Pneumonia estafilocócica complicada por abscesso pulmonar em recém-nascido

Out de 2016.

Autora: Fernanda Meireles

Orientadora: Profa. Dra. Beatriz Regina Alvares                                                                                                  
                       

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História Clínica:

Recém-nascido (RN) de 36 semanas e 3 dias, sexo masculino, 2160 gramas, apresentou dificuldade respiratória ao nascer, necessitando de reanimação com pressão positiva através de tubo endotraqueal por um minuto até restabelecer respiração regular. Evoluiu com doença da Membrana Hialina (DMH), que necessitou de 53 horas de oxigenioterapia. No 6º dia de vida, o RN evoluiu com importante queda do estado geral acompanhada de celulite na região frontal, ocasionada por Staphilococcus aureus de acordo com cultura da lesão e hemocultura, A infecção foi tratada com antibioticoterapia  por 10 dias.

Após a suspensão do antibiótico o RN iniciou picos febris e no 24º dia de vida, foi realizado exame radiológico de tórax que demonstrou alterações compatíveis com pneumonia e abcessos pulmonares (figuras 1 A e 1 B ).

Após antibioticoterapia  por 21 dias, o RN evoluiu com melhora clínica, com regressão progressiva dos achados radiológicos (figura 3).

O RN evolui satisfatoriamente, recebendo alta hospitalar com 44 dias de vida, 2990 g e em aleitamento materno.

 

Imagens do Caso:

 

Figura 1 - Radiografia de tórax, evidenciando área de consolidação no lobo superior esquerdo, associada à imagem radiolucente, de configuração nodular. Outra imagem radioluscente de configuração nodular e halo denso é visibilizada no lobo inferior esquerdo.

 


 

Figura 2- Na radiografia efetuada com raios horizontais as imagens nodulares apresentam níveis hidroaéreos, sendo compatíveis com abcessos pulmonares. Abaixo da hemicúpula diafragmática esquerda observa-se a bolha gástrica distendida (achado frequente em recém-nascidos).

 


 

Figura 3 - Radiografia efetuada no 36º dia de vida demonstrou persistência do abcesso apenas no lobo superior esquerdo.

 


 

Discussão:

O Staphylococus aureus é um dos agentes etiológicos mais comuns de pneumonia neonatal. A infecção pode ser adquirida intra-útero, durante a passagem no canal de parto ou imediatamente após o nascimento. Nesse último caso, é possível adquirir a doença pela inoculação direta através das vias respiratórias  ou pela via hematogênica.

A origem da infecção pode ser inferida pelo tempo desde o parto até o diagnóstico. A pneumonia precoce aparece entre 3 a 7 dias de vida e está relacionada a infecção intra-útero ou durante o nascimento, enquanto a pneumonia tardia ocorre entre 4 e 28 dias de vida e sugere uma infecção pós natal.

O quadro clínico da pneumonia estafilocócica é inespecífico e inclui disfunção respiratória de variados graus, taquipneia, febre e distúrbios gastro-intestinais. Algumas condições especiais, como a doença da membrana hialina,  podem piorar a evolução da pneumonia em RNs.

De modo geral, as pneumonias neonatais costumam cursar com alvéolos distendidos e cheios de exsudato purulento, provocando um aumento do volume pulmonar. O aspecto radiológico das pneumonias neonatais tende a variar, e na fase inicial o exame pode ser normal ou apresentar um discreto infiltrado pulmonar. Entretanto, na pneumonia estafilocócica é frequente a rápida progressão das alterações radiológicas, caracterizando-se por consolidação lobar/multilobar, empiema, derrame pleural e pneumoatocele.

Derrames pleurais e pneumotoceles são complicações muito frequentes nas pneumonias estafilocócias em RNs (75% e 85% dos casos, respectivamente). O abscesso pulmonar é uma complicação menos frequente.

O abscesso é formado pela necrose do parênquima e rotura de consolidações lobares, que evoluem como  lesões cavitárias com conteúdo líquido. Aparecem noraio-x de tórax como imagens radiolucente com paredes espessas radiodensas. A localização mais frequente é  nos segmentos superiores dos lobos inferiores e nos segmentos posteriores dos lobos superiores,

 Um diagnóstico diferencial importante do abscesso pulmonar é a  pneumatocele, a qual é formada pela obstrução parcial das vias aéreas por exsutado intraluminal ou abscesso peri-brônquico, que ocasiona a retenção de ar alveolar e a formação de cisto com conteúdo gasoso. A principal característica radiológica da pneumatocele é a presença de paredes finas (<1 mm). Podem ser múltiplas, com tamanho variado.

O diagnóstico radiológico diferencial pode ser difícil. De forma geral, as pneumatoceles apresentam as paredes finas e as bordas bem definidas. Por outro lado os abscessos têm paredes mais espessas e a periferia menos definida devido a zona de inflamação periférica. Entretanto, quanto mais antigo e tratado o abscesso, mais finas e melhores definidas suas paredes se tornam. Além disso, níveis hidroaéreos podem estar presentes tanto no abscesso quanto na pneumatocele, mas são mais comum nos abscessos, já que a maioria das pneumatoceles não infectadas apresentam apenas ar no seu interior.

 


Fonte: Acervo didático da Seção de Imaginologia do CAISM/UNICAMP

Fotógrafo: Neder Piagentini do Prado: ASTEC/CAISM/UNICAMP.


 

Referências bibliográficas

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  3. Lucaya, J; Strife, JL. Pediatric Chest Imaging: Chest Imaging in Infants and Children, 2nd rev ed. Springer- Verlag Berling, Heidelberg. 2008.
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  5. Ranganathan, SC; Sonnappa, S. Pneumonia and other respiratory infections. Pediatr Clin North Am. Feb 2009; 56(1): 135-56.
  6. Swichuck LE. Diagnóstico por imagens em neonatologia e pediatria. 3 ed. Revinter, 1991.

 

. Pneumonia estafilocócica complicada por abscesso pulmonar em recém-nascido. Dr.Pixel. Campinas: Dr Pixel, 2016. Disponível em: https://drpixel.fcm.unicamp.br/conteudo/pneumonia-estafilococica-complicada-por-abscesso-pulmonar-em-recem-nascido. Acesso em: 29 Mar. 2024