Desde o espalhamento da pandemia causada pelo vírus SARS-COV-2, sintomas neurológicos mostraram ter um papel significativo na doença, com relatos de dificuldades cognitivas independentemente da gravidade da doença inicial. A despeito de um grande corpus de pesquisa explorando déficits cognitivos pós-COVID, pouco se sabe sobre a diversidade de perfis cognitivos naqueles afetados pela doença.
Após a remoção de outliers, nós utilizamos os dados neuropsicológicos transversais de 219 sujeitos da coorte NeuroCOVID da UNICAMP para extrair fatores comuns latentes e aplicar técnicas de clusterização hierarquicas a fim de detectar subgrupos - ou clusters - com fenótipos cognitivos relevantes. Imagens de ressonância magnética estrutural, ponderada por difusão e functional em estado de repouso (resting-state) doram obtidas. Métricas estruturais da substância cinzenta e substância branca foram comparadas em seus valores globais e por região de interesse entre clusteres. O fMRI em estado de repouso foi utilizado para derivar uma miríade de métricas de conectividade e baseadas em teoria de grafos, além de grafos individualizados utilizados para comparações subsequentes.
Utilizando a análise de fatores, fomos capazes de identificar cinco fatores neuropsicológicos latentes e clusterizar os sujeitos em quatro grupos distintos com fenótipos característicos. Além de um grupo sem comprometimento cognitivo, um grande cluster de sujeitos com comprometimentos da memória e funções executivas foi caracterizado (cluster Mem) e mostrou correlações significantes com a idade, sexo feminino e obesidade. Os outros dois clusters apresentando comprometimentos cognitivos mostraram dificuldades em processos automaticos (cluster} AP) e funções motoras (cluster Mot), onde o último foi associado a sujeitos mais jovens.
Diferenças estruturais da substância cinzenta foram encontradas em estruturas subcorticais, em particular nos putamens, pallidums e o cerebelo. Não foram encontradas diferenças nos parâmetros estruturais da substância branca. Diferenças significativas da conectividade dunfional foram encontradas nas regiões cerebrais posteriores de sujeitos no cluster Mem.
A literatura neuropsicológica corrobora com nossos resultados, validando nossa análise. Adicionalmente, nossos resultados mostram sobreposição significativa com achados anteriores, a despeito, particularmente, de que a pressença de um grupo com comprometimento motor e alterações do volume de estruturas subcorticais possam representar novos achados. Nós então hipotetizamos um possível papel que a infecção pela COVID-19 possa desempenhar no envelhecimento cognitivo acelerado dos sujeitos no cluster Mem.