INTRODUÇÃO: O envelhecimento está associado a mudanças físicas e fisiológicas que podem influenciar tanto a deglutição quanto a estrutura e funcionalidade cerebral. A literatura descreve amplamente o impacto do declínio muscular nas mudanças da deglutição. No entanto, pouco se sabe sobre como as medidas de tempo da deglutição se relacionam às mudanças de estrutura e funcionalidade cerebral. OBJETIVO: Verificar a relação das medidas de tempo de deglutição com a idade, a localização do bolo no início da fase faríngea da deglutição (BLSO) e o volume e conectividade funcional cerebral de adultos e idosos saudáveis. MATERIAIS E MÉTODOS: Estudo observacional, transversal e retrospectivo, que incluiu 26 participantes saudáveis (21 mulheres, 56-77 anos). Todos foram submetidos à avaliação neuropsicológica; videofluoroscopia da deglutição e ressonância magnética funcional em repouso (rs-fMRI). As medidas de tempo analisadas foram: tempo de reação da deglutição (SRT), intervalo entre o burst do hióide e a abertura do esfíncter esofágico superior (HYB-to-UESO) e tempo para o fechamento do vestíbulo laríngeo (TTLVC), coletadas em três ofertas de líquido fino, sendo duas de 5ml na colher (B1 e B2) e uma em gole único no copo (B3). As análises da rs-fMRI incluíram volumetria e conectividade funcional do giro pré-central (GPrC) e da ínsula anterior e posterior (InsA e InsP) em ambos os hemisférios. RESULTADOS: No Estudo 1, a idade mais avançada correlacionou-se com SRT mais longos (B1 e B3) e com HYB-to-UESO (B1) e TTLVC (B1 e B2) mais curtos, sem associação significativa com o BLSO. A localização baixa do bolo (BLSO baixa) associou-se a SRT mais longos em todas as ofertas e a menor HYB-to-UESO para B1. A análise de modelo misto não indicou efeito conjunto entre idade e BLSO nas medidas de tempo. No Estudo 2, a idade avançada correlacionou-se com maior SRT e menor TTLVC. Não houve correlação significativa entre idade e volume cerebral. O SRT prolongado correlacionou-se a maiores volumes da ínsula direita. A conectividade funcional entre o GPrC esquerdo e a InsA direita explicou 19 da variância do HYB-to-UESO e, junto com a idade, 47 da variância do TTLVC, com conectividade mais alta e idade avançada associadas à menor tempo de TTLVC. CONCLUSÃO: A BLSO em níveis mais baixos associou-se a atraso no início da deglutição. O prolongamento do SRT correlacionou-se com maior volume da ínsula direita, enquanto medidas de maior conectividade funcional entre GPrC esquerdo e a InsA direita relacionaram-se a abertura mais rápida do esfíncter esofágico superior e ao fechamento mais rápido do vestíbulo laríngeo. Esses achados sugerem que, no envelhecimento, mudanças estruturais e funcionais cerebrais podem estar relacionadas a ajustes temporais da deglutição, possivelmente refletindo mecanismos compensatórios destinados à manutenção da segurança e da eficiência do processo de deglutição.