Medicina conta história da reforma curricular e entrega prêmio de incentivo ao ensino

A reforma curricular do curso de medicina da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp completa dez anos. Iniciada em 1998 e implantada em 2001, a trajetória de criação do modelo curricular foi resultado de intenso trabalho, debates e reuniões entre professores, alunos e funcionários, durante horas além do expediente normal, finais de semana e feriados.

A atual estrutura curricular do curso de medicina da Unicamp está organizada em módulos de ensino que são desenvolvidos em período integral durante seis anos. Este modelo curricular insere o aluno desde o primeiro ano em atividades de campo, permitindo uma visão da profissão do médico com princípios éticos e responsabilidade social.

Para contar a história da criação deste currículo e discutir perspectivas em relação ao ensino médico da Unicamp, a comissão de graduação em medicina da FCM organizou um seminário sobre os 10 anos da reforma curricular no curso de Medicina da Unicamp. O evento ocorreu na tarde desta terça-feira (4) no auditório da FCM.

“Decidimos fazer uma semana que comemore o ensino. Começamos com a prova prática no sábado, hoje estamos fazendo este evento para contar como foi a trajetória da reforma curricular, especialmente para os alunos que não estavam aqui durante este processo e na quinta-feira fecharemos com o teste Progresso. Que tudo isto suscite reflexões para novas adequações do curso”, disse Wilson Nadruz Júnior, coordenador do curso de graduação em medicina da FCM, durante a solenidade de abertura do seminário.

Rosa Inês Costa Pereira, diretora-associada da FCM disse que o seminário é propício para pensar no passado, ver onde a faculdade se situa e almejar o futuro, estreitando os laços com a comunidade. “Essa mudança veio para ficar. Podemos aperfeiçoar o currículo de medicina. Retroceder, jamais”, disse Rosa Inês.

O diretor da FCM, Mario José Abdalla Saad, disse que a reforma curricular marcou uma época e foi um projeto coletivo que somente uma Universidade com vitalidade poderia empreender. Ele ainda se lembra de reuniões em que participavam até 200 professores. Com a reforma, segundo Saad, criou-se a cultura de que o ensino não é estático. “Não é fácil para um diretor dizer isso, mas a nossa carga horária é muito pesada. Os alunos precisam de tempo para estudar sozinhos, pensar e vivenciar a Universidade, frequentando cursos de filosofia e literatura, por exemplo”, comentou Saad.

Marcelo Knobel, pró-reitor de graduação da Unicamp, ressaltou o projeto Programa Professor Especialista Visitante (PPEV) que traz professores de diversas áreas para auxiliar na graduação. Na FCM, o médico Thomas Maack, da Weill Cornell Medical College de Nova York, Estados Unidos, e a enfermeira Anna Margherita Toldi Bork, do hospital Albert Einstein, foram contemplados com uma bolsa no âmbito do PPEV.

De acordo com Knobel, geralmente, os professores vão em congressos de suas áreas específicas e raras vezes vão a congressos de ensino. Esta é uma deficiência que precisa ser sanada, na opinião do pró-reitor de graduação. Por isso, a Pró-Reitoria de Graduação criou o Espaço de Apoio ao Ensino e Aprendizagem para workshops, oficinas de ensino de diferentes áreas. O objetivo é trazer especialistas de mundiais no ensino e enviar grupos de professores da Unicamp para conhecer a experiência de outros países na área de ensino de graduação.

“Vamos lançar um edital até o final deste ano para isto. Queremos colocar a discussão da graduação num primeiro plano, como ela realmente merece. Deixo para vocês dois desafios: saber onde estão os ex-alunos e qual o impacto deles para o país e a flexibilização dos currículos e a internacionalização”, revelou Knobel.

Durante o seminário, Angélica Maria Bicudo Zeferino, Emílio Carlos Elias Baracat e Sigisfredo Luis Brenelli relataram aspectos históricos do processo de reformulação do currículo. Wilson Nadruz Júnior apresentou o livreto “O médico que formamos”. O professor Thomas Maack falou sobre as perspectivas da educação médica. “A velocidade do aumento das informações das ciências básicas é vertiginosa. O médico vai ter que aprender a como aprender durante a sua vida toda”, disse Maack. Para Brenelli, hoje não adianta formar médicos que não sabem se comunicar adequadamente. “A sociedade é outra e saúde se faz com interdisciplinaridade”, disse o professor da FCM e diretor do Departamento de Gestão da Educação na Saúde (DEGES) do Ministério da Saúde.

 

Prêmio Miguel Tobar Acosta

No final o seminário foi entregue o prêmio de incentivo ao ensino de graduação Prof. Dr. Miguel Ignácio Tobar Acosta. O nome da premiação, criada em 2005, é uma homenagem ao médico fundador do Departamento de Medicina Preventiva e Social da FCM, Miguel Tobar que, já na década de 70, incentivava os alunos de medicina às atividades “extra-muro”. Inovador, Tobar enxergava os alunos fora da universidade, nas casas dos pacientes.

O ganhador de 2011 foi o professor Luciano de Souza Queiroz, do Departamento de Anatomia Patológica da FCM da Unicamp. A professora Eliana Ingrid Amstalden Bertolo fez um discurso embargado sobre a indicação de Luciano. Uma das qualidades de Queiroz, segundo Ingrid, é a dedicação em ensinar, mesmo aos finais de semana. “Você é um exemplo da simplicidade, da nobreza de caráter e do perfeccionismo. É um modelo a ser seguido”, disse Ingrid.

Aluno da 7ª turma do curso de medicina, Luciano conheceu Miguel Tobar. Ele se lembrou das aulas com o professor Miguel Tobar e disse que ele era um pioneiro que marcava terreno. Emocionado, disse que é avesso a homenagens e exposição pública e que prefere estar na sala de aula com os alunos.  Sobre o prêmio, Luciano disse que o repartia com seus colegas de Departamento, pois sem eles o curso não seria o que é. “Dentro da medicina há dois pilares: a clínica e a anatomia patológica. Ninguém faz nada sozinho. O prêmio representa isto. Estou muito feliz”, declarou Queiroz.

Em 2006, os professores premiados foram Emílio Carlos Elias Baracat, Sigisfredo Luís Brenelli e Angélica Maria Bicudo Zeferino. Em 2007, a ganhadora foi Eliana Martorano Amaral. Em 2008, Sarah Monte Alegre e Márcia Regina Nozawa receberam o prêmio. Em 2009, os ganhadores foram os professores Flávio Cesar de Sá e Maria Cecília Marconi Pinheiro. Em 2010, Patrícia Moriel, Teresa Ribeiro de Freitas Rossi e Maria Ângela Reis Góes Monteiro foram as ganhadoras do “Prêmio de Incentivo ao Ensino de Graduação Prof. Dr. Miguel Ignácio Tobar Acosta”.

 

Texto: Edimilson Montalti – ARP-FCM/UNICAMP
Fotos: Edimilson Montalti, Mercedes Souza e Adilson Piaza