Introdução: O câncer de mama é a neoplasia maior causadora de óbitos no Brasil. Apesar dos avanços das políticas públicas voltadas para a detecção precoce e tratamento oportuno, as desigualdades de acesso ainda persistem. Estudos têm demonstrado que mulheres negras, apresentam diagnóstico e estadio mais avançado, menor sobrevida e taxas de mortalidade crescentes, quando comparadas às brancas, o que pode evidenciar iniquidades estruturais no sistema de saúde. Objetivo: O objetivo deste estudo foi analisar os determinantes da linha de cuidado do câncer de mama do Sistema Único de Saúde, em Campinas e Região, em função da raça das pacientes recém diagnosticadas. Metodologia: Trata-se de um estudo de corte transversal que entrevistou mulheres com diagnóstico histopatológico confirmado de câncer de mama antes do início do tratamento. Dados sociodemográficos, clínicos e de acesso foram coletados por meio de uma entrevista pré-estruturada. O desfecho principal foi o tempo do exame inicial (mamografia ou ultrassom) até a realização de exame histopatológico (biópsia). A análise estatística incluiu os testes de Chi-quadrado e Mann-Whitney, e análises de Regressão linear e multivariadas. O nível de significância admitido foi de 5 . Resultado: Os resultados deste estudo são apresentados no formato de artigo. Foram incluídas 190 mulheres, 80 negras e 110 brancas. Mulheres negras eram mais jovens (p = 0,049) e pertenciam mais frequentemente ao extrato econômico mais baixo (77,9 vs. 60,8 ; p = 0,046). Estado civil, escolaridade, religiosidade, menopausa, atividade física, histórico familiar de câncer de mama e realização prévia de mamografia não diferiram entre os grupos. No acesso ao cuidado, mulheres negras iniciaram atendimento mais frequentemente em unidades públicas de referência (28 vs. 9,8 ), enquanto as brancas recorreram mais a consultórios privados (19,7 vs. 8 ; p = 0,030). Apenas 20 das negras tiveram acesso a consulta com especialista em até 60 dias, comparado a 41,4 das brancas (p = 0,070). O tempo médio entre exame inicial e biópsia foi mais longo para ambos grupos; contudo mulheres negras, levaram cerca de 1,5 vezes mais tempo para realizar biópsia, com média de: 77,71 dias em comparação 53,7 dias entre mulheres brancas (p = 0,019), diferença ainda mais acentuada nas faixas de menor renda (80,7 vs. 52,1 dias, p = 0,008). O único fator que esteve significativamente associado de forma independente com o maior tempo entre a realização do exame inicial e a biópsia foi a raça, mesmo considerando a idade, forma de apresentação da doença e extrato socioeconômico. Conclusão: A cor da pele esteve associada a desigualdades significativas no acesso à linha de cuidado do câncer de mama. A raça esteve independentemente relacionada com um maior tempo entre a realização do exame inicial e a biópsia. Estratégias interseccionais são necessárias para reduzir barreiras além de fortalecimento da atenção básica e políticas voltadas à equidade racial em saúde.