XIII Semana de Pesquisa - 2022


Voltar a lista dos aprovados


Desigualdades demográficas e socioeconômicas na prevalência de deficiências físicas

Autores: Donatila Barbieri de Oliveira Souza, Shamyr Sulyvan de Castro, Margareth Guimarães Lima, Marilisa Berti de Azevedo Barros


Link: https://youtu.be/s-n6pbj1LQU


RESUMO

INTRODUÇÃO: Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) (2011) mostraram que, aproximadamente 15% da população mundial apresentava algum tipo de deficiência ou limitação funcional, sendo 80% dessas pessoas residentes em países em desenvolvimento. No Brasil, 17,3 milhões de pessoas com mais de dois anos de idade declararam algum tipo de deficiência (8,4%) e aproximadamente um a cada quatro idosos estava nesta condição (24,8%) (PNS, 2019). A iniquidade em saúde refere-se às diferenças de saúde entre grupos sociais consideradas evitáveis, injustas e inaceitáveis. Essas desigualdades estão relacionadas a determinantes sociais baseados em nível socioeconômico, gênero, raça/etnia, regiões geográficas, entre outros. As pessoas com deficiência, na maioria dos países, não têm igual acesso a cuidados de saúde, educação e trabalho e sofrem exclusão diária. Estudos anteriores mostraram que alguns grupos populacionais podem ser mais propensos a ter essas deficiências, no entanto, ainda existem várias lacunas no conhecimento deste tema. Os resultados de pesquisas científicas sobre as desigualdades sociais e demográficas nos diferentes tipos de deficiência ainda não são totalmente consistentes. Existem contradições e ambiguidades no conhecimento sobre a associação dos problemas visuais, auditivos e físicos com sexo, raça, renda e nível de escolaridade. De acordo com a Política Nacional de Saúde da Pessoa com Deficiência, 70% dos casos são evitáveis ou mitigáveis com a adoção de medidas adequadas e oportunas. Conhecer as estimativas de prevalência de deficiências, sejam elas visuais, auditivas ou físicas, de acordo com as condições de vida dessas pessoas pode auxiliar na minimização de barreiras e no planejamento de medidas de prevenção, cuidado e reabilitação.

OBJETIVOS: Este estudo objetivou estimar a prevalência de deficiências físicas e analisar as desigualdades socioeconômicas, raciais e entre os sexos (masculino e feminino) de acordo com o tipo de deficiência: visual, auditiva e física.

MÉTODOS: Foi realizado um estudo transversal, de base populacional, com dados de 3.021 indivíduos do ISACamp 2014/15. A prevalência de deficiência visual, auditiva e física foi estimada de acordo com as variáveis independentes (faixa etária, sexo, cor da pele, renda, escolaridade e plano de saúde) e as diferenças foram testadas por meio do teste de qui-quadrado, considerando-se estatisticamente significantes aquelas com p<0,05. Em seguida, foram estimadas as razões de prevalência (RP) ajustadas por sexo e idade e os respectivos intervalos de confiança (IC 95%) por meio de regressão múltipla de Poisson. Para cada tipo de deficiência foi desenvolvido um modelo de regressão múltipla de Poisson, no qual foram inseridas como ajuste as variáveis independentes que se associaram estatisticamente às deficiências com p≤0,20. Posteriormente, excluímos, uma a uma, as que não contribuíram significativamente para o modelo (p<0,05). O projeto ISACamp 2014/15 foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas, sob parecer nº 409.714 de 30/09/2013 - CAAE 20547513.2.0000.5404.

RESULTADOS: Do total da população de Campinas-SP com 10 anos ou mais, 15,2% dos indivíduos relataram deficiência visual, 8,1% auditiva e 2,1% física. As variáveis que mantiveram associação estatisticamente significativa no modelo final para a deficiência visual (mesmo após ajustes) foram: faixa etária, com maior prevalência nos mais velhos; raça, com desvantagens para os pretos e pardos (negros); e escolaridade, com maior prevalência entre os que estudaram 4 a 7 anos e menos de 3 anos de estudo, em relação aos que estudaram mais. Apenas a faixa etária, com maior prevalência na população idosa, permaneceu no modelo na avaliação da deficiência auditiva. A ocorrência de deficiência física foi maior na faixa etária de adultos com 40 a 59 anos e nos idosos, no sexo masculino e nos que estudaram menos de 3 anos.

CONCLUSÃO: Os resultados deste estudo mostraram que os determinantes raça e escolaridade estão associados à deficiência visual; sexo e escolaridade com a deficiência física; e nenhum destes com a deficiência auditiva. A ação da idade é muito forte nos três tipos de deficiências estudados. Esta pesquisa permite conhecer melhor o perfil das pessoas com deficiência considerando as desigualdades sociais subjacentes e oportunizando um desenho mais adequado das políticas de saúde e assistência social. Além disso, os achados deste estudo contribuem para aprofundar a discussão sobre as desigualdades em saúde entre pessoas com deficiência.


BIBLIOGRAFIA: World Health Organization (WHO) (2011). World report on disability 2011. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(11)60844-1 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa Nacional de Saúde 2019. [acessado 2021 Maio 29]. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101748.pdf Whitehead, M. (1992). The concepts and principles of equity and health. International Journal of Health Services, 22(3), 429–445. https://doi.org/10.2190/986L-LHQ6- Farias, N., & Buchalla, C. M. (2005). Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde da Organização Mundial da Saúde: Conceitos, Usos e Perspectivas. Revista Brasileira de Epidemiologia, 8(2), 187–193. https://doi.org/10.1590/s1415-790x2005000200011 Fisher, D. E., Shrager, S., Shea, S. J., Burke, G. L., Klein, R., Wong, T. Y., Cotch, M. F. (2015). Visual Impairment in White, Chinese, Black and Hispanic Participants from the Multi-Ethnic Study of Atherosclerosis Cohort. Ophthalmic Epidemiol, 22(5), 321–332. https://doi.org/10.1016/j.gde.2016.03.011 Paiva, K. M. de, Cesar, C. L. G., Alves, M. C. G. P., Barros, M. B. de A., Carandina, L., & Goldbaum, M. (2011). Aging And Self-reported Hearing Loss: A Population-based Study. Caderno de Saúde Pública, 27(7), 1292–1300.] Ulldemolins, A. R., Lansingh, V. C., Valencia, L. G., Carter, M. J., & Eckert, K. A. (2012). Social inequalities in blindness and visual impairment: A review of social determinants. Indian Journal of Ophthalmology, 60(5), 368–375. https://doi.org/10.4103/0301-4738.100529 Castro, S. S. de, César, C. L. G., Carandina, L., Barros, M. B. A., Alves, M. C. G. P., & Goldbaum, M. (2008). Visual, hearing, and physical disability: prevalence and associated factors in a population-based study. Cadernos de Saúde Pública, 24(8), 1773–1782. https://doi.org/10.1590/s0102-311x2008000800006 Varma, R., Wang, M. Y., Ying-Lai, M., Donofrio, J., Azen, S. P., Varma, R., Azen, S. (2008). The prevalence and risk indicators of uncorrected refractive error and unmet refractive need in Latinos: The Los Angeles Latino Eye Study. Investigative Ophthalmology and Visual Science, 49(12), 5264–5273. https://doi.org/10.1167/iovs.08-1814 Murtagh, K. N., & Hubert, H. B. (2004). Gender differences in physical disability among an elderly cohort. American Journal of Public Health, 94(8), 1406–1411. https://doi.org/10.2105/AJPH.94.8.1406



PALAVRA-CHAVE: Deficiência visual; Perda auditiva; Deficiência física; Disparidades nos níveis de saúde; Fatores sociais



ÁREA: Saúde Coletiva

NÍVEL: Doutorado

FINANCIAMENTO: Capes



Faculdade de Ciências Médicas
Universidade Estadual de Campinas
Correspondência:
Rua Tessália Vieira de Camargo, 126. Cidade Universitária Zeferino Vaz. CEP 13083-887 – Campinas, SP, Brasil
Acesso:
R. Albert Sabin, s/ nº. Cidade Universitária "Zeferino Vaz" CEP: 13083-894. Campinas, SP, Brasil.

Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Núcleo de Tecnologia da Informação - FCM