Preocupados com as dificuldades que muitos familiares e profissionais da saúde – em particular os agentes funerários – estão enfrentando após falecimento de pessoas por Covid-19, pesquisadores do Departamento de Saúde Coletiva, Centro Interdisciplinar de Bioética, Área de Saúde do Trabalhador e Disciplina de Medicina Legal da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp criaram o Grupo de Apoio Pós-Óbito (GAPO). O objetivo é identificar vulnerabilidades em relação aos eventos que ocorrem após o óbito do paciente, propondo ações para o enfrentamento dessa situação.

Sepultamento
Por medida de segurança, familiar observa enterro de ente querido, à distância/Foto: Sandro Pereira/Código19 Fotojornalismo

O início das atividades do GAPO aconteceu em parceria com a SETEC, órgão da Prefeitura Municipal de Campinas responsável pela prestação de serviços funerários no município.  De acordo com o professor de Medicina Legal do DSC da FCM e coordenador do GAPO, Paulo Newton Danzi Salvia, um dos primeiros desafios identificados pelo grupo foi o preparo das equipes profissionais para realizar a escuta nas autopsias verbais.

“Familiares que acabaram de perder seus entes queridos nos domicílios, sabedores dos procedimentos determinados pelo Estado para casos suspeitos ou confirmados de COVID-19, com lacração do corpo e sepultamento de forma rápida, frequentemente tendem a omitir informações a fim de evitar esses procedimentos”.

Tendo em vista essa realidade, o GAPO passou a oferecer capacitação técnica e discussão de casos aos agentes funerários, a fim de identificar e dirimir as dificuldades enfrentadas no dia a dia de trabalho, especialmente no contexto de uma pandemia nos moldes da Covid-19.

“Não raras vezes, culpam-se os agentes funerários pela lacração do corpo, quando a informação sobre a suspeita não aparece registrada na Declaração de Óbito. Muitos familiares buscam, desesperadamente, abrir o caixão para a última despedida. Caso isso aconteça, parentes e profissionais ficam expostos à contaminação”, comenta Paulo Newton.

Agente funerário veste EPI, em Manaus/Foto: Sandro Pereira/Códgio19 Fotojornalismo
Agente funerário veste Equipamento de Proteção Individual antes do sepultamento, em Manaus/Foto: Sandro Pereira/Código19 Fotojornalismo

A proposta do GAPO é trabalhar para que todos os profissionais de saúde da rede pública, incluindo Unidades Básicas de Saúde, Hospitais, Instituições de Longa Permanência e privada, informem de forma clara os procedimentos a serem adotados, a fim de proteger todos os profissionais envolvidos no manejo de corpos e aos próprios familiares e pessoas próximas ao falecido.  Os profissionais médicos, responsáveis legais pelo preenchimento da Declaração de Óbito, devem registrar Covid-19 no documento, no caso de suspeita ou confirmação da doença.

“Lacrar o corpo sem atestar a suspeita para Covid-19 na Declaração de Óbito, além de não garantir a proteção dos profissionais e dos familiares, contribui para a geração de informações contraditórias que ensejam diferentes interpretações e angústia nos familiares”, afirma o docente da FCM.

Outra dificuldade identificada pelo GAPO foi a necessidade de alterar a forma de lacrar os corpos. Para alinhar os procedimentos, o grupo publicou uma NOTA TÉCNICA recomendando o acondicionamento dos corpos em sacos plásticos transparentes para facilitar o reconhecimento visual do falecido, quando necessário, além de orientações aos entrevistadores de autopsias verbais. “A mudança operacional oferece mais segurança aos familiares no momento de certificar se o corpo sepultado é mesmo do ente familiar”, comenta Paulo Newton.

O GAPO também constatou a necessidade de valorizar a importância do trabalho invisível realizado pelos agentes funerários. “São profissionais da saúde que merecem todo o nosso respeito e consideração, estão expostos a riscos de contaminação e distúrbios psíquicos. É nossa responsabilidade social, enquanto universidade pública, oferecer todo o suporte necessário”, afirmou o coordenador do Grupo.

Texto: Camila Delmondes
Assessoria de Imprensa FCM