brasil, são aproximadamente 60 milhões de crianças e adolescentes até 19 anos. Portanto, a Pediatria do século XXI no nosso país suscita grandes desafios para todos nós, pediatras, que temos como objetivo a inclusão, o respeito, a educação, as boas condições de saúde e a preparação de todas essas crianças para que tenham uma sociedade digna.

No processo de crescimento e desenvolvimento, duas faixas etárias devem ser destacadas: os primeiros mil dias e a adolescência. Quanto menor a criança, maior sua situação de vulnerabilidade e maior seu tempo em busca da própria autonomia. Nos primeiros mil dias, a nutrição adequada, os estímulos apropriados e o ambiente propício e acolhedor são fundamentais para um futuro saudável e produtivo. Por outro lado, a adolescência se caracteriza por intensas transformações físicas e comportamentais, tornando-os alvos da própria sexualidade, de drogas lícitas e ilícitas.

A globalização, a evolução tecnológica, os aplicativos e o acesso precoce às mídias sociais promoveram para as crianças e aos adolescentes, alterações no estilo de vida desde as novas concepções de família, a definição de limites, a função da escola, os hábitos alimentares, as brincadeiras, o comportamento do sono e a quantidade de informações alterando o perfil epidemiológico das patologias nessa faixa etária.

Por outro lado, para os pediatras surgiram novos desenhos de atendimento clínico à distância, tanto por troca de mensagens como por teleconferência, afetando a relação médico-paciente e modificando a ética do sigilo médico. Também foi imperativo a ampliação do tempo de formação para o pediatra geral e o número de especialidades pediátricas.

Segundo Nelson Mandela, o verdadeiro caráter de uma sociedade é revelado pela forma como ela trata suas crianças

A pediatria de hoje necessita, concomitantemente, cuidar de doenças prevalentes em países desenvolvidos e em desenvolvimento, incluindo a desnutrição e o excesso de peso com suas complicações precoces antes caracterizadas como doenças crônicas próprias do adulto. Outros enfoques seriam as infecções respiratórias e as arboviroses, sem esquecer do retorno de doenças consideradas controladas, como o sarampo, a prevenção de acidentes, as doenças psiquiátricas e o aumento do número de suicídios entre crianças e adolescentes.

Os avanços da medicina também propiciaram o aumento da expectativa de vida de recém-nascidos de baixo peso ou com malformações congênitas, crianças com doenças raras e com necessidades levando a novos desafios. Entre esses, o paradigma de qual seria a idade limite de atendimento pelo pediatra.

Em paralelo, outros dois desafios: o primeiro, quando e como utilizar protocolos de investigação e testes genéticos com o objetivo da realização de diagnósticos precoces, em geral invasivos e de alto custo, mas que propiciam melhor prognóstico. O segundo, seria o excesso de diagnósticos que podem gerar tratamentos desnecessários, muitas vezes influenciados pela mídia e pela indústria farmacêutica. 

Na nossa universidade, os profissionais da área da saúde são constantemente estimulados a participar de um conjunto de atividades: a assistência, o ensino e a pesquisa, sempre em busca do melhor conteúdo e da melhor ferramenta didática para essa nova geração. Portanto, precisamos nos capacitar para ensinar, pesquisar, prevenir, diagnosticar, tratar, acompanhar e incluir todas as nossas crianças, com responsabilidade, amor e dedicação.


Mariana Porto Zambon é professora e chefe do Departamento de Pediatria da FCM, Unicamp

Foto de capa: Mário Moreira - FCM/Unicamp