O objetivo do presente estudo foi descrever e analisar os aspectos identitários em estudantes universitários que se envolveram em autolesão não suicida (ANS) em comparação com indivíduos que não apresentaram esse comportamento.
Foi realizado um estudo observacional transversal. O questionário utilizado para investigar a ANS foi elaborado com base nos critérios diagnósticos do DSM-5. A análise exploratória dos dados foi realizada com base em medidas resumidas. Foram empregados os testes de Mann-Whitney, qui-quadrado e regressão logística múltipla.
Foram analisados dados de 6.906 estudantes universitários, dos quais 1.188 (17 ) relataram pelo menos um episódio de ANS ao longo da vida, sem intenção de suicídio. Indivíduos mais jovens apresentaram maior risco de autolesão recorrente. Mulheres tiveram 2,03 vezes mais chances de autolesão recorrente em comparação aos homens. Não houve associação significativa entre autolesão e raça ou etnia, mas houve maior associação com eventos discriminatórios. Sentir-se insatisfeito com o curso ou com a universidade escolhida esteve associado ao comportamento.
Orientações sexuais não heterossexuais tiveram 2,25 vezes mais chances de relatar autolesão recorrente em comparação aos heterossexuais. Violência ou abuso sexual, verbal, gestual, discriminação e bullying foram significativamente mais comuns entre participantes com histórico de autolesão.
Há uma relação bidirecional entre autolesão não suicida e formação identitária. A formação identitária caótica aumenta a associação com práticas de autolesão. Grupos mais vulneráveis a eventos discriminatórios e violentos impactam o senso de pertencimento e a autoconsciência, que são essenciais para a estruturação da identidade.