Pesquisa sobre promoção da saúde entre camponeses ganha menção honrosa no Prêmio Capes de Teses

A pesquisa “Construção de um processo social participativo de promoção da saúde para a superação do modelo do agronegócio: a experiência camponesa a partir da Salutogênese e da Agroecologia em Lavras – MG”, de Pedro Henrique Barbosa de Abreu, ganhou menção honrosa no Prêmio Capes de Teses de 2019. O trabalho foi desenvolvido sob orientação do professor Herling Gregório Aguilar Alonzo e integra a produção científica referente ao ano de 2018 do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, na área de Política, Planejamento e Gestão em Saúde e na linha de pesquisa Sistemas, Redes e Organização das Práticas de Saúde. Veja aqui a tese completa.

O estudo apresenta a experiência de implementação de uma estratégia de promoção da saúde com camponeses das comunidades rurais de Lavras – MG. Esta experiência foi desenvolvida por meio de uma Pesquisa-Ação-Participativa que articulou, entre outros, os conceitos da metodologia Camponês a Camponês (CaC) e do paradigma da Salutogênese. 

A CaC, que tem como origem e base conceitual-prática as concepções e métodos da educação popular de Paulo Freire, é uma metodologia social que permite a construção de processos de transição agroecológica mediante a identificação e compartilhamento de saberes, conhecimentos e técnicas agroecológicas entre os próprios camponeses, sendo esta identificação e este compartilhamento viabilizados pela organização social entre as famílias das comunidades rurais de um território. Assim, a metodologia social CaC é capaz de promover a implementação e disseminação da agroecologia em pequenas e grandes escalas, através de princípios, passos e métodos que permitem o desenvolvimento do intercâmbio e do apoio mútuo entre camponeses. Já a Salutogênese é uma base teórica de operacionalização dos conceitos de promoção da saúde. Segundo este paradigma, as práticas, conhecimentos e características positivas desenvolvidas e acumuladas a partir de cada experiência de vida (recursos de saúde) passam a ser o embasamento subjetivo e as ferramentas utilizadas pelas pessoas e suas comunidades no processo contínuo de melhora de suas condições de vida e saúde.

“Essa estrutura metodológica permitiu a operacionalização de um processo social que apresentou resultados que envolvem: a compreensão dos camponeses sobre seu contexto de dominação e exploração pela racionalidade e atuação do agronegócio capitalista; a autoconstrução e a (re)apropriação, por estes atores, de possibilidades, modos e estruturas familiares/comunitárias de tomada autônoma de decisão; e os passos iniciais da organização camponesa em Lavras”, explicou Pedro.

O conhecimento prévio da realidade e das persistentes características camponesas nas comunidades rurais de Lavras indicaram ao pesquisador da Unicamp a necessidade e as possibilidades de desenvolvimento de uma metodologia de promoção da saúde que permitiu tanto a autoidentificação e a disponibilização dos recursos camponeses (em especial os recursos agroecológicos) nas propriedades familiares e comunidades rurais quanto a construção autônoma, a partir destes recursos, das bases locais para a posterior autodeterminação de seu contexto e de sua saúde.

“O objetivo da pesquisa foi implementar e analisar uma estratégia de promoção da saúde fundamentada em marcos teórico-práticos horizontais, participativos, agroecológicos e libertadores do sujeito camponês”, explicou Pedro.

As atividades foram organizadas em dois modos operacionais, sendo os componentes salutogênicos (Sentido de Compreensão, Sentido de Manejo e Sentido de Significação) definidos como categorias de análise para as falas dos camponeses de 17 comunidades rurais de Lavras. Participaram do estudo 155 camponeses ao longo de duas fases de trabalho, sendo 110 homens e 45mulheres.

Esta estruturação apoiou a elaboração de uma análise de conteúdo na modalidade temática que permitiu a significação e a inferência de fatores, causas e rumos do desenvolvimento do processo salutogênico construído juntamente com os camponeses.

“Podemos afirmar, portanto, com base nos principais achados deste estudo, que um profundo, efetivo e replicável processo de promoção da saúde foi desenvolvido em Lavras. A construção inicial de uma estrutura social camponesa autossustentável e o prosseguimento do processo de organização para a transição agroecológica nas comunidades rurais do município, resultaram na formação da Associação das Camponesas e Camponeses Agroecológicos de Lavras (ACCAL). A metodologia adotada em Lavras pode ser aplicada em outras localidades camponesas dominadas pela lógica e prática do agronegócio”, concluiu.

Prêmio Capes de Teses

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) divulgou que quatro teses defendidas na Unicamp foram agraciadas com o Prêmio Capes de Teses 2019 e outras 10 pesquisas receberam menção honrosa, sendo uma da FCM. A premiação é oferecida pela instituição para as melhores teses de doutorado defendidas em 2018 e selecionadas em cada uma das 49 áreas de avaliação reconhecidas nos Programas de Pós-Graduação.