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arrow_back 12.ª Semana de Pesquisa - Trabalhos de Pesquisa

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Utilização de medicamentos anti-hipertensivos no Brasil: resultados de estudo populacional.

Saúde Coletiva

Introdução

A transição demográfica mundial aponta para o envelhecimento populacional, o aumento progressivo da prevalência das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) e, consequentemente, aumento da utilização de medicamentos. Estima-se que entre essas condições, 7,5 milhões de óbitos sejam causados pela hipertensão arterial, o que representa 12,8% das mortes no mundo. A pressão arterial elevada é, portanto, o principal fator de risco cardiovascular. As diretrizes terapêuticas para o manejo das DCNT têm por objetivo estabelecer critérios de diagnóstico, tratamento medicamentoso e não medicamentoso, mecanismos de controle, acompanhamento, verificação de resultados, a racionalização da prescrição e o acesso aos medicamentos com uso racional. O objetivo do presente estudo é analisar o padrão de utilização de medicamentos anti-hipertensivos no Brasil. Trata-se de um estudo do tipo transversal de base populacional que utilizou dados da Pesquisa Nacional sobre Acesso e Utilização de Medicamentos (PNAUM) 2014.

 

Objetivos

Geral: Avaliar o padrão de utilização de medicamentos anti-hipertensivos na população adulta e idosa brasileira.

Específicos:

  • Identificar os grupos farmacológicos mais utilizados como tratamento medicamentoso da hipertensão arterial;
  • Verificar se os fármacos anti-hipertensivos utilizados pela população brasileira constam na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME);
  • Analisar a prevalência de utilização de medicamentos anti-hipertensivos segundo sexo, faixa etária, raça/cor da pele, monoterapia ou terapia combinada.

 

Método

Trata-se de um estudo transversal de base populacional, que utilizou dados da Pesquisa Nacional sobre Acesso, Utilização e Promoção do Uso Racional de Medicamentos (PNAUM) 2014, realizada entre setembro de 2013 a fevereiro de 2014, em domicílios particulares permanentes na zona urbana nas cinco regiões brasileiras, com aproximadamente 41.000 entrevistas e aprovada pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (parecer CONEP no. 398.131, de 16/9/2013).

Foram consideradas pessoas com 20 anos ou mais, que autorreferiram hipertensão, indicação médica para uso de medicamentos anti-hipertensivos e estavam em uso desses medicamentos no momento da entrevista.

Utilizou-se, para a classificação farmacológica dos medicamentos anti-hipertensivos, o documento VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão, bem como literatura específica de farmacologia, considerando as seguintes classes: diuréticos (diuréticos tiazídicos, de alça e poupadores de potássio), agentes simpatolíticos (betabloqueadores e outros), bloqueadores dos canais de cálcio (BCC diidropiridínico e não diidropiridínico), inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA), bloqueadores do receptor At1 (BRA), inibidor direto da renina (IDR) e vasodilatador arterial.

O I Posicionamento Brasileiro sobre Combinação de Fármacos Anti-hipertensivos foi utilizado na categorização da terapia anti-hipertensiva combinada com dois fármacos, conforme abaixo:

  • Preferenciais – IECA + BCC, IECA + Diurético, BRA + BCC (diidropiridínico), BRA + Diurético;
  • Aceitáveis – Diurético + Betabloqueador, BCC (diidropiridínico) + Betabloqueador; BCC + Diurético, IDR + Diurético, IDR + BCC, Diurético Tiazídico + Diurético Poupador de Potássio;
  • Menos Usuais – IECA + Betabloqueador; BRA + Betabloqueador;
  • Não Usuais – BCC (não diidropiridínico) + Betabloqueador; IECA + BRA, IECA + IDR, BRA + IDR, agente simpatolítico + betabloqueador.

A análise abrangeu a estimativa de prevalência, com incorporação das ponderações necessárias decorrentes do desenho da amostra, considerando o intervalo de confiança de 95%. O software utilizado foi o SPSS versão 21.

 

Resultados

Para o tratamento da hipertensão foram citados 45 fármacos das seguintes classes farmacológicas: diuréticos, agentes simpatolíticos, bloqueadores dos canais de cálcio (BCC), inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA), bloqueadores do receptor At1 (BRA), inibidor direto da renina e vasodilatador arterial. Desses, 37,8% (17 fármacos) constam na RENAME e 62,2% (28 fármacos) não constam na RENAME.

As classes farmacológicas mais utilizadas foram: diurético tiazídico 41,7% (IC95% 39,9-43,5), IECA 36,8% (IC95% 34,9-38,8), BRA 35,9% (IC95% 33,9-37,9), Betabloqueadores (subclasse de agente simpatolítico) 22,5% (IC95% 20,9-24,1) e BCC 13,5% (IC95% 12,3-14,8).

Considerando a utilização de anti-hipertensivos e o sexo do(a) entrevistado(a), os diuréticos (48,1% IC95% 45,9-50,3) e os agentes simpatolíticos (27,1% IC95% 25,0-29,2) apresentaram discreto aumento de utilização no sexo feminino. Já os IECAs foram mais usados no sexo masculino (40,7% IC95% 37,6-43,8). Não houve diferença entre os sexos estatisticamente significativa para as demais classes. Para pessoas do sexo feminino 0,5% (IC95% 0,2-1,5) relataram ser gestantes e 2,2% (IC95% 1,1-4,1) lactantes, cujo número absoluto não foi suficiente para análises mais detalhadas.

Com relação à utilização de anti-hipertensivos por faixa etária, não foram observadas diferenças estatisticamente significativas. Contudo, graficamente foi possível observar aumento do uso de diuréticos, BCCs, e BRAs com o avanço da idade e discreta diminuição de uso dos agentes simpatolíticos com o aumento da idade.

Para a variável raça/cor da pele, subdividida em “etnia branca” e “demais etnias”, não foram observadas diferenças de uso dos IECAs. Para a categoria “demais etnias”, os diuréticos com 47,5% (IC95% 44,9-50,0), os BCCs com 14,9% (IC95% 13,3-16,7) e os BRAs com 37,6% (IC95% 35,0-40,2), foram mais usados quando comparados com “etnia branca”. Apenas os agentes simpatolíticos foram mais usados na categoria “etnia branca” com 27,2% (IC95% 24,8-29,8).

Nos indivíduos em uso de monoterapia anti-hipertensiva, os IECAs foram os mais usados com 35,2% (IC95% 32,6-37,9), seguidos pelos BRAs com 27,4% (IC95% 25-29,9). Individualmente os fármacos mais utilizados como monoterapia foram: losartana (BRA) com 24,6% (IC95% 22,3-27), captopril (IECA) com 19% (IC95% 17,2-21,4) e enalapril 15% (IC95% 13,0-17,4).

A terapia combinada com dois anti-hipertensivos preferenciais representou 59,5% (IC95% 56,5-62,5), as aceitáveis 17,3% (IC95% 15,2-19,6), as menos usuais 8,7% (IC95% 7,3-10,3), as não usuais 1,4% (IC95% 0,9-2,0) e outras combinações 13,1% (IC95% 11,2-15,2).

            A combinação de três fármacos anti-hipertensivos ou mais foi descrita em quatro categorias: BRA + diurético tiazídico + betabloqueador com 16,7% (IC95% 13,8-20,1),  BRA + diurético tiazídico + BCC com 9,9% (IC95% 8,0-12,2), IECA + diurético tiazídico + betabloqueador com 7,7% (IC95% 5,8-10,1) e outras combinações com 65,7% (IC95% 62,0-69,3).        

 

Conclusões

A terapia medicamentosa anti-hipertensiva no Brasil não apresentou diferença significativa entre sexo, faixa etária e raça/cor da pele. Como monoterapia os medicamentos mais utilizados são os de primeira linha no tratamento anti-hipertensivo e o Brasil vem utilizando as combinações preferenciais e aceitáveis em maior prevalência, de acordo com diretrizes para o manejo desta condição de saúde.

Doutorado

Inquéritos de Saúde; hipertensão; farmacoepidemiologia.

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