Os carcinomas são os mais frequentes tumores colorretais. O câncer colorretal tem elevada incidência e alta mortalidade. problema de saúde pública, especialmente com o aumento da expectativa de vida da população. Estima-se que até 30 dos casos possam estar associados a causas hereditárias ou mutações em genes de reparo. A detecção destas condições pode alterar a conduta terapêutica, orientar o rastreamento adequado e possibilitar o aconselhamento adequado de familiares.
Este estudo teve como objetivo determinar a frequência de perda de expressão das proteínas de reparo de DNA, MLH1, MSH2, MSH6 e PMS2 por imuno-histoquímica em peças cirúrgicas de adenocarcinoma colorretal e analisar sua associação com sexo, faixa etária dos pacientes, localização do tumor, grau de diferenciação tumoral e estadiamento TNM. Foi realizada análise retrospectiva de corte transversal, não intervencionista, em 330 pacientes submetidos a tratamento cirúrgico de câncer colorretal no Hospital Municipal Dr. Mário Gatti e em clínica privada do autor. Foram excluídos do estudo os pacientes com outros diagnósticos histológicos, aqueles submetidos à quimio e radioterapia com resposta patológica completa, portadores de doença inflamatória intestinal e câncer, e portadores de síndrome de polipose familiar. As lâminas de peças cirúrgicas foram avaliadas por imuno-histoquímica para identificar a expressão nuclear das quatro proteínas do sistema MMR. Dados de idade, sexo, localização, grau de diferenciação e estadiamento TNM foram avaliados. A análise estatística foi conduzida adotando p < 0,05 como limiar de significância, e realizada com auxílio de plataformas de inteligência artificial. Denominou-se dMMR quando houve perda de expressão de pelo menos uma das proteínas analisadas e pMMR na manutenção da expressão das quatro proteínas.
Perda da expressão de pelo menos uma das proteínas avaliadas ocorreu em 42 casos (13,0 ) Dos 330 tumores, 42 (13,0 ) apresentaram dMMR. A prevalência de dMMR e foi significativamente maior em neoplasias do cólon proximal (22,4 , vs 8,6 ; p=0,001) comparadas às do cólon distal (8,6 ), com p = 0,001. Observou-se ainda que 38,1 dos tumores de alto grau (indiferenciados, pouco diferenciados e mucinosos) apresentaram deficiência de dMMR, contra 11,0 nos de baixo grau (bem ou moderadamente diferenciados; p = 0,002). Em relação ao acometimento de linfonodos, houve maior proporção de dMMR em tumores pN1–pN2 em comparação a pN0 (17,1 ) e 11,0 respectivamente; p = 0,045). Não foi observada alteração A distribuição etária de monstrou percentuais de dMMR semelhantes em pacientes com menos ou mais de 50 anos (13,5 vs 12,8 ; p = 0,825) e sexo (14,4 em mulheres vs 11,0 em homens; p = 0,458).
Esses achados alinham-se às estimativas da literatura, que situam a prevalência de dMMR no câncer colorretal entre 10 e 20 . A marcada concentração de tumores dMMR no cólon proximal e em histologia de alto grau reforça o valor da triagem imunohistoquímica rotineira em todos os casos recém-diagnosticados. Ao elucidar a distribuição e as correlações clínicas do dMMR, este estudo oferece dados relevantes para a otimização de protocolos de vigilância, para a tomada de decisão terapêutica e para o aconselhamento genético de pacientes com câncer colorretal e seus familiares.