Boletim FCM

 

FCMunicamp

 


ISSN: 2595-9050
 

A verdadeira pandemia

Data de publicação
19 mar 2020
Rubens Bendrikow
Em home office! O professor Rubens Bendrikow reflete sobre o contexto mundial de contenção à pandemia do coronavírus/Foto: Arquivo pessoal

Novos costumes, novos hábitos, novas imagens, novas formas de se relacionar. Enquanto o vírus com coroa atravessa fronteiras sem necessidade de passaporte ou vistos, a coroa britânica deixou o Palácio de Buckingham e alguns ricos brasileiros se "escondem" em suas fazendas no Tocantins, Minas Gerais, Mato Grosso, Bahia. Fronteiras fechadas aqui e acolá, somente para humanos.

O vírus já as cruzou. Vírus da globalização. O mundo "civilizado" busca apoio na Ciência. Cientistas desfilam seus saberes, suas crenças, seus egos, nas diversas telas que o mundo digital nos oferece. São tantos cientistas, tanta sapiência, tantas certezas! 

O órgão alvo principal seria o pulmão, vítima de processo inflamatório agressivo, violento, rápido, inicialmente acometendo o interstício, comprometendo a hematose, provocando falta de ar, e, em seguida, invasão de alvéolos. Mas isso ocorre apenas nos adoecidos.

O órgão que efetivamente se mostra fortemente acometido em quase toda a população é outro. É aquele que rege o comportamento humano.

É aquele que faz com que as tão corriqueiras disputas entre cientistas se escancare. É aquele que explicita o  poder a quem tem o saber científico. É aquele que dá esperança na Ciência.  

Professores universitários chegam a se digladiar na defesa de suas opiniões: manter aulas a distância ou não; suspender ou manter as reuniões; hangouts meet ou zoom. É aquele que faz com que a companheiro(a) permaneça diante do celular o dia todo, lendo, ouvindo, dando opiniões, orientações, pulando refeições, perdendo sono, abandonando as atividades físicas, ficando nervoso(a). É aquele que exacerba atitudes egoístas ou solidárias.  

Duas mães empurravam os carrinhos de bebê enquanto caminhavam na rua do bairro, proseando, provavelmente sobre a epidemia. Receberam olhares julgadores, críticos. Momento propício para meditar, refletir sobre valores e escolhas, sobre modos de viver.

A Rosa na Cúpula, o Pequeno Príncipe

Rubens Bedrikow é professor e coordenador da área de Saúde da Família do Departamento de Saúde Coletiva e membro do Grupo de Estudos de História das Ciências da Saúde da FCM

Se você escreve, mande seus poemas, contos ou crônicas para imprensa@fcm.unicamp.br