Introdução: as lesões do manguito rotador (MR) são frequentes, especialmente em indivíduos acima de 50 anos, e a incidência pode ultrapassar 50 depois dos 60 anos. Essas lesões resultam em dor e limitação funcional, e afetam a qualidade de vida, além de acarretar custos elevados com tratamentos. Assim sendo, o desenvolvimento de métodos baseados em tecnologias portáteis, como acelerômetros (Acs) integrados a smartphones, oferece alternativa inovadora para esta análise biomecânica, pois fornecem dados tridimensionais, precisos e acurados, dinâmicos e em tempo real.
Objetivo: este estudo visa analisar de modo computacional o comportamento biomecânico dos movimentos do ombro em indivíduos entre 50 e 60 anos, com e sem lesão do tendão do músculo supraespinal (TMS) utilizando Acs presentes em smartphones e o Sistema de Monitoramento de Movimentos e Análise Remota em Telemedicina (SMMAR-T).
Materiais e Métodos: a amostra foi composta por 21 indivíduos separados em Grupo 1 (G1) (n=10), sem lesão, e G2 (n=11), com ruptura completa do TMS. Os movimentos analisados do ombro foram elevação anterior, rotação externa, rotação interna e circundução. As amplitudes máximas (Amax) da elevação anterior e rotação externa foram aferidas pelo Goniômetro Universal (GU) enquanto a rotação interna pela observação visual. Além disso, as AMaxs das quatro modalidades de movimentos foram determinadas pelo SMMAR-T. O smartphone foi posicionado no punho direito com registro da aceleração nos eixos X, Y e Z e os dados são transferidos, em tempo real, para o notebook com SMMAR-T instalado o qual converte os dados de Aceleração versus Tempo, nos eixos X, Y e Z, para Deslocamento angular versus Tempo, reproduzindo estes dados para formato gráfico. Além disso, as grandezas físicas velocidade, aceleração, deslocamento, trabalho realizado e coeficiente de determinação (R²) são também calculadas. Em seguida, o SMMAR-T realiza ajuste matemático pelo modelo polinômio de grau 5 das curvas e define os eixos de predominância de cada movimento, além das respectivas Curvas Padrões Individuais (CPIs) para cada modalidade de movimento e as respectivas Curvas Padrões Gerais (CPGs) do G1 e G2. Com estes procedimentos, comparou-se, por meio de R², a similaridade das CPIs de cada movimento com as respectivas CPGs e, por final, as CPGs de cada movimento do G1 também foram comparadas com as correlatas das CPGs do G2. Os dados obtidos, quando necessário, foram submetidos à estatística descritiva e analítica, fixando-se a rejeição da hipótese nula de 0,05.
Resultados: o G2 apresentou maior variabilidade nos movimentos com menor amplitude angular e menor similaridade entre as CPGs em comparação ao G1. A análise estatística revelou diferenças significativas para os eixos predominantes dos movimentos, especialmente na elevação anterior (p<0,0001), rotação externa (p<0,0001) e circundução (p<0,0002). A análise pelo R² confirmou baixa similaridade das CPGs entre os grupos, evidenciando alterações biomecânicas em indivíduos com lesão do TMS.
Conclusão: o uso do acelerômetro em smartphone e SMMAR-T foi capaz de determinar e analisar, de modo físico-mecânico e computacional, os comportamentos das modalidades de movimentos elevação anterior, rotação externa e interna e circundução de ombros saudáveis e com lesão de TMS.