Introdução: A crescente complexidade do cuidado em saúde e as transformações na educação médica têm impulsionado a adoção de estratégias de ensino e avaliação mais ativas, interativas e baseadas em tecnologias digitais. Entre essas, destacam-se a simulação virtual que incluem, por exemplo, o uso de paciente virtual (PV) e realidade aumentada (RA). Há ainda lacunas na literatura quanto ao uso dessas abordagens quando utilizadas como prática de recuperação (retrieval practice) e também quanto a sua efetividade comparada a estratégias convencionais de avaliação. Objetivos: 1) Avaliar o impacto de diferentes estratégias de prática de recuperação, mediadas por PV, na retenção de conhecimento clínico de estudantes de medicina. 2) Comparar se o desempenho do líder em um cenário de fibrilação ventricular (FV), avaliado remotamente por meio de RA, é não inferior ao obtido em avaliação presencial tradicional com simulação em manequim. Metodologia: Foram conduzidos dois estudos experimentais. O primeiro foi um ensaio randomizado com alocação estratificada, que avaliou o impacto de três estratégias de prática de recuperação: resolução de caso clínico com PV, questões de múltipla escolha (QMEs) e questões de resposta curta (QRCs). Foi avaliada a retenção de conhecimento clínico, mensurada por meio de um teste aplicado seis semanas após a intervenção. O segundo estudo consistiu em um ensaio clínico randomizado, com grupos paralelos e análise de não inferioridade, envolvendo médicos residentes. Nesse estudo, comparou-se o desempenho em um cenário de FV em dois formatos: simulação com RA mediada por instrutor remoto e simulação tradicional com manequim, conduzida por instrutor presencial. Além disso, foi avaliado a ergonomia e usabilidade da tecnologia pelo grupo da RA. Resultados: No primeiro estudo, observou-se que a prática de recuperação com QRCs promoveu melhoria significativa no desempenho entre o pré-teste e o de retenção. Ainda que não tenha atingido significância, o grupo que utilizou simulação com PV manteve um razoável nível de conhecimento, indicando que pode ser uma boa estratégia de prática de recuperação. No segundo estudo, o grupo de simulação com RA apresentou um desempenho não inferior ao grupo de simulação tradicional com manequim. Os participantes que utilizaram o equipamento para RA nesse estudo avaliaram-no positivamente. Conclusão: Os dois estudos evidenciam o potencial pedagógico de estratégias digitais de simulação para o ensino e a avaliação na educação médica. A prática de recuperação com QRCs mostrou-se particularmente eficaz na retenção de conhecimento a longo prazo, destacando o valor da evocação ativa em ambientes virtuais. A simulação com RA provou ser uma alternativa viável e ergonômica à simulação presencial tradicional para avaliação de um cenário de parada cardíaca. Juntas, essas abordagens integram tecnologia e ciência da aprendizagem em soluções complementares que fortalecem a formação médica centrada no aprendiz.