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Pesquisa investiga processo que desencadeia crescimento de tumores

Estudo abre novas possibilidades para o tratamento do linfoma

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A angiogênese é uma das linhas de pesquisa em alta no mundo para o tratamento do câncer. Ela estuda o processo de formação de vasos dentro do tumor. Para crescer e se multiplicar, o tumor precisa de nutrientes e oxigênio que ele retira do sangue. Alguns genes estão envolvidos nesse mecanismo para a sobrevivência do tumor. Dois desses genes foram estudados por Angelo Borsarelli Carvalho de Brito, primeiro aluno formado pelo Programa Pesquisador em Medicina da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp.

“A angiogênese é classicamente um processo visto como nocivo porque faz o tumor crescer mas, ao mesmo tempo, ela tem papel importante no aporte de quimioterápico ao tumor. Seria como uma disputa”, explica Angelo.

Foto: Scarpa
Angelo Borsarelli Carvalho de Brito: “A angiogênese é classicamente um processo visto como nocivo porque faz o tumor crescer mas, ao mesmo tempo, ela tem papel importante no aporte de quimioterápico ao tumor”

De acordo com a pesquisa Angiogênese em linfoma não-Hodgkin difuso de grandes células B: impacto de polimorfismos nos genes VEGF e VEGFR2 em aspectos clínicos e vascularização tumoral, alguns polimorfismos nesses genes podem estar associados a maior ou menor sucesso no tratamento convencional de portadores da doença. A orientação da pesquisa foi da professora Carmen Silvia Passos Lima, do Departamento de Clínica Médica e a coorientação foi do professor José Vassalo, do Departamento de Anatomia Patológica.

Os polimorfismos definem a cor dos olhos, da pele, o tipo de cabelo e outras características físicas transmitidas de pais para filhos. Eles também determinam variações no metabolismo de substâncias tóxicas ao organismo, na formação de vasos sanguíneos para a irrigação de células e no reparo de lesões ao DNA celular”, explica a médica oncologista Carmen Silvia Passos Lima.

Os linfomas não-Hodgkin são a nona causa de câncer de Brasil. O subtipo mais comum é o linfoma difuso de grandes células B. É a neoplasia mais comum entre as hematológicas. Os principais sintomas são o aumento de glângios  linfáticos no pescoço, virilha e axilas. Eles podem também aparecer no baço, trato digestivo, ossos, testículo, pulmão e outros locais. Ao diagnóstico, cerca de 50% dos pacientes apresentam estágio avançado do tumor. O tratamento indicado é a quimioterapia e cerca de 80% dos pacientes apresentam cura.

Participaram do estudo 168 pacientes com diagnóstico de linfoma não-Hodgkin difuso de grandes células B (LDGCB) atendidos entre 2009 e 2014 no Hemocentro da Unicamp e de 2013 a 2014 no Hospital A. C. Camargo. Os pacientes foram avaliados a cada três meses no decorrer do primeiro ano, a cada quatro meses no segundo ano, a cada seis meses a partir do terceiro ano ao quinto ano, após o término do tratamento qumioterápico.

O diagnóstico do LDGCB foi realizado em exame histopatológico nos laboratórios do Departamento de Anatomia Patológica da FCM e do Hospital A. C. Camargo.  Todas as análises moleculares de DNA e identificação dos genótipos foram realizadas no Laboratório de Genética do Câncer (Lageca) da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp.

Fotos: Scarpa
Os professores Carmen Silvia Passos Lima e José Vassalo, respectivamente, orientadora e coorientador da pesquias

De acordo com Angelo, o VEGF é a principal proteína envolvida na angiogênese. Para agir, o gene precisa de um receptor na célula, que é VEGFR2. Eles trabalham em conjunto para a formação de vasos que leva ao crescimento do tumor. Alguns polimorfismos nesses genes aumentam ou reduzem a produção da proteína VEGF e a formação de vasos sanguíneos.

“Hoje, há novos agentes terapêuticos que atuam na via da angiogênese e que são oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS)” para pacientes com alguns tipos de tumor, o que justifica o interesse no assunto, explica Angelo.

Após quatro anos, o estudo revelou que polimorfismos isolados ou associados no gene VEGF estiveram associados a resposta e toxicidade ao tratamento e sobrevida de pacientes com o tumor. A próxima etapa do estudo é verificar se esses polimorfismos podem ser usados na prática do atendimento a esses pacientes.

“Se um determinado polimorfismo faz o paciente responder melhor à quimioterapia, mas com maior toxicidade, é plausível pensarmos que a dose pode ser reduzida para evitar os efeitos tóxicos. É o que chamamos de farmacogenética. Entretanto, isso deve ser confirmado em estudo futuro”, diz Angelo. É também de grande interesse verificar se os polimorfismos no gene VEGF podem também alterar a resposta de pacientes com o tumor a agentes inibidores da angiogênese.

A pesquisa resultou em três artigos científicos que estão sob análise para publicação em periódicos de circulação internacional. Além disso, enquanto esteve no Programa Pesquisadores em Medicina, Angelo ganhou vários prêmios, sendo cinco internacionais entregues nos Congressos Americano de Hematologia, Europeu de Hematologia, Europeu de Oncologia Clínica e Sociedade de Oncohematologia. Em 2016, Angelo ganhou o Prêmio Jovem Cientista, oferecido pela Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas (SMCC) e ainda levou o segundo lugar na mesma categoria por outra pesquisa sobre polimorfismos genético e câncer.

O trabalho vencedor foi Associations of VEGF and VEGFR2 polymorphisms with increased risk and aggressiveness of multiple myeloma, publicado em 2014, no Annals of Hematology. O trabalho que ficou em segundo lugar foi Association of BAX G(-248)A and BCL2 C(-717)A polymorphisms with outcome in diffuse large B-cell lymphoma patients, publicado em 2016 no British Journal of Haematology.


Programa Pesquisador em Medicina

O Programa Pesquisador em Medicina foi criado em 2012. Ele permite que alunos de Graduação no sexto ou oitavo semestre do curso de Medicina da Unicamp se matriculem em disciplinas de Programas de Pós-Graduação da Universidade Estadual de Campinas. Ao final, o aluno recebe os diplomas de graduação e pós-graduação. A cada ano são oferecidas duas vagas. O orientador de iniciação científica é quem identifica o aluno que tem potencial. O modelo é similar ao norte-americano. No Brasil, além da Unicamp, apenas a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Escola Paulista de Medicina oferecem essa modalidade de programa.

“Da noite para o dia, você deixa de ser o aluno de medicina e passa a ser aluno de pós-graduação e tem que aprender a lidar com a responsabilidade de conduzir um projeto de pesquisa. É um choque de realidade. Você fica maduro e mais autônomo na resolução dos seus problemas”, diz Angelo, que agora está na residência médica.

Saiba mais sobre o Programa Pesquisador em Medicina em https://www.fcm.unicamp.br/fcm/programa-de-pesquisador-em-medicina/documentos-e-procedimentos

 

 

Imagem de capa JU-online
Audiodescrição: Em sala, imagem de busto e em perfil, homem sentado, à direita na imagem, aponta com o dedo indicador da mão direita para monitor de lcd que exibe ilustrações circulares e onde se lê em destaque estágio mais avançado e maiores volumes tumorais. Ao lado do monitor, à direita, há uma cpu de computador sobre mesa. Ele usa óculos e veste jaleco branco sobre camisa social. Imagem 1 de 1.

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