A aspergilose é uma infecção fúngica oportunista de importância global, causada por espécies do gênero Aspergillus, com manifestações clínicas que variam de quadros alérgicos a formas invasivas graves. Aspergillus fumigatus é o principal agente etiológico, responsável pela maioria dos casos sistêmicos. O tratamento baseia-se em antifúngicos triazólicos, cuja eficácia vem sendo comprometida pelo aumento da resistência, frequentemente associada a mutações no gene cyp51A e ao uso extensivo de fungicidas agrícolas. Embora a resistência esteja bem documentada na Europa e na Ásia, na América do Sul os dados ambientais ainda são limitados, dificultando a implementação de estratégias de vigilância. Neste contexto, o presente estudo, realizado no âmbito do projeto LatAsp, avaliou a epidemiologia molecular da resistência aos triazóis em A. fumigatus e espécies crípticas da seção Fumigati a partir de 1.332 amostras de ar coletadas por ciência cidadã em diferentes regiões do Brasil, Argentina e Uruguai. Foram identificados 830 isolados de A. fumigatus, dos quais 16 apresentaram resistência aos azóis: 14 no Brasil (2,4 ) e 2 no Uruguai, enquanto nenhum foi detectado na Argentina. Entre os perfis encontrados destacam-se variantes clássicas (TR34/L98H e TR46/Y121F/T289A) e um haplótipo composto inédito no Brasil. A análise por microssatélites (STRAf) confirmou a circulação de clones compartilhados entre países, bem como a presença de linhagens exclusivas. Além de A. fumigatus, foram identificados 80 isolados pertencentes a 11 espécies crípticas, entre as quais A. hiratsukae, A. udagawae e A. lentulus. Um quarto desses isolados (25 ) apresentou baixa suscetibilidade a pelo menos um triazol clínico, incluindo MICs elevados em A. fischeri e A. novofumigatus. Em conjunto, o LatAsp constitui o levantamento mais abrangente já realizado na América do Sul, revelando a coexistência de clones clássicos disseminados globalmente, variantes inéditas e ampla diversidade de espécies crípticas. Os resultados reforçam que a região é um reservatório ambiental para a resistência aos azóis e evidenciam a necessidade urgente de programas de vigilância integrada, envolvendo os âmbitos clínico, ambiental e agrícola, a fim de mitigar os riscos associados à aspergilose invasiva.