O consumo de alimentos saudáveis está associado a indicadores de saúde mental?

RESUMO

INTRODUÇÃO: Nas últimas décadas, a relação entre alimentação e saúde mental vem sendo crescentemente estudada. Evidências cada vez mais robustas indicam que o consumo frequente de certos tipos de alimentos associa-se a menores prevalências de depressão e de outros transtornos mentais, e com menores prevalências de sentimentos negativos. Essas associações decorreriam da capacidade de alguns nutrientes, presentes nestes alimentos, em auxiliar no equilíbrio da concentração da serotonina no organismo.

OBJETIVOS: Verificar se existe associação entre a frequência do consumo de verduras, legumes, frutas e alimentos integrais e a presença de problemas de saúde mental e de sentimentos negativos.

MÉTODOS: Foram analisados os dados de uma amostra representativa da população de Campinas, composta por indivíduos com 20 anos ou mais que foram entrevistados nos inquéritos ISACamp e ISACamp Nutri. Foram analisadas as frequências semanais do consumo de verduras ou legumes crus, verduras ou legumes cozidos, frutas e alimentos integrais. Posteriormente, essas frequências foram agrupadas em 0 a 1 vez na semana e 5 a 7 vezes na semana para todos os alimentos, exceto para a frequência de consumo dos alimentos integrais, a qual foi agrupada em 0 vezes na semana e 1 a 7 vezes na semana. As variáveis relacionadas à saúde mental incluíram Transtorno Mental Comum (TMC) avaliado pelo instrumento Self-Reporting Questionnaire (SRQ 20), tendo sido classificados como apresentado TMC os indivíduos que apresentaram 7 ou mais respostas positivas; relato de apresentar problema emocional, e, entre esses problemas, apresentar depressão; frequência elevada do sentimento de desânimo e depressão obtida por meio da pergunta “Nas últimas 4 semanas, durante quanto tempo o (a) Sr. (a) se sentiu desanimado e deprimido?” considerando “sempre” como resposta positiva; ausência ou pequena frequência de sentimento de felicidade obtido a partir da pergunta “Nas últimas 4 semanas, durante quanto tempo o sr. (a) se sentiu feliz?” considerando como positivas as respostas “nunca” e “uma pequena parte do tempo”; e insatisfação com a vida pela questão “De um modo geral, quanto o (a) Sr. (a) está satisfeito com sua vida?" considerando “nada satisfeito” como positivo. Foram estimadas as prevalências e as razões de prevalência ajustadas por sexo e idade.

RESULTADOS: Em nosso estudo, podemos observar que o consumo de alimentos como as verduras ou legumes crus foi associado com a menor prevalência de relato de depressão (RP= 0,46), de ausência ou pequena frequência de sentimento de felicidade (RP=0,35) e insatisfação com a vida (RP=0,30). Já o consumo de verduras ou legumes cozidos foi associado com a menor prevalência de TMC positivo (RP=0,56), problema emocional (RP=0,73), relato de depressão (RP=0,42), desânimo (RP=0,41) e ausência ou pequena frequência de sentimento de felicidade (RP=0,45). O consumo de frutas apresentou associação com a menor prevalência de TMC positivo (RP=0,57), ausência ou pequena frequência de sentimento de felicidade (RP=0,44) e insatisfação com a vida (RP=0,41). Já o consumo dos alimentos integrais foi associado a menor prevalência de ausência ou pequena frequência de sentimento de felicidade (RP=0,60).

CONCLUSÃO: O consumo frequente de verduras ou legumes crus, verduras ou legumes cozidos, frutas e alimentos integrais apresentou associação com menores prevalências de indicadores de saúde mental, entretanto, essa associação variou conforme o tipo de alimento. O consumo frequente de todos os alimentos foi associado a menores prevalências de ausência ou pequena frequência de sentimento de felicidade, enquanto que o consumo frequente de vegetais ou verduras cozidas apresentou associação a menores prevalências de quase todos os indicadores de saúde mental e sentimentos negativos.

BIBLIOGRAFIA: MATISON, A.P.; MATHER, K.A.; FLOOD, V.M.; REPPERMUND, S. Associations between nutrition and the incidence of depression in middle-aged and older adults: A systematic review and meta-analysis of prospective observational population-based studies. Ageing research reviews, v.70, p.101403, 2021.

PALAVRA-CHAVE: Alimentação saudável