Boletim FCM

 

FCMunicamp

 


ISSN: 2595-9050
 

Trabalho e saúde, que arte você exerce?

Data de publicação
12 nov 2018

Abro este editorial convidando-os a conhecer um pouco a nossa Área de Saúde do Trabalhador (AST) do Departamento de Saúde Coletiva (DSC) da Faculdade de Ciências Médicas (FCM). Após formar-me em 1983, nessa Faculdade, e fazer residência médica em Saúde Coletiva, com concentração em medicina do trabalho, fui contratado como professor em 1986.

A Área de Saúde do Trabalhador, criada em 1978 pelo professor René Mendes, foi pioneira no ensino de medicina do trabalho na graduação do curso de Medicina, com a criação do ambulatório de doenças do trabalho, desenvolvimento de pesquisas e criação da residência de medicina do trabalho no país.

Para ilustrar melhor essa história, que tem acompanhado a evolução e as mudanças do mundo do trabalho nos últimos 40 anos, foram convidados alguns profissionais para compor esta edição do Boletim da FCM: Márcia Bandini, docente mais recente da equipe; René Mendes; Juliana Vedovato, R2 em medicina do trabalho e Rubens Bedrikow, docente da área de Saúde da Família do Departamento de Saúde Coletiva.

Na entrevista, a professora Márcia Bandini discorre sobre as contradições do Brasil em relação à coexistência de agravos novos e antigos acometendo a saúde dos trabalhadores, as doenças profissionais, como a silicose, às doenças do trabalho, como as LER/DORT, os transtornos mentais e os acidentes de trabalho propriamente ditos.

Com a evolução do trabalho na contemporaneidade são destacadas algumas pesquisas: a primeira aponta o adoecimento pela Síndrome de Burnout da categoria de enfermagem do Hospital de Clínicas da Unicamp e de profissionais de saúde outro hospital infantil de Campinas; a segunda destaca a necessidade de aplicar instrumentos para o diagnóstico dos fatores psicossociais nas organizações, para fazer intervenções e prevenção dos transtornos mentais nos trabalhadores e a terceira pesquisa traz à luz os transtornos pós-traumáticos de bancários vítimas de sequestro.

Juliana, residente em medicina do trabalho, conta sobre suas mudanças na escolha da especialidade ao longo do seu curso de graduação na Unicamp, e, por fim, a escolha pela medicina do trabalho.

René Mendes faz uma resenha sobre o médico italiano Bernardino Ramazzini, considerado o “Pai da medicina do Trabalho”. Há mais de 300 anos, Ramazzini se interessou pelas condições de vida e trabalho dos trabalhadores de sua época, sendo ele quem introduziu na anamnese a pergunta: Que arte exerce? Que nos dias de hoje traduzimos em: O que você faz? ou Qual é a sua ocupação?.

Rubens Bedricow, filho do médico Bernardo Bredicow (importante protagonista da medicina do trabalho no nosso país), redigiu  uma prosa fictícia e bem humorada onde Ramazzini conversa com sua esposa sobre a origem de sua conhecida obra: “As Doenças dos Trabalhadores”.

Para finalizar, agradeço aos professores Ericson Bagatin, Valmir de Azevedo, Satoshi Kitamura, José Inácio de Oliveira e Manildo Fávero (em memória), que muito contribuíram ao fazerem parte dessa história de conquistas, a partir da qual a medicina do trabalho da AST é reconhecida no cenário nacional e internacional.

Boa leitura!


Sergio Roberto de Lucca é professor associado do Departamento de Saúde Coletiva da FCM e coordenador da AST e responsável pelo módulo de Saúde do trabalhador da disciplina MD 758 e da disciplina MD 945. Diretor da Divisão de Saúde Ocupacional da DGRH – Unicamp.

Foto de capa: Mário Moreira - FCM/Unicamp