FATORES SOCIODEMOGRÁFICOS, COMPORTAMENTAIS E ESTADO DE SAÚDE ASSOCIADOS À TENDINITE, LER E DORT EM ESTUDO DE BASE POPULACIONAL - ISACAMP 2014/2015
Saúde Coletiva
Introdução: As doenças musculoesqueléticas (DME) constituem uma das principais causas de incapacidades no mundo, além de levarem a alterações importantes no bem-estar geral e influenciarem negativamente a qualidade de vida. Dentre elas, as Lesões por Esforço Repetitivo (LER), as Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho (DORT) e as tendinites são categorias de DME que não são comumente alvo de estudos epidemiológicos, tornando escassas suas estimativas de prevalência. Objetivo geral: Estimar a prevalência de tendinite, LER e DORT na população urbana de Campinas/SP e verificar sua associação com fatores demográficos, socioeconômicos, de comportamentos e estado de saúde. Métodos: Trata-se de um estudo transversal, de base populacional, com amostra de 2.166 indivíduos (18 anos e mais), não institucionalizados e residentes na área urbana do município de Campinas. Utilizou-se dados do Inquérito de Saúde de Campinas (ISACamp 2014/2015) que foram obtidos através de questionários estruturados, aplicados por entrevistadores treinados e supervisionados. Foi estimada a prevalência de Tendinite, LER e DORT segundo variáveis sociodemográficas (sexo, faixa etária, plano de saúde, renda familiar per capita, escolaridade, raça/cor, atividade remunerada e atividade ocupacional), de comportamentos (tabagismo, consumo de álcool, atividade física no lazer, tempo no computador e tempo na televisão) e estado de saúde (Índice de Massa Corporal, duração e qualidade do sono, problema emocional e número de doenças crônicas). As análises foram feitas utilizando o programa estatístico STATA 15.0 (módulo survey) e foi verificada a associação entre as variáveis usando o teste qui-quadrado com nível de significância de 5% e utilizados os modelos de regressão simples e múltipla de Poisson para estimar as razões de prevalência brutas e ajustadas e os respectivos intervalos de 95% de confiança (IC95%). Resultados: A prevalência das DME estudadas foi de 8,5%, sendo 6,7% tendinite, 2,6% LER e 0,6% DORT, acometendo 11% das mulheres e 5,7% dos homens. Após ajustes, a prevalência se mostrou mais elevada em indivíduos com idade entre 40 e 59 anos (RP=3,63), escolaridade ≥ 5 anos (RP=2,28) e naqueles que exerciam atividade remunerada (RP=1,95). Com relação aos comportamentos e estado de saúde, encontrou-se que a prevalência das DME avaliadas se mostrou 62% maior naqueles que relataram passar maior tempo no computador. Observou-se também uma importante associação destas doenças com a duração do sono curto, ≤ 6 horas (RP=1,95), com a qualidade do sono regular a muito ruim (RP=1,79) e com a presença de duas a quatro (RP= 2,81) e cinco ou mais doenças crônicas (RP=3,46). Não foram observadas associações estatisticamente significativas nas demais variáveis analisadas. Conclusões: O estudo detectou que a prevalência de tendinite, LER e DORT é maior entre as mulheres, em idade produtiva e nos mais escolarizados. Os resultados também mostraram que a prevalência é maior no segmento populacional ativo no trabalho e naqueles que ficam mais tempo no computador, revelando que as pessoas com tendinite, LER e DORT permanecem em suas atividades ocupacionais, o que pode não favorecer a melhora e até agravar o quadro. Podemos constatar ainda que estas doenças estão relacionadas à qualidade e duração do sono; desta forma, as DME por meio dos seus sintomas, podem impactar o sono, ou por causalidade reversa, o sono ruim pode levar à maior vulnerabilidade para o desenvolvimento ou agravamento destas doenças. Devido ao fato de apresentarem grande impacto na vida das pessoas, estas doenças devem ser avaliadas rotineiramente no espaço da clínica e nas pesquisas de saúde. Este tipo de informação pode gerar possibilidades de prevenção e modificar a maneira como estes agravos musculoesqueléticos são vistos e descritos.
Mestrado
Doenças Musculoesqueléticas, Transtornos Traumáticos Cumulativos, Tendinopatia, Inquéritos e Questionários, Sono