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Departamento de Saúde Coletiva

Histórico

 
CONHEÇA UM POUCO DA HISTÓRIA DO DEPARTAMENTO DE SAÚDE COLETIVA

 
CANESQUI, A. M. - Vinte cinco anos do Departamento de Medicina Preventiva e Social, 1965-1990. Caderno de palestras proferidas por ocasião da comemoração dos 25 anos do DMPS/FCM. Campinas, n.1 p. 11-21, 1990.

 Em março de 1965 este departamento foi fundado pelo Professor Doutor Miguel Ignácio Tobar Acosta. Foi graças ao professor Tobar e à pioneira equipe formada por médicos, cientistas sociais, veterinários, odontólogos e assistentes sociais, somando cerca de oito professores, mais pessoal administrativo e técnico que se implantou este departamento. Enfrentou período difícil e precário de infra-estrutura e recursos humanos, coincidentes com o início da formação da própria universidade e, um contexto político repressivo no país, pouco favorável às atividades acadêmicas, em geral.

 O modelo de medicina preventiva , que inspirou a criação de muitos departamentos de Medicina Preventiva no país, na década dos anos 60, foi de influência norteamericana, difundido na América Latina, através de organismos internacionais, como a Organização Panamericana da Saúde. Trouxe aquele modelo, proposta de reformular o ensino médico, introduzindo a "mentalidade preventivista" e a implantação da medicina comunitária.

 Arouca em sua brilhante tese de doutoramento, aqui defendida em 1976, criticou com propriedade aquele modelo preventivista, elucidando suas bases e conteúdos políticos-ideológicos que se transportaram para a América Latina, através de uma leitura liberal da organização da prática médica e de uma medicina preventiva formadora de atitudes.

 De certa forma, na primeira etapa de existência deste Departamento (1965-1970) reproduzimos parte daquele modelo importado, juntamente com os conteúdos da higiene que orientou a formação e a prática dos antigos sanitaristas. Um estudo efetuado por Everardo Duarte Nunes, sobre as disciplinas ensinadas no nosso Departamento na graduação médica, mostrou que figuravam, naquele período inicial, conteúdos da velha higiene, como a Medicina Construtiva e Educação Sexual, ao lado de disciplinas que colocavam novos conteúdos pertencentes ao modelo importado, como as Ciências Sociais Aplicada à Medicina e a Clínica de Família, numa perspectiva de Medicina Integral.

 Um trabalho comunitário de ensino e assistência, desenvolvido junto à população pobre de um bairro periférico de Campinas - o Jardim da Oliveiras - foi a base do ensino da Clínica de Família e das Ciências Sociais Aplicadas à Medicina, completando-se pelo estímulo a uma intervenção de cunho social junto às famílias, grupos e instituições locais, combinando programas de educação comunitária e de assistência médica. Este modelo queria formar, no futuro médico, a atitude preventista, inserido-o numa prática mais próxima aos problemas médico-sociais das populações pobres, oferecendo ao aluno uma experiência de capacitação médica fora do leito hospitalar e de educação comunitária.

 No início da década dos anos 70 o modelo de medicina comunitária e o elenco de disciplinas ensinadas pelo departamento passaram por grande crítica e reformulação, produtos de reelaborações teóricas que se faziam intensamente. Novos rumos se imprimiram, resultando na introdução de novos conteúdos curriculares, como a Medicina Social, preocupada com a organização social da prática médica no país e com a política de saúde; a Epidemiologia, criticada nos seus modelos explicativos sobre o processo saúde e doença e nos seus métodos de investigação de base positivista; as Ciências Sociais, de base funcionalista e comportamental. Enfim, procurava-se reorientar a formação médica nos parâmetros da Medicina Social e de uma Epidemiologia renovada e não mais reproduzir os modelos preventivistas e da higiene. Ao mesmo tempo impulsionava-se a produção cientifica, resultando em muitas teses de doutoramento defendidas pelos docentes.

 Redefiniu-se ainda, naquele momento o modelo comunitário de ensino e assistência, deslocando para a cidade de Paulínia a base espacial de um outro projeto de integração. Este projeto, que tantos frutos gerou, representou, no inicio dos anos 70 uma antecipação da organização de uma rede pública local de serviços de saúde, de caráter hierarquizado e abrangente quanto à cobertura da população. Buscava-se naquele momento criar um modelo assistencial que fosse reproduzível, bem como almejava-se mudar a totalidade de formação médica na Faculdade de Ciências Médicas.

 Citamos aqui, a respeito, parcela do que se queria como o novo programa assistencial, trechos de uma entrevista fornecida, pelo Dr. Tobar, a um jornal local, na ocasião em que se inaugurou o Centro de Saúde-Escola de Paulínia:

 "A rede de serviço de saúde tem como objetivo geral enaltecer a dignidade de vida do cidadão no que se refere a sua saúde. Como proposta principal o homem será considerado de maneira integral, visando seu bem-estar físico, mental e social e não somente a ausência de doença A estrutura da organização do programa seguirá um sistema regionalizado com os seguintes critérios: sua base estará localizada na periferia em cujo vértice estará o Hospital das Clínicas da Universidade. Será composto por vários níveis de prestação de serviços, dos quais, serão elementares na base da pirâmide e se tornarão cada vez mais complexos, à medida em que se aproximarem do vértice. Cada nível terá definida suas atividades, tipo de pessoal necessário e a dotação instrumental. Será um sistema integrado no qual haverá íntima relação e coordenação entre seus os seus vários níveis. Cada nível, inclusive o rural poderá estar dotado de instituições de tipos diferentes..."

 Mais do que uma rede tecnicamente definida queria-se , como o projeto de Paulínia, a participação da população na gestão dos serviços de saúde, a sua maior capacitação quanto à apropriação do saber médico, pela ruptura com a velha educação sanitária substituída por uma prática pedagógica democrática e organizativa dos movimentos sociais. No âmbito da relação dos serviços com a população e mesmo da relação médico paciente, queria-se romper com as práticas autoritárias subsmissas da clientela que reproduziam a relação de denominação social.
Muitos programas médico-assistencias e preventivos foram criados a nível do Centro de Saúde-Escola de Paulínia ou interrelacionados com a instituições públicas locais: a saúde escolar; o programa de criança, de gestante, a clínica de família, dentre outros.

Mas o departamento através do Laboratório de Educação Médica e Medicina Comunitária-LEMC, criado no início dos anos 70, contribuia refletindo criticamente o modelo de atenção médica vigente, recriando propostas de novos modelos. Neste sentido efetivou-se uma prática reflexiva e de intervenção, que ultrapassou o âmbito da Universidade, atingindo outras instituições como as Prefeituras Municipais de Campinas e região no sentido de se reoganizar os serviços de saúde, mediante assessoria do LEMC. Esta instância departamental também abarcou o ensino extra-curricular a um conjunto de monitores, alunos da graduação médica, que se treinaram nas perspectivas planejadas de recriação de novos modelos de organização dos serviços de saúde. Os frutos deste trabalho foram imensos na capacitação de pessoal e na modificação de outros serviços locais de saúde.

 A nível do ensino médico procurava-se reformular o modelo preventivista em sintonia com uma reflexão teórica em torno da Medicina Social, da Epidemiologia e das Ciências Sociais, tomando-se novas bases determinantes do processo saúde e doença que não fosse apenas modelo biológico, mas a conjugação do biológico e do social, bem como repensando as novas bases estruturais interpretativas da organização dos serviços de saúde e da política de saúde, que não fossem as oriundas das teorias sistêmica e funcional.

 Estes foram os pilares teóricos do "Movimento Sanitário" nacional, que nasceu em alguns departamentos de Medicina Preventiva, no qual este departamento inseriu-se e no momento insere-se. Foi este Movimento um dos protagonistas das grandes mudanças constitucionais, há pouco conquistadas na formação do Sistema Único de Saúde - SUS.

Nossa experiência departamental foi decepada em 1975-1976. Foram anos de graves crises instituconal e política, que resultaram na saída do departamento de muitos colegas docentes. Restou aqui um grupo reduzido de professores que procurou resistir a lutar pela manutenção da perspectiva da Medicina Social. A este grupo, posteriormente agregaram-se outros docentes e outros mais que também chegaram para definir, noutras bases, a continuidade do Departamento.

 Mudanças ocorreram no pós 75. Áreas foram reforçadas, como a epidemiologia clínica e a saúde ocupacional, outras persistiram com pouca ênfase, como a medicina social, a epidemiologia social, e as ciências sociais; outras foram extintas como o trabalho educativo e de participação comunitária na gestão dos serviços de saúde, outras ainda mantiveram-se e cresceram, como a área assistencial de Paulínia.

Foi um momento em que se separaram, mais nitidamente, as áreas assistencial de Paulínia e a não vinculada à assistência, a qual irônicamente designava-se como pertencente aos "teóricos" que ficavam nos gabinetes do departamento. Esta separação, produziu o distanciamento de uma parte das disciplinas, da prática dos serviços, o que, hoje, não julgamos mais pertimente para o crescimento departamental.

 A partir 1978, com a presença do Dr. Nelson Rodrigues dos Santos na direção do Centro de Saúde-Escola de Paulínia, ampliou-se a rede de serviços de saúde, com a criação de postos periféricos articulados àquele Centro, consolidando-se uma linha assistencial de extensão de cobertura e de desenvolvimento dos serviços públicos, em consonância com propostas alternativas vigentes a nível da política nacional de saúde.

 Em síntese uma segunda etapa deste Departamento, vivido no período 1976-1982 representou a reestruturação do que restou do período anterior, mas enfatizando-se novas áreas disciplinares, como a Epidemiologia Clínica e a Saúde Ocupacional e Ambiental. O Departamento cresceu, criou-se o Curso de Especialização em Medicina do Trabalho, formando médicos para o trabalho das empresas. Manteve-se ainda vivo um repensar pedagógico no âmbito das distintas áreas de modo a garantir a qualidade do ensino médico de graduação e a permanência do pensar em Medicina Social, por parte de alguns docentes do Departamento.

 Docentes integrados ao Departamento produziam suas teses de doutoramento, aperfeiçoando-se na formação acadêmica e de pesquisa. A rede de saúde de Paulínia manteve-se e expandiu-se bem como novos serviços assistenciais produziram-se, como exemplo a àrea ambulatorial hospitalar de medicina ocupacional e a assessoria às empresas. Contribuições trouxeram neste sentido, no decorrer do período assinalado os Drs. Manildo Fávero, na qualidade de Coordenador do Departamento (1976-1983) e o Dr. René Mendes, como Coordenador da área de Saúde Ocupacional.

 A partir da metade da década dos anos 80, sob os comandos dos Doutores Luiz Jacintho da Silva (Coordenador do Departamento 1984-1986), e de Gastão Wagner de Souza Campos (Cooedenador do Centro de Saúde-Escola de Paulínia) e de outros colegas contratados, esforços concentraram-se na diversificação institucional da rede de saúde de Paulínia, com a criação e funcionamento do Hospital Municipal de Paulínia, de nível de complexidade secundária. Este hospital referenda-se ao Hospital das Clínicas da Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP, de nível terciário de complexidade.

 Não só melhorou-se a extensão e qualidade dos serviços locais de saúde, como criaram-se melhores condições para o ensino médico na rede a favor da formação geral do médico, meta esta incorperada pelo Departamento e pela escola médica. A formação desta rede que trouxe a marca e a presença de nossos docentes, antecipou um modelo de municipalização de serviços locais de saúde que hoje expande-se no país.

 Uma nova etapa abriu-se para o Departamento a partir de 1982, mediante um processo de democratização que resultou na implantação do processo bienal de eleição para a função de Coordenador e na formação de um Conselho Departamental representativo, das categorias docentes, funcionários e residentes. Foram Coordenadores eleitos, a partir de então Dr. Reginaldo Zaccara de Campos (1983-1984); Dr. Luiz Jacintho da Silva (1984-1986); Dr. Everardo Duarte Nunes (1986-1988) e Dra. Ana Maria Canesqui (1988-1990 e 1990-1992).

 Nesta etapa expandiram-se os cursos de pós-graduação, com a retomada da residência médica, que sofrera um refluxo no período anterior. Foram criados os Programas de Mestrado e Doutorado em Saúde Coletiva e o Curso de Especialização em Saúde Pública. Reformularam-se conteúdos programáticos de ensino, bem como, desenvolveu-se mais intensamente a produção científica dos docentes e de alunos dos cursos de Mestrado e Doutorado. Melhorou também a extensão e a qualidade da rede de serviços de saúde de Paulínia.

 Hoje o nosso desenvolvimento institucional projeta-se para maior integração do conjunto de disciplinas aos serviços de saúde, mediante investigação assessorias e abertura de novos serviços junto à rede de saúde, como a vigilância epidemiológica e saúde do trabalhador, bem como, para a institucionalização da Saúde Pública na Universidade.

 Os 25 anos que comemoramos representaram o trabalho de muitos, um constante repensar, uma docência contínua junto aos nossos alunos para incluir-lhes o conteúdo e significado da Saúde Coletiva e suas distintas áreas, uma grande preocupação com a investigação e com a implantação e o aperfeiçoamento da organização dos serviços de saúde à nível local e nacional. 

 

Chefe do Departamento

  • Profa. Dra. Rosana Teresa Onocko Campos 

 

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