XIII Semana de Pesquisa - 2022


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Escutando escutas: grupo de estudos e supervisão em grupoterapia breve psicanalítica para pessoas expostas a violência

Autores: Renata Marques Rego Miranda, Rosana Teresa Onocko Campos


Link: https://youtu.be/B7aZBwN7ElI


RESUMO

INTRODUÇÃO: O presente projeto é parte de uma pesquisa financiada pelo CNPq, que visa implementar um ambulatório para pessoas expostas a violência no Hospital das clínicas da Unicamp. A implementação do ambulatório conta com duas ramificações, o NAPEV (Núcleo de Assistência Psicanalítica para pessoas expostas à violência) que oferta grupos terapêuticos a adolescentes e mulheres adultas que foram expostos a situações de violência, residentes em Campinas; e a RASEV (Rede de Apoio e Acompanhamento às Situações de Exposição à Violência) que oferta Apoio Matricial como estratégia de cuidado para os trabalhadores das redes da Assistência Social e da Saúde de Campinas. O ambulatório oferece grupos terapêuticos de orientação psicanalítica breve realizados em oito sessões de 90 minutos, com periodicidade semanal.

OBJETIVOS: A pesquisa objetiva estudar o processo de acompanhamento do grupo de terapeutas responsáveis pela coordenação das oito sessões de terapia psicanalítica em grupo oferecidas a adolescentes e mulheres adultas. Oferecemos às duplas de terapeutas responsáveis pelos atendimentos em 8 sessões um grupo de estudos e supervisão semanal visando fortalecer a escuta psicanalítica ao fenômeno da violência, além de buscar recursos técnicos e teóricos para a clínica de grupos com tempo delimitado, discutindo manejo, intervenções e encaminhamentos, quando necessários. A proposta foi de troca de experiências e de “outras visões”, buscando na sensibilidade e na experiência emocional dos terapeutas as ferramentas para cuidar de cada caso, e amplificando a função analítica de catalisar afetos (Jordão, Verztman, e Castanho, 2021).

MÉTODOS: Será realizado um processo de análise e reflexão sobre o processo do grupo de estudos e supervisão a partir das duas rodadas de grupos terapêuticos em oito sessões, realizadas de junho a setembro (primeiro ciclo) e de outubro a dezembro de 2021 (segundo ciclo). As reuniões semanais do grupo de estudos e supervisão, resultaram num material de registro em diário de campo, com transcrição das falas e, a partir delas, serão desenvolvidas narrativas sobre as experiências de atender, estudar e supervisionar no contexto da escuta psicanalítica grupal ao fenômeno da violência. O presente estudo caracteriza uma pesquisa de implementação participativa, para desenhar, implantar, e posteriormente avaliar um novo dispositivo de supervisão que permita o cuidado com a qualidade da assistência oferecida por um serviço de assistência psicossocial às vítimas de violência de um distrito sanitário de Campinas.

RESULTADOS: Inicialmente estudamos experiências com grupos em contextos de vulnerabilidade social (Castanho, 2018), intervenções psicoterápicas breves (Gilliéron, 1993), escuta psicanalítica no cuidado a violência, trauma (Ferenczi, 1992) e transmissão psíquica transgeracional (Benghozi, 2010). Com o início dos ciclos de 8 sessões, passamos à supervisão de cada uma das sessões grupais. No processo transferencial entre grupo e terapeutas identificou-se o medo de falar sobre a exposição à violência, concomitante à necessidade/urgência de colocar em palavras tais experiências; a identificação das participantes com atuações violentas e com aspectos perversos dos vínculos com os agressores; angústias de separação e abandono em contraponto à possibilidade de ressignificar encontros breves que podem ser significativos e reparadores por serem respeitosos e confiáveis, diferenciando-se de experiências anteriores violentas; desejos por realizações e novas vinculações nos campos afetivo-amoroso, sexual e fraternal. As equipes que trabalham com a especificidade da clínica da violência necessitam de cuidado e suporte para além do preparo teórico e técnico. Os terapeutas dos grupos foram demandados a abrir espaços internos, expandir e engrossar a “pele psíquica” (Anzieu, 1989), aumentando a função de conter e transformar tais conteúdos. Isso foi possível através do conjunto de grupos que compõem a pesquisa do ambulatório, apoiadas sobre o pilar da Rasev. Os grupos que compõem a pesquisa de implementação do ambulatório formaram camadas de acolhimento e espaço para elaboração do fenômeno do trauma. No segundo ciclo de oito sessões realizamos reuniões com toda a equipe, com a mediação da coordenadora do projeto de pesquisa de implementação do ambulatório, para afinar questões relativas ao enquadre; falar sobre o impacto na escuta de experiências violentas, perdas, separações, lutos; e sobre mal-entendidos e conflitos que atravessaram, sem elaboração, a comunicação entre pesquisadores e terapeutas. Com estas reuniões criamos mais um envoltório de cuidado, frente aos "estilhaços" de violência que circulam e penetram, via identificação projetiva (Klein, 1991) nas equipes de saúde mental. A construção desta trama de envoltórios foi amplificando a condição da equipe de ouvir e dar suporte para conteúdos e atuações violentas. Com a ajuda desta rede, avaliamos que foi possível não apenas manter a escuta viva e sustentar a condição psíquica de pensar dos terapeutas até a oitava sessão, como também recuperar alguma ideia de esperança e desejos para o futuro pelos participantes dos grupos.

CONCLUSÃO: Pudemos acessar e acompanhar a angústia presente no atendimento a pessoas expostas a situações de violência, reafirmar a importância de cuidar da formação humanizada destes profissionais e desenvolver um dispositivo de cuidado para a equipe de intervenção psicossocial com melhora da qualidade da escuta psicanalítica ao fenômeno da violência e da assistência em saúde mental.


BIBLIOGRAFIA: Anzieu, D. O eu-pele. São Paulo: Casa do psicólogo, 1989. Bion, W. R. Uma teoria sobre o processo de pensar. In: Estudos psicanalíticos revisados. Rio de Janeiro: Imago, 1962/1988. Castanho, P. (2018). Uma introdução psicanalítica ao trabalho com grupos em instituições. São Paulo: Linear A-barca. Ferenczi, S. (1992). Confusão de língua entre os adultos e a criança. In Psicanálise IV. São Paulo: Martins Fontes. (Original publicado em 1933). Jordão A., Verztman, J. e Castanho, P. (2021). Colóquio A supervisão na psicanálise contemporânea: transmissão do estilo clínico empático. Universidade de São Paulo. https://www.youtube.com/watch?v=J60rlBKG740&ab_channel=InstitutodePsicologiadaUSP Klein, M. As origens da transferência. Obras Completas de Melanie Klein: Volume III Inveja e Gratidão e outros trabalhos (1991). Rio de Janeiro: Imago, 1952/1946.



PALAVRA-CHAVE: Violência, grupos, psicanálise, psicoterapia breve



ÁREA: Saúde Coletiva

NÍVEL: Doutorado

FINANCIAMENTO: CNPq



Faculdade de Ciências Médicas
Universidade Estadual de Campinas
Correspondência:
Rua Tessália Vieira de Camargo, 126. Cidade Universitária Zeferino Vaz. CEP 13083-887 – Campinas, SP, Brasil
Acesso:
R. Albert Sabin, s/ nº. Cidade Universitária "Zeferino Vaz" CEP: 13083-894. Campinas, SP, Brasil.

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