Qualificações e defesas - Detalhes


A Prática da Psiquiatria e a Política Pública de Saúde Mental no Brasil: uma Análise de Experiências de Trabalho de Psiquiatras na Rede de Atenção Psicossocial


Candidato(a): Rafael Freitas Colaço
Orientador(a): Rosana Teresa Onocko Campos

Apresentação de Defesa

Curso: Saúde Coletiva
Local: Anfiteatro da Pós Graduação
Data: 10/12/2025 - 13:30
Banca avaliadora
Titulares
Rosana Teresa Onocko Campos
Erotildes Maria Leal
Claudinei Eduardo Biazoli Junior
Henrique Sater De Andrade
Suplentes
Octávio Dumont Serpa
Rubens Bedrikow
Deivisson Vianna Dantas dos Santos
Sabrina Stefanello

Resumo



Há uma longa discussão na literatura nacional e internacional sobre a adequação da formação de médicos aos objetivos da política pública de saúde. Me proponho na presente tese, a refletir sobre os impasses na formação de psiquiatras e seu engajamento com as políticas públicas de saúde mental considerando o desalinhamento entre os interesses próprios ao ordenamento médico/ psiquiátrico/ farmacêutico que incidem na formação tradicional desses profissionais e os objetivos das políticas públicas em saúde mental orientados pela reforma psiquiátrica. A identidade do médico passou por diversas mudanças no último século, com o declínio de uma prática liberal da medicina e a incorporação do médico em sistemas de saúde (públicos ou privados) caracterizados pela grande incorporação tecnológica e desumanização das práticas. Desde a década de 1950 a psiquiatria passa por uma inflexão no sentido da compreensão do adoecimento mental em nível molecular, privilegiando o tratamento com psicofármacos em detrimento dos tratamentos que privilegiam a relação médico-paciente ou instituição-paciente, em sincronia com a incorporação tecnológica que ocorreu nas diversas especialidades médicas. A “revolução psicofarmacológica” e a construção de “consensos” da comunidade psiquiátrica em relação aos critérios diagnósticos dos transtornos mentais, representado por manuais diagnósticos como o DSM e a CID, puderam restituir ao psiquiatra a identidade de especialista médico. O psiquiatra, mesmo não possuindo marcadores biológicos para sua “doença”, passou a contar com drogas “efetivas” em seu arsenal terapêutico e um sistema diagnóstico supostamente válido e confiável. A crítica da reforma psiquiátrica a uma prática médico-centrada culminou em políticas que fortaleceram a implementação de equipes multidisciplinares em uma rede de serviços comunitários territorializados (a Rede de Atenção Psicossocial - RAPS). Essa crítica fundamentou-se mais no questionamento da centralidade do hospital psiquiátrico no tratamento e menos na crítica do estatuto de doença conferido ao sofrimento mental pelo modelo biomédico. Com a priorização na política de saúde mental da implementação da RAPS houve uma diluição do poder concentrado no médico psiquiatra, desestabilizando a identidade desse médico como “chefe do hospital”, reforçando entre os psiquiatras a identificação como “especialistas da doença mental”. Por outro lado, a abertura do SUS a práticas orientadas pelos conceitos de Clínica Ampliada, apontam um outro caminho no sentido da elaboração dos impasses estruturantes do mal estar no trabalho médico, recuperando ideais de cuidado e valorização da relação médico-paciente presentes na profissão desde sua origem. Na tese elaborei, junto a um grupo de psiquiatras engajados na construção da política pública em saúde mental, os desafios para a criação de arranjos envolvendo a integração do psiquiatra a RAPS desde uma perspectiva que não seja a da clínica degradada. Defendo que uma verdadeira abertura ao Cuidado e a Clínica Ampliada passa necessariamente pela desestabilização da ideologia biomédica que, sustentando a identidade do psiquiatra como médico especialista hegemoniza o Campo da Saúde Mental e pauta também a prática dos demais profissionais das equipes multiprofissionais. Nesse contexto, a crítica aos processos formativos em psiquiatria deve incluir a crítica da naturalização da classificação diagnóstica e da medicalização do sofrimento associada a essa naturalização que fazem desaparecer a dimensão clínica e psicossocial da prática do psiquiatra, o que nos convoca a recolocar a centralidade da escuta e da tradição crítica na formação de psiquiatras em coletivos e redes.

Faculdade de Ciências Médicas
Universidade Estadual de Campinas

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Acesso:
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