Boletim FCM

 

FCMunicamp

 


ISSN: 2595-9050
 

O impacto do coronavírus na ciência e na pós-graduação

Data de publicação
22 mar 2020
coronavirus
Imagem meramente ilustrativa

O novo coronavírus ou Covid-19 mexeu com as estruturas da sociedade, saúde, ciência e educação. Já como uma pandemia decretada pela Organização Mundial de Saúde, o Covid-19 determinou que instituições públicas e privadas de ensino tomassem medidas para conter a sua propagação. A Unicamp determinou a suspensão de aulas, cursos, seminários e manteve apenas as atividades essenciais e de assistenciais, ligadas à área da Saúde.

A Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp possui quase 100 laboratórios de pesquisa e 1.400 alunos na pós-graduação, em diversos programas. Para falar sobre o impacto do coronavírus na pesquisa, convidamos a professora e coordenadora de pós-graduação da FCM, Cláudia Vianna Maurer Morelli e o professor e coordenador da Comissão de Pesquisa e do Centro de Pesquisas Clínicas da FCM, Andrei Sposito. Para ambos, fizemos a mesma pergunta. Baixo, as respostas de cada um, retratando a atual situação, soluções e os rumos impostos pelo vírus que circula pelo mundo de forma tão letal.

Cláudia Vianna Maurer Morelli
Em home office!
A coordenadora de pós-graduação da FCM, Cláudia Vianna Maurer Morelli, fala sobre o impacto da Covid-19 nas atividades de pós-graduação/Foto: Arquivo pessoal
Andrei Sposito
Em home office!
O professor Andrei Sposito, coordenador da Comissão de Pesquisa da FCM, fala sobre o impacto da Covid-19 nas atividades de pesquisa/Foto: Arquivo Pessoal

Boletim da FCM – Qual o impacto do coronavírus nas pesquisas realizadas na FCM?

Cláudia Vianna Maurer Morelli – Haverá atrasos na obtenção de resultados das pesquisas em andamento, da pesquisa básica à clinica. Não podemos nos esquecer que temos alunos em universidades estrangeiras e lá as atividades estão totalmente paradas ou reduzidas. Isso também impacta as nossas pesquisas de colaboração internacional.  O atraso será inevitável, no entanto, nesse momento, preocupa que todos os envolvidos: pesquisadores, alunos, técnicos e pacientes que participam de pesquisas respeitem as recomendações do governo e as ações administrativas locais de segurança para si e para os outros.

Andrei Sposito – As pesquisas clínicas foram impactadas com a suspensão dos procedimentos de seleção e inclusão de pacientes. Os seguimentos passaram a ser feitos por telefone ou Whatsapp. A possibilidade de manifestar o Covid-19 durante os estudos clínicos também podem impactar gravemente as pesquisas em todo o mundo, aqui da mesma forma. Por exemplo, numa pesquisa que buscar saber se o tratamento A é superior ao tratamento B para uma doença crônica, a ocorrência de Covid-19 pode obscurecer a diferença entre os grupos e no final não sermos capazes de avançar o tratamento desta doença especificamente. Nas pesquisas básicas, o orientado é evitar aglomeração e realizar os procedimentos que não requeiram contatos com o público. Ainda nesses casos, pesquisadores com características dos grupos de risco, idade avançada ou portador de doença crônica, foram solicitados a se afastar das atividades. Portanto, sim, o Covid-19 retardará o progresso científico nas pesquisas básicas igualmente.

Boletim da FCM – Quais ações foram tomadas para minimizar esses impactos?

Cláudia Vianna Maurer Morelli – Nos reorganizamos administrativamente para respeitar o contingenciamento mas sem parar as atividades essenciais da pós-graduação. Os docentes que coordenam disciplinas teóricas estão produzindo aulas à distância usando diferentes tecnologias. As qualificações na medida do possível foram adiadas ou com recomendação que ocorram a distância. As defesas de dissertações e teses estavam sendo avaliadas caso a caso, e as que não podiam ser remarcadas estavam seguindo as GRs internas que membros externos deveriam participar por videoconferência. No entanto, como as informações são dinâmicas e estamos atentos a isso, acabamos de ler uma publicação da Capes que determina que as defesas ocorram totalmente a distância. Estamos funcionando em sistema de rodízio administrativo

presencial e teletrabalho nos outros dias para que alunos e docentes continuem recebendo o apoio e as informações que precisam. Acima de tudo, estamos sempre atentos para mudar nossas ações se houver mudança de cenário e em acordo com novas atualizações e recomendações da Capes e da instituição.

Andrei Sposito – Todas as medidas foram feitas para prevenir a manifestação do Covid-19 em pesquisadores e voluntários das pesquisas. No momento, o foco devem ser eles. Haverá um atraso no cronograma das pesquisas e mesmo perdas substanciais de informações, mas acreditamos que esta perda seja infinitamente menor que o prejuízo possível aos pesquisadores e voluntários

Boletim da FCM – Passado o período da pandemia, a ciência sairá valorizada e fortalecida ou não?

Cláudia Vianna Maurer Morelli – Infelizmente, às vezes são em situações como essas que as pessoas comuns entendem que as vacinas, os medicamentos, a identificação de patógenos e até mesmo a tecnologia que as permite ter saúde, ser tratada ou ter conexão com pessoas distantes, advém da pesquisa científica. Sim, eu acredito que a ciência sairá fortalecida desse episódio, ao menos em parte. No entanto, nada mudará se as autoridades executivas e políticas desse país não respeitarem a ciência no patamar que ela merece e derem todo o tipo de suporte que ela precisa para se desenvolver e tornar o país independente para a produção do conhecimento. O apoio político e da população deve ser constante e não somente em momentos de crise como a que vivemos.

Andrei SpositoTenho certeza que sim. Não há mundo seguro se não houver pesquisa competente. Precisamos enfatizar que a pesquisa séria e competente não se faz somente nos momentos de crise, ela é feita continuamente para evitar que esses momentos venham a acontecer. Se não tivessemos a pesquisa, certamente teríamos muitos surtos como esse e até mais graves. 


Cláudia Vianna Maurer Morelli é docente do Departamento de Genética Médica e Medicina Genômica, coordenadora do Laboratório de Zebrafish e coordenadora da Comissão de Pós-graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp. Atua nas áreas de Genética Humana e Médica e Neurociência, atuando principalmente em temas de Neurogenética e Genética Molecular.

Andrei Carvalho Sposito é professor titular da Disciplina de Cardiologia do Departamento de Clínica Médica, coordenador da Comissão de Pesquisa e coordenador do Centro de Pesquisa Clínica da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp.