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I Forum Nacional de Racionalidades Médicas e Práticas Integrativas em Saúde

 

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Aconteceu o I Fórum Nacional de Racionalidades Médicas e Práticas Integrativas em Saúde nos dias 25 a 28 de abril de 2012, na Universidade Federal Fluminense (UFF), Niterói, RJ.

O grupo de pesquisadores do Lapacis apresentou 10 trabalhos, os quais você confere abaixo. Além das Apresentações Orais e dos Pôsters Eletrônicos, tivemos uma séria de conferências, mesas redondas e discussões que alimentaram e fortaleceram o movimento em prol das PIC e Racionalidades Médicas no SUS, ampliando os horizontes do nosso trabalho e da saúde pública e coletiva.

Confira em nosso site a Carta de Niterói, redigida ao final do evento em deliberação dos participantes presentes.

 

Trabalhos apresentados no I Forum Nacional de Racionalidades Médicas e Práticas Integrativas em Saúde

A PEDAGOGIA SOCIAL ANTROPOSOFICA APLICADA AO PLANEJAMENTO DE UM GRUPO DE PESQUISADORES EM PRATICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES EM SAÚDE. 
SILENE DE LIMA OLIVEIRA - UNICAMP, ELIS STELLA MELLO DE OLIVEIRA - ESCOLA ASSOCIATIVA WALDORF VEREDAS, NELSON FILICE DE BARROS - UNICAMP 

O Sistema Unico de Saude carece de profissionais com formacao nas Praticas Integrativas e Complementares (PIC), o que tem mobilizado gestores e pesquisadores na construcao de grupos de pesquisa, atraindo diferentes profissionais interessados. O objetivo deste trabalho é analisar a experiencia da aplicacao da pedagogia social antroposofica ao planejamento de um grupo de pesquisadores de PIC. Em 2011, por ocasiao de uma reuniao de avaliacao e planejamento de um grupo de pesquisadores de PIC foi aplicada a pedagogia social, baseada na antroposofia. Os participantes foram convidados para uma imersao de 24 horas em espaço afastado de seu local de trabalho e propício para o desenvolvimento de processos coletivos. Três eixos organizaram os trabalhos: o pensar, o sentir e o querer, inspirados no conceito da trimembracao de Rudolf Steiner. No local destinado ao “sentir” foram realizadas, em dois momentos, a audicao de contos terapeuticos e musica, utilizados para auxiliar os processos reflexivos. No espaco do “pensar” foram disponibilizados papel, canetas e outros materiais, onde eram construidas e sintetizadas as idéias criativas coletivas. No espaco do “querer” ocorreram a sintese do evento com a elaboracao de um plano de acao para 2012. No inicio ou termino de cada atividade foi proposta pratica corporal, como ioga e exercicio de equidistancia, patica artistica com aquarela, alem da audicao dos contos e musica. A estratpegia disparadora do processo de planejamento se deu no plano individual, com a formulação de perguntas dos membros para o grupo, procedendo-se à escolha de duas perguntas-chave representativas do grupo, que foram trabalh adas em sub-grupos. No final, o lider do grupo fez a sintese das discussoes apresentando uma proposta de planejamento pautado na condicao atual do grupo, frente a suas necessidades e capacidades. Uma semana após o Grupo se reuniu novamente no local de trabalho e inspirado na sociocracia elegeu um colegiado gestor do Grupo, para auxiliar o lider na conducao dos trabalhos coletivos. Conclui-se que estas estrategias contribuiram para colocar os pesquisadores mais próximos dos preceitos das PIC, ao vivenciarem a trimembração, a construcao do conhecimento de si, no grupo, e do grupo, por meio de uma pratica reflexiva sensivel e solidaria. 

FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM MEDICINA ALTERNATIVA E COMPLEMENTAR: REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA
SILENE DE LIMA OLIVEIRA - UNICAMP, MELISSA ROSSATTI DUVAL - UNICAMP, JUAN GUZMAM QUISPE-CABANILLAS - UNICAMP, CARMEM LUCIA DE SIMONI - UNICAMP, NELSON FILICE DE BARROS - UNICAMP 

A Organização Mundial da Saúde tem estimulado mais enfaticamente a incorporação das Medicina Alternativas e Complementares (MAC) nos sistemas nacionais de saúde de seus países membros, principalmente a partir do documento Estratégias 2002-2005. Em 2006 foi publicada a Portaria 971, que implantou a Homeopatia, Medicina Chinesa/Acupuntura, Fitoterapia, Termalismo e Medicina Antroposófica, na atenção primária no Sistema Único de Saúde (SUS). Assim, a formação de recursos humanos para atender a população, no contexto de saúde pública, torna-se uma exigência. O objetivo deste trabalho é analisar a literatura sobre a formação profissional em MAC. Foi realizada uma revisão sistemáti ca na base de dados do PUBMED/MEDLINE e identificados 16 artigos c om as palavras “curricula of CAM providers” e 51 com "CAM and medical education providers". Etapas sucessivas de busca e seleção foram realizadas por diferentes pesquisadores, cumprindo as etapas de identificação das publicações, eliminação das duplicatas, leitura dos resumos e leitura integral dos artigos. Das 67 referências identificadas foram selecionadas 17, nas quais se observou que: 1) a maioria das experiências ocorreu nos Estados Unidos da América, no contexto de programas de residência em medicina da família, embora haja registros no ensino de graduação e pós-graduação. 2) Dos conteúdos oferecidos destacaram-se: a) pesquisa baseada em evidências e MAC, b) relação médico-paciente, c) cuidado centrado no paciente, d) ênfase na autorreflexão e autocuidado, e) estratégias de comunicaç ão entre os profissionais das MAC e os da medicina convencional, f) complementaridade das MAC em relação à medicina convencional, e g) atuação na lógica da salutogênese e não da patogênese. 3) A formação em MAC interferiu no profissionalismo, à medida que enfatizou aspectos humanos, espirituais e relacionais ao âmbito profissional e pessoal. 4) As estratégias de ensino foram aulas teóricas, workshops, leitura, estudo de caso, observação e atendimentos em centros de MAC. 5) Os alunos sugerem que os professores tenham maior experiência no uso de MAC e explorem atividades teórico-práticas. Conclui-se que a formação em MAC é uma área emergente no mundo e com grande potencial para a Estratégia da Saúde da Família no Brasil, sobretudo focando as necessidades de promoção da saúde e da atenção primária no SUS.

 

NATUROLOGIA E A EMERGÊNCIA DE NOVAS PERSPECTIVAS NA SAÚDE 
NELSON FILICE DE BARROS - LAPACIS, ANA CLAUDIA MORAES BARROS LEITE MOR - LAPACIS

O objetivo deste trabalho é refletir sobre a Naturologia como novo agente no campo da saúde brasileiro e suas peculiaridades relativas à convergência com a perspectiva social atual e contribuições à problemática contemporânea da saúde. Para isso, debatemos com a ciência moderna e suas transformações, a partir da “revolução fenomenológica”, que refuta o objetivismo, a neutralidade e a separação sujeito-objeto, e da “revolução quântica”, que atestou a insuficiência da mecânica clássica e a não-linearidade do tempo. Ademais, a área da saúde vivencia, desde a segunda metade do século XX uma dupla crise, designadas por Madel Therezinha Luz de Crise da Saúde e Crise da Medicina. Estas crises são concernentes à falência do “projeto da modernidade”, ou seja: da perspectiva desenvolvimentista, instaurada pelas revoluções Francesa e Industrial e pautada na crença de um tempo linear, que aposta em um futuro luminoso capaz de dar respostas às obscuridades e infortúnios humanos. Estes são os alicerces da nossa reflexão, por um lado, sobre a proposta da Naturologia e suas implicações epistemológicas e sociais para o campo da saúde; por outro, sobre a estruturação do seu saber, apoiada na metáfora da árvore do conhecimento elaborada neste estudo. Procuramos evidenciar como as bases, princípios e diretrizes da Naturologia podem se solidificar pautadas em movimentos atuais do campo da saúde. Enfatiza-se que a Naturologia está atrelada ao contexto contemporâneo em que se encontra a ciência e a epistemologia, e que é neste contexto, que vemos a possibilidade de a naturologia trazer transformações necessárias para as experiências de saúde-doença no campo da saúde. Formalizar a naturologia é um processo desafiador e põe em questão a própria forma de colocar-nos no mundo.

 

PRÁTICAS INTEGRATIVAS NO ENSINO DE ENFERMAGEM DA FACULDADE DE JAGUARIÚNA
PAULA CRISTINA ISCHKANIAN - FSP/USP, SILENE DE LIMA OLIVEIRA - LAPACIS/UNICAMP, ANTÓNIO RODRIGUES FERREIRA JÚNIOR - LAPACIS/UNICAMP 

Em fevereiro de 2011, a Coordenação Nacional de Práticas Integrativas e Complementares ligada ao Ministério da Saúde, elaborou um Relatório de Gestão 2006/2010 das Práticas Integrativas e Complementares no SUS considerando a formação e qualificação de profissionais um dos principais desafios para implementação da Política (PNPIC). Atualmente, um número ínfimo de cursos superiores na área da saúde tem se atentado à importância e urgência de modificação em suas matrizes curriculares de modo a inserir o ensino das PIC em suas graduações, o que favoravelmente, ocorreu em 2011 no curso de Enfermagem da Faculdade de Jaguariúna, no interior de São Paulo. A proposta da disciplina denominada Práticas Integrativas e Saúde Sustentável foi feita por uma docente do curso, naquela ocasião, e também pesquisadora do Laboratório de Práticas Alternativas, Complementares e Integrativas em Saúde – LAPACIS/UNICAMP, sendo aceita e inserida na grade do 4º semestre com carga horária de 40h. A ementa da disciplina se constituiu em: estudar as práticas integrativas e complementares em saúde contextualizadas às Políticas Nacionais de Saúde (PNAB, PNPS e PNPIC); conhecer os fundamentos básicos das Racionalidades Médicas (RM) – MTC, Homeopatia, Ayurveda e Antroposofia; conhecer práticas terapêuticas não-convencionais de intervenção e cuidado de Enfermagem; estudar suas implicações na saúde individual e coletiva por meio de conduta sustentável e ecoeficiente na práxis do enfermeiro. Como objetivos definiu-se: 1)Estudar as práticas integrativas e complementares contempladas pela Política (PNPIC) no SUS, bem como conhecer práticas de saúde não convencionais; 2)Estimular a reflexão crítica a partir do conhecimento das RM e das PIC; 3)Ampliar os recursos terapêuticos da Enfermagem com a utilização de práticas integrativas e complementares. Visando contemplar o conteúdo da disciplina, o Programa foi dividido em 5 Unidades assim configuradas: 1: Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC): Objetivos; Diretrizes e processos de implementação; Medicina Tradicional Chinesa, Homeopatia, Plantas medicinais e fitoterapia, Termalismo e crenoterapia, Medicina Antroposófica; 2: Racionalidades médicas: conceitos e perspectivas; Homeopatia, Medicina Tradicional Chinesa, Medicina Antroposófica, Medicina Ayurvédica; 3: Práticas Complementares aplicadas à Enfermagem: fundamentos básicos de práticas não-convencionais; 4: Saúde sustentável: sustentabilidade e ecoeficiência na utilização das PIC, implicações na saúde individual e coletiva na práxis do enfermeiro; 5: Apresentação de Seminários. O impacto desta disciplina foi bastante positivo na formação dos alunos que a cursaram, destacando-se o interesse de alguns deles pelas PIC como tema do Trabalho de Conclusão do Curso - TCC que deverá ocorrer daqui há 24 meses. Além disso, um grupo de alunas do 8º semestre, ao saberem da existência da disciplina escolheram como temática do TCC, o estudo das Plantas Medicinais. 

PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES NA FORMAÇÃO ODONTOLÓGICA PÚBLICA E PRIVADA
CAMILA DA SILVA GONÇALO - FCM - UNICAMP, FÁBIO LUIZ MIALHE - FOP-UNICAMP, JULIANA PASTI VILLALBA - UNIP, NELSON FILICE DE BARROS - FCM-UNICAMP 

De acordo com o Conselho Federal de Odontologia, são consideradas Práticas Integrativas e Complementares (PIC) em saúde bucal: Acupuntura, Laserterapia, Homeopatia, Hipnose, Terapia floral e Fitoterapia. O objetivo deste estudo é identificar as percepções de estudantes de odontologia sobre as PIC. Foi utilizado um instrumento semi-estruturado para a coleta de dados quanti-qualitativos de 97 estudantes de odontologia do último ano, sendo 61 alunos de uma universidade pública (UPU) e 36 estudantes de uma universidade privada (UPR). Na UPU, 95% (n=58) dos estudantes tinham idades entre 20 e 25 anos; 40% (n=24) conhecia as PIC; 15% (n=9) respondeu que a faculdade foi a principal fonte desse conhecimento; 80% (n=49) considerou que o ensino de graduação em PIC era importante. Na UPR, 61% (n=22) dos estudantes tinham idades entre 20 e 25 anos; 78% (n=28) conhecia as PIC; 44% (n=16) respondeu que a mídia foi a principal fonte desse conhecimento; 89% (n=32) considerou que o ensino de graduação em PIC era importante. Verifica-se que em relação a idade, a faixa etária predominante está entre 20 e 25 anos, tanto na UPU (95,5%; n=58) quanto na UPR (61%;n=22). Declararam conhecimento sobre as PIC 40% (n=24) dos estudantes da UPU e 78% (n=28) dos estudantes da UPR. A forma de conhecimento das PIC apontada pelos alunos da UPU foi o “meio acadêmico” (15%, n=9) e na UPR foi a “mídia”. Ressalta-se a importância da inclusão do ensino das PIC, pois essa medida vem de encontro com as propostas das Diretrizes Curriculares Nacionais que preconizam o ensino odontológico aberto às demandas sociais, priorizando a atenção à saúde universal e com qualidade, enfatizando a promoção da saúde e prevenção de doenças. Além disso, é necessário que o ensino universitário odontológico inclua modos ampliados de cuidado em saúde, sendo este um dos principais meios para reduzir o preconceito, bem como a discriminação. É também necessária a inclusão das PIC na formação odontológica principalmente para reforçar o cuidado holístico, fundamental na resolução questões de saúde que o modelo biomédico não alcança resolver e que atualmente representam uma parcela significante de problemas que afetam a população mundial. O desafio neste cenário seria, portanto, traçar estratégias para a elaboração de currículos que contemplem uma abordagem ampliada da saúde, buscando a articulação e a inclusão de diferentes enfoques e disciplinas.Conclui-se que há interesse dos estudantes de odontologia no aprendizado e possível uso dessas terapias na sua vida profissional. No entanto, é possivel que a diferença na formação odontológica oferecida pela UPU e UPR explique as diferentes pecepções, pois na UPU o ensino enfatiza a pesquisa, enquanto na UPR a educação odontológica é voltada para o mercado. Apoio financeiro FAPESP processo no. 2010/05217-0. 

 

CONDICIONAMENTOS SOCIAIS NO CAMPO DA SAÚDE: AS MEDICINAS TRADICIONAIS (MT), ALTERNATIVAS E COMPLEMENTARES (MAC) COMO MARCADORES DE DISTINÇÃO SOCIAL EM SITUAÇÃO DE ADOECIMENTO CRÔNICO 
CRISTIANE SPADACIO - UNICAMP, NELSON FILICE DE BARROS - UNICAMP 

Com base na teoria de Pierre Bourdieu de distinção social, este trabalho pretende analisar os padrões de diferenciação social e distinção cultural dos cuidados em saúde no sistema de saúde brasileiro. Este paper baseia-se em pesquisa que busca entender em que medida o uso da Medicina Tradicional(MT) e das Medicinas Alternativas e Complementares (MAC) por pacientes com diabetes tipo 2 está relacionada com um processo distinção social entre classes. Os dados são provenientes de entrevistas em profundidade realizadas com oitenta pacientes com diabetes tipo 2 em um serviço público (40) e em uma clínica privada (40) de diabetes na cidade de Campinas, São Paulo, Brasil. Transcrições das entrevistas foram analisadas a fim de explorar como a posição dos pacientes em uma determinada classe social é constituinte das percepções dos pacientes acerca dos tratamentos não convencionais. Verificou-se que a escolha por tratamentos não convencionais parece estar relacionado à posição do sujeito em uma determinada classe social. Argumenta-se que as diferenças na escolha pelo de MT e MAC podem ser analisados como marcadores de distinção social no Brasil. Segundo a teoria de Bourdieu, o gosto (neste caso, as escolhas por tratamentos com MT e MAC) é um dos significantes-chave para se compreender a identidade social. Esta pesquisa busca contribuir para a compreensão tão necessária da relação entre práticas culturais e posição de classe social no contexto da Sociologia da Saúde. 

 

AS DIFERENTES DIMENSÕES DO AMBIENTE NA ANÁLISE DOS PROCESSOS TERAPÊUTICOS: O CASO DE ILHABELA, SP
DRA SILVIA MIGUEL DE PAULA PERES - LAPACIS - NEPAM - UNICAMP, DRA SÔNIA REGINA DA CAL SEIXAS - NEPAM - UNICAMP 

Almejando contribuir para o desenvolvimento de temas relevantes para pesquisas em Racionalidades Médicas e Práticas Integrativas e Complementares em Saúde, este artigo procura discutir os processos terapêuticos a partir do ambiente como categoria de análise, fundamentando a atuação das diferentes vertentes terapêuticas no município de Ilhabela, São Paulo. Nesse aspecto, o presente trabalho se abre ao questionamento das rupturas das relações ser humano – natureza, que criam representações singulares sobre o ambiente e constroem diferentes caminhos que levam à eficácia ou não dos tratamentos das doenças, estes últimos, vistos como processos relativos e localizados. As vertentes terapêuticas são aqui identificadas como as linhas ou correntes de pensamento que orientam as diferentes práticas de cura. A maneira como cada terapeuta articula seu conhecimento adquirido à sua arte de curar, associada à sua percepção singular de doença, levou a questionamentos interessantes a respeito das diferentes dimensões do ambiente apropriadas pelo processo terapêutico. A partir das pesquisas realizadas sobre causalidade e eficácia de cura, pluralismo e itinerário terapêutico, foi possível construir uma concepção de corpo representado como um feixe de relações que ultrapassam a cisão natureza/cultura. Essa idéia abre-se para a conexão do corpo com o seu meio, ou com o seu hábitat, e se insere nos processos terapêuticos por uma visão ampla de ambiente. Levando em consideração essa abertura, o ambiente de Ilhabela foi representado por três visões distintas e complementares: O primeiro aspecto corresponde à sua dimensão biofísica e ecológica, nesse caso, os processos terapêuticos foram investigados no que tange à ligação direta com as transformações socioambientais sofridas desde as primeiras explorações econômicas coloniais até as mais atuais, ligadas ao turismo e à urbanização. O segundo diz respeito ao seu significado socialmente construído e apropriado pelos terapeutas, conduzindo um processo que leva à religação do ser humano ao seu hábitat, reconstruído de maneira mais saudável e sustentável. O terceiro aspecto é referente à dimensão antropológica do ambiente, ligado às diversas representações de natureza, de doenças e de cura, neste ponto, as diferenças culturais entre os entrevistados revelaram as associações entre o mundo sobrenatural e orgânico do ser. O presente estudo trabalhou com paradigmas que estão se ampliando e conduziram a enxergar o corpo e a natureza como sistemas análogos, já que interagem. Logo, esta compreensão justifica-se como um campo de investigação que poderá contribuir para a reflexão sobre o alcance cognitivo das relações entre o ambiente e a sociedade, levantados pelas diferentes práticas de cura realizadas em Ilhabela. 

 

INOVAÇÕES NO CUIDADO DA CONDIÇÃO CRÔNICA: REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA DO USO E EFEITO DO YOGA NO TRATAMENTO DO DIABETES MELLITUS 
CECÍLIA MUZETTI DE CASTRO - UNICAMP, NELSON FILICE DE BARROS - UNICAMP 

Doenças crônicas, como o diabetes mellitus (DM), apresentam longa duração, lenta progressão e estão entre as principais causas de mortalidade atualmente. As bases terapêuticas medicamentosas para o tratamento destas doenças não tem sido exitosa e, por isso, a Organização Mundial de Saúde propôs a introdução de inovações no cuidado, que extrapolam o modelo biomédico e incluem intervenções comportamentais, principalmente no que tange às dietas alimentares e hábitos sedentários. No Brasil, o yoga e outras práticas corporais foram introduzidas no Sistema Único de Saúde por meio da Portaria 719, de 7 de abril de 2011, com a criação do Programa da Academia de Saúde, pelo Ministério da Saúde. O objetivo deste trabalho é analisar os usos e efeitos do yoga no cuidado de pessoas em tratamento de DM. Foi realizada uma Revisão Sistemática da Literatura na base de dados “Pubmed/Medline”, com a combinação das palavras-chave “yoga and diabetes”, até setembro de 2011. Foram incluídos os estudos que efetivamente utilizaram o yoga como modalidade de cuidado em saúde e revisões da literatura sobre o tema, sem restrição de idioma, e foram excluídos os artigos indisponíveis na íntegra e online. Foram identificados e analisados 55 artigos e desses 14 foram selecionados, sendo 3 de revisão e 11 de aplicação clínica. Dentre os 11 artigos, 6 utilizaram metodologia quantitativa, 1 qualitativa e 4 multimétodos. Em relação a tradição do yoga empregada para o tratamento do DM a maioria dos artigos não mencionou a tradição utilizada, embora 2 trabalhos relatem o uso de hatha yoga, 1 de Iyengar yoga, 1 de ashtanga yoga e 1 de vinyasa yoga. A descrição das técnicas de yoga aplicadas ao tratamento, muitas vezes, ficou imprecisa nos artigos, mas a maior parte usou asanas (posturas psicofísicas) e pranayamas (controle respiratório). Ainda em relação às técnicas 1 estudo incluiu material educativo, 1 apenas asanas e 1 somente yoganidra (relaxamento profundo). Em geral, os estudos analisados sugerem transformações positivas em vários índices fisiológicos e psicológicos, incluindo a tolerância à glicose e sensibilidade à insulina, perfil lipídico, índice de massa co rporal, pressão arterial, estresse oxidativo, além do aumento da percepção de bem-estar, auto-estima e redução da ansiedade. Conclui-se que o Yoga pode ter efeitos terapêuticos positivos, além de ação protetora e de prevenção sobre o diabetes mellitus, bem como pode auxiliar na prevenção e gestão de comorbidades. No entanto, as limitações que caracterizam a maioria dos estudos impede tirar conclusões robustas e apontam para a necessidade de outras investigações que corelacionem os efeitos desencadeados pelos usos do yoga no cuidado de pessoas acometidas pelo diabetes mellitus. 
Palavras-chave: Doenças Crônicas, Diabetes Mellitus, Terapias Alternativas e Complementares, Yoga, Saúde Coletiva 

 

YOGA E PROMOÇÃO DA SAÚDE
MARIA RENATA ROTTA FURLANETTI - UNICAMP, NELSON FILICE DE BARROS - UNICAMP, PAMELA SIEGEL - UNICAMP, THAIS ADRIANA CAVALARI - UNICAMP, ANDREA VASCONCELOS GONÇALVES - UNICAMP, SORAIA MOURA - UNICAMP, LUIS GERALDO SILVA - UNICAMP 

A Organização Mundial da Saúde tem estimulado a incorporação das práticas integrativas e complementares, entre elas o yoga, nos sistemas nacionais de saúde de seus países membros. No Brasil, o yoga e outras práticas corporais foram introduzidos nos Sistema Único de Saúde por meio do Programa da Academia de Saúde, do Ministério da Saúde. Entre agosto e dezembro de 2011 foi desenvolvido o programa "Yoga e Promoção da Saúde", na Faculdade de Ciências Médicas, da Unicamp, para funcionários, docentes e alunos. O programa consistiu em aulas de yoga, incluindo técnicas corporais, respiratórias e conteúdo filosófico, que foram ministradas as terças e quintas-feiras, durante 1h por dia. Para avaliar os resultados do Programa os participantes preencheram um instrumento adaptado do Measure Yourself Medical Outcome Profile (Mymop), nos momentos de ingresso, meio e final do período, e com ele registrou-se a percepção de sintomas dos participantes. O objetivo deste trabalho é analisar a mudança na percepção dos participantes sobre os sintomas declarados no início do Programa. Inicialmente, 18 participantes responderam à aplicação do Mymop, posteriormente 17 e 12, mas apenas 8 participaram dos três momentos. Entre eles 7 são do sexo feminino e 1 masculino, com idades entre 23 e 48 anos. Dos 8 que participaram dos três momentos, 5 (62,5%) apresentaram melhora na percepção do sintoma declarado, qual seja, ansiedade, dor de cabeça, dor articular, dor no estômago e dor no joelho; 2 (25%) não perceberam variação na intensidade dos sintomas de asma e formigamento nas pernas; e um (12,5%) percebeu agravamento da dor nas costas e pernas. É possível afirmar que com a prática de yoga a maior parte dos participantes percebeu melhora na intensidade dos sintomas declarados. No entanto, é fundamental observar que 25% dos participantes não perceberam alterações e 12,5% percebeu piora nos sintomas. Embora seja claro o limite estatístico deste trabalho, conclui-se, todavia, que o yoga deve ser tratado como uma prática corporal promotora de saúde para a maioria e não para todos os seus praticantes.