XIII Semana de Pesquisa - 2022


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Avaliação da Qualidade de Vida de pessoas com lesão medular usuárias do Laboratório de Reabilitação Raquimedular do Hospital das Clínicas da Universidade Estadual de Campinas

Autores: Sofia Gallina Ferreira, Tamy Haase, Orcizo Francisco Silvestre, Alberto Cliquet Junior


Link: https://youtu.be/6UP8LxBrH9w


RESUMO

INTRODUÇÃO: Lesões medulares são caracterizadas por comprometimento neurológico parcial ou completo de funções motora, sensitiva, visceral e sexual do indivíduo acometido. Possuem etiologia traumática e não traumática, a maioria da população atingida é de homens abaixo de 40 anos e, no cenário brasileiro, estima-se que ocorram, por ano, mais de 10 mil casos novos (1,2). Recentemente, é observado mais casos na população idosa por trauma de baixo impacto devido à fragilidade óssea que esse grupo usualmente apresenta (3). Percebe-se que a LME acomete uma população predominantemente hígida e de forma inesperada, gerando uma condição de importante impacto na atividade cotidiana do indivíduo (4). Dessa forma, o estudo da QV torna-se uma ferramenta relevante na elaboração de uma proposta terapêutica, principalmente de agravos crônicos, como a LME, pois consegue englobar múltiplos aspectos que estão envolvidos e interferem na vida do indivíduo. O World Health Organization Quality of Life – Bref é um dos questionários utilizados, elaborado pela OMS, que busca contemplar a multidimensionalidade na vida da pessoa (5,6,7).

OBJETIVOS: O objetivo é avaliar a QV de setenta pacientes que apresentam LME através da aplicação do questionário WHOQOL-bref. Espera-se que seja possível contribuir para a reabilitação e elaboração de planos de cuidado mais aprimorados.

MÉTODOS: O estudo transversal está sendo desenvolvido desde setembro 2021 com os pacientes cadastrados no Laboratório de Biomecânica e Reabilitação do Aparelho Locomotor. O questionário WHOQOL-bref foi adaptado para preenchimento online através da plataforma Forms do Google. Os 70 pacientes receberam, via WhatsApp, um link para preenchimento. Ao abri-lo, tinham acesso ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Se o mesmo não concordasse, não era mais incluído na pesquisa, pois só era possível responder às perguntas após anuência ao termo. Além disso, fez-se uma tabulação de dados gerais dos pacientes. Foram analisados descritivamente a fim de serem correlacionados com as respostas obtidas. Estas foram armazenadas no banco de dados computadorizado - Statistical Package for Social Sciences 18. Foram analisados descritivamente, aplicados testes de correlação não paramétricos e o nível de significância adotado foi de 5%. O projeto encontra-se aprovado: CEP-CAAE 46482021.6.0000.5404.

RESULTADOS: Os dados epidemiológicos da amostra avaliada são semelhantes aos encontrados na literatura brasileira e norte-americana em relação à etiologia e ao sexo. Dos 70 pacientes, 85.7% é do sexo masculino e 48.6% são portadores de LME por acidentes automobilísticos. Até fevereiro, foram analisadas 22 respostas do questionário. Na autoavaliação da QV, 60% das respostas classificaram-na como “boa” e, na percepção sobre a sua saúde, 47.6% dos pacientes consideram-se “satisfeitos” com a mesma. Dos domínios, obtiveram a seguinte pontuação: 60.8 físico, 65.3 psicológico, 59.7 relações sociais e 60.6 meio ambiente. Sendo o de relações sociais o de maior correlação com a QV e com a saúde (p<0.05), despontando-o como relevante no estudo. Entretanto, esse domínio foi o de pior avaliação. Dentro dele, a questão que mais contribuiu para sua pontuação foi a de atividade sexual (15% muito insatisfeitos e 25% insatisfeitos). Dado compatível com a literatura de que a atividade sexual nesses indivíduos pode ser bastante comprometida e pode ter relação com o fato de que a perda de função pela lesão exige mudança comportamental das práticas sexuais (8). E, a questão de suporte/apoio social, teve 57.1% dos respondentes “satisfeitos” com as relações pessoais que possuem entre seus amigos, parentes, conhecidos e colegas, indicando que, possivelmente, locais de convívio social, como o próprio Laboratório de Reabilitação, pode ser positivo para o cuidado a esses indivíduos. No oposto, o domínio psicológico foi o de maior nota. Porém, avaliando cada faceta deste, percebe-se que a questão sobre os sentimentos negativos apresentou um total de 42.9% dos pacientes responderem experimentarem tais emoções frequentemente, evidenciando a importância do uso de instrumentos mais específicos para avaliação desses sentimentos. A memória e concentração também foram questões que colaboraram para diminuir a nota neste domínio, fato este que merece atenção, uma vez que em estudo recente foi visto um possível comprometimento cognitivo das pessoas que sofreram LME o que poderia justificar esse dado encontrado (9).

CONCLUSÃO: Até o momento, o questionário foi capaz de demonstrar que LME interfere na QV do acometido, afinal, embora a maioria dos respondentes tenha a avaliado como “boa”, o domínio de maior influência na QV, o de relações sociais, teve o pior resultado, sendo a satisfação com a vida sexual a mais acometida. Porém, o apreço às relações pessoais, pode sinalizar um local de grande relevância para esses indivíduos. Ademais, o domínio psicológico evidenciou uma parcela significativa de indivíduos experimentando sentimentos negativos com frequência e um possível comprometimento de cognição que podem ser melhor avaliados. Dessa forma, o questionário está sendo uma ferramenta útil para identificar áreas de maior impacto na vida desses indivíduos e, portanto, que podem ser melhor abordadas e acompanhadas nos planos de cuidado e reabilitação.


BIBLIOGRAFIA: 1. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Diretrizes de Atenção à Pessoa com Lesão Medular. Brasília; 2. ed; 2015. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_atencao_pessoa_lesao_medular.pdf. Acesso em: 26 de março de 2021. 2. Rabeh SAN, Caliri MHL. Capacidade funcional em indivíduos com lesão de medula espinhal. Acta paul. enferm. São Paulo; [s.n]; jun 2010; 23(3):321-327. Disponível em:http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-21002010000300002&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 27 de março de 2021. 3.Eckert MJ, Martin MJ. Trauma: Spinal Cord Injury. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/28958356/. Acesso em: 27 de março de 2021. 4. Dornelles S, Soraia et al. Conhecer para cuidar: características de pessoas com lesão medular atendidas em um centro de reabilitação. Revista de Pesquisa Cuidado é Fundamental Online. [S.l]; [s.n]; 2012; 4(3):2598-2604. Disponível em: https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=505750894014. Acesso em: 26 de março de 2021. 5. World Health Organization (WHO). WHOQOL Measuring Quality of Life. Division of Mental Health and Prevention of Substance Abuse. Geneva;[s.n];1997. 6. Bampi NSL, Guilhem D, Lima DD. Qualidade de vida em pessoas com lesão medular traumática: um estudo com o WHOQOL-bref. Rev Bras Epidemiol. [S.l]; [s.n]; 2008; 11(1):67-77. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/rbepid/v11n1/06.pdf. Acesso em: 27 de março de 2021. 7. Franca ISX et al. Qualidade de vida de adultos com lesão medular: um estudo com WHOQOL-bref. Rev. esc. enferm. USP. São Paulo; [s.n]; dez 2011; 45(6):1364-1371. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0080-62342011000600013&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 26 de março de 2021. 8. Baasch AKM. Sexualidade na Lesão Medular [Dissertação]. Florianópolis: Universidade do Estado de Santa Catarina; 2008. Disponível em: https://sistemabu.udesc.br/pergamumweb/vinculos/00006c/00006c56.pdf 9. Li Y, Cao T, Ritzel RM, He J, Faden AL, Wu J. Dementia, Depression, and Associated Brain Inflammatory Mechanisms after Spinal Cord Injury. Cells [Internet]; [s.n]; 2020; 9(6):1420. Disponível em: https://www.mdpi.com/2073-4409/9/6/1420/htm



PALAVRA-CHAVE: Lesão medular; Qualidade de vida; Reabilitação.



ÁREA: Cirurgia

NÍVEL: Graduação

FINANCIAMENTO: CNPq



Faculdade de Ciências Médicas
Universidade Estadual de Campinas
Correspondência:
Rua Tessália Vieira de Camargo, 126. Cidade Universitária Zeferino Vaz. CEP 13083-887 – Campinas, SP, Brasil
Acesso:
R. Albert Sabin, s/ nº. Cidade Universitária "Zeferino Vaz" CEP: 13083-894. Campinas, SP, Brasil.

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