A tempestade de citocinas (ou hipercitocinemia) que leva à resposta inflamatória acentuada em pacientes com SARS-CoV-2 tem se mostrado como um dos principais determinantes da gravidade e do desfecho clínico da COVID-19. A inflamação local após a infecção pelo vírus envolve o aumento da secreção de citocinas pró-inflamatórias e quimiocinas, que atraem células do sistema imunológico para o pulmão. Em alguns casos, esse recrutamento celular pode provocar uma resposta imune disfuncional que desencadeia uma tempestade de citocinas com inflamação pulmonar generalizada e dano tecidual. Não se sabe, no entanto, quais fatores genéticos podem influenciar essa predisposição a hipercitocinemia. Estudos diversos têm mostrado o papel potencial dos microRNAs (miRNAs) como determinante do desfecho clínico em diversas doenças e também na COVID-19. Essas moléculas tem a capacidade de modular a expressão de genes de citocinas e, consequentemente, a resposta inflamatória. Foram investigados os possíveis papéis regulatórios de microRNAs (miRNAs) na modulação da resposta inflamatória em pacientes com COVID-19, tanto em amostras respiratórias (swab naso e orofaríngeo) quanto em soro (miRNAs circulantes). Foram analisadas amostras de swab naso e orofaríngeo de 61 pacientes atendidos no Hospital de Clínicas da UNICAMP, classificados em dois grupos de acordo com a gravidade clínica (leve/moderada, n=12 e grave/crítica, n=49), além de um grupo controle composto por 10 indivíduos saudáveis. A expressão dos miRNAs foi quantificada por PCR em tempo real utilizando o sistema de sondas fluorescentes TaqMan (Thermo Fisher Scientific), e análises in silico foram conduzidas para identificação de potenciais alvos gênicos e vias envolvidas. Os resultados obtidos demonstraram possíveis associações entre a expressão diferencial de determinados miRNAs e os níveis séricos de citocinas pró- e anti-inflamatórias, sugerindo um papel modulador dessas moléculas na resposta imune à infecção viral. Esses achados contribuem para o entendimento dos mecanismos moleculares relacionados à variabilidade clínica da COVID-19 e reforçam o potencial dos miRNAs como biomarcadores diagnósticos e preditores de gravidade, oferecendo subsídios para o desenvolvimento de abordagens terapêuticas mais precisas e direcionadas.