Introdução: O instrumento WOICE foi construído pela Organização Mundial da Saúde (OMS), inclui questionários previamente validados para avaliar morbidades não graves, com potencial impacto no bem-estar e saúde das mulheres. Objetivo: Comparar os resultados do uso da ferramenta WOICE durante a gestação e pós-parto e descrever os achados em mulheres com transtornos hipertensivos. Métodos: Realizaram-se duas análises secundárias do estudo WOICE no Brasil, o qual foi implementado durante o terceiro trimestre de gravidez e após 42 até 90 dias do parto. Inclui escalas para avaliar ansiedade e depressão (GAD-7 e PHQ-9, um score ≥5 se traduz na presença de sintomas de ansiedade ou depressão respectivamente), alterações da funcionalidade (WHODAS, sendo alterado se o escore for ≥37,4), dados sobre violência, saúde sexual e uso de substâncias. 1) Análise secundária dos resultados do WOICE numa coorte prospectiva de 125 mulheres, usando uma abordagem antes-depois, avaliando as diferenças na frequência de morbidades não graves. 2) Análise secundaria dos resultados do WOICE de mulheres identificadas com síndromes hipertensivas no grupo antenatal e pós-natal. Resultados: Estudo 1) Dentre 1046 mulheres, foi identificada uma coorte prospectiva de 125 mulheres que participaram do estudo antes e depois do parto, 75 mulheres (60 ) apresentaram sintomas de ansiedade durante a gestação, com 48,8 após o parto (p = 0.07), os escores médios de sintomas de ansiedade reduziram de 7.56 para 5.80 (p = 0,014). A funcionalidade foi afetada em 78 casos (62,4 ) e 70 (56 ) respectivamente, e 9,6 usaram drogas durante a gravidez, reduzindo para 4,0 após o parto (RR 0.69, IC 0.49 – 0.69). Estudo 2) Das 1046 mulheres consideradas, 238 apresentaram transtornos hipertensivos e foram incluídas 99 do grupo de gestantes e 139 do grupo pós-parto. A alteração da funcionalidade foi identificada em 40,4 das gestantes e 12,2 das puérperas (p<0,001). Considerando a frequência de ansiedade (GAD-7 ≥10), esta diminuiu quase metade no grupo pós-parto (31,3 e 14,4 respectivamente, (p<0,001); 13,1 das gestantes apresentaram depressão de acordo com a escala PHQ-9 (escore ≥10), em comparação com 4,3 das puérperas (p<0,001). O uso de substâncias foi semelhante em ambos os grupos (13,1 e 14,4 , respectivamente). A exposição à violência foi de 7,1 para gestantes e 5,0 para puérperas (p=0,581), com agressão física em 3 e 1,4 , respectivamente. Conclusão: Houve redução nos sintomas de saúde mental e uso de substâncias após o parto. A funcionalidade foi afetada numa proporção considerável de mulheres. Nos casos de transtornos hipertensivos, menos mulheres no pós-parto tiveram alterações da funcionalidade e saúde mental em comparação às gestantes. A exposição à violência e uso de substâncias foram similares nos dois grupos. Os achados destacam a importância de monitorar as morbidades não graves, dado seu impacto no bem-estar das mulheres. Em gestações de alto risco, a avalição pós-parto da saúde mental e funcionalidade pode depender do desfecho gestacional, exigindo um acompanhamento individualizado. A avaliação sistemática dessas morbidades consegue visibilizá-las e direcionar o atendimento adequado.