Introdução: Disfunção e hipertrofia do ventrículo esquerdo (HVE) são contribuintes-chave para o aumento do risco cardiovascular, e são relacionados com aumento da espessura médio-intimal carotídea (EMIc) em pacientes em hemodiálise (HD). Embora a EMIc seja considerada um marcador de aterosclerose, examinar seus componentes – a camada íntima (EIc, associada com aterosclerose) e a camada média (EMc, relacionada a arteriosclerose) – pode prover um entendimento mais profundo sobre os mecanismos associados com remodelamento do ventrículo esquerdo (VE). Para explorar as conexões entre anormalidades vasculares e cardíacas em pacientes em HD, nosso estudo teve como objetivo avaliar a relação entre as subcamadas da parede carotídea e as alterações estruturais e funcionais do VE nessa população de alto risco.
Métodos e Resultados: Este estudo transversal avaliou uma amostra de conveniência de 102 pacientes com insuficiência renal (IR) com idade ≥18 anos, em HD, submetidos a análises clínicas, laboratoriais e ultrassonográficas da carótida em um ambulatório universitário de HD, entre 2022 e 2024. A ecocardiografia foi utilizada para avaliar a HVE, disfunção diastólica e a disfunção sistólica do VE. Cinco medidas de EIc, EMc e EMIc, em áreas livres de placas, foram realizadas; baseado nessas medidas a razão EIc/EMc foi calculada. Análise de regressão logística multivariável (ajustada para idade, e outras variáveis que foram estatisticamente diferentes entre indivíduos com e sem cada alteração do VE) avaliou a relação de HVE, E/e’>14, strain longitudinal global (SLG)>-16 ou fração de ejeção do VE (FEVE)<50 com EMIc, EMc, EIc e placas carotídeas. A significância foi considerada para p <0,05. A amostra apresentou média de idade de 57 ± 15 anos, 59 eram homens, 91 hipertensos, 48 diabéticos, 7 fumantes e tempo mediano de HD de 17 [2,36] meses. Os valores médios de EIc, EMc, EMIc e da razão EIc/EMc foram de 0,43 ± 0,130 mm, 0,41 ± 0,09 mm, 0,83 ± 0,19 mm e 1,07 ± 0,28; 51 dos pacientes apresentavam placas carotídeas, enquanto 48 , 36 , 20 e 39 apresentavam HVE, E/e' > 14, FEVE < 50 e SLG >-16 , respectivamente. Esta análise mostrou que HVE foi associada com EIc (OR [95 CI] = 1,73 [1,13 - 2,37], p =0,012), razão EIc/EMc (OR [95 CI] = 1,24 [1,04-1,49], p = 0,015) e EMIc (OR [95 CI] = 1,41 [1,03-1,93], p = 0,031). Em relação ao padrão de geometria do VE, resultados de análises ajustadas mostrou que HVE excêntrica foi associada com EIc (OR [95 CI] = 1,64 [1,06-2,54], p = 0,027) e razão EIc/EMc (OR [95 CI] = 1,25 [1,03-1,51]; p = 0,023). Por outro lado, E/e’ >14 =, GLS > -16 e FEVE<50 mostrou nenhuma associação independente com algum parâmetro carotídeo.
Conclusões: EIc e razão EIc/EMc foram mais intimamente associados com HVE e HVE excêntrica do que EMIc ou EMc em pacientes em HD, sugerindo que estes parâmetros podem ser novos marcadores de risco cardiovascular nessa população.