Neurologia realiza cirurgia para tratamento da doença de Parkinson

Maria, 64 anos, sofre de doença de Parkinson. Durante anos, sempre tomou medicamentos. Agora, eles não fazem mais efeito. Os tremores são constantes e os efeitos colaterais também. Por recomendação médica, uma solução mais invasiva: fazer pequenas lesões no globo pálido do cérebro, região envolvida com a origem dos sintomas da doença de Parkinson.

No mês de setembro, ela se submeteu a uma cirurgia de palidotomia no Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp. A palidotomia é possível por meio uma técnica moderna da neurocirurgia, chamada estereotaxia, na qual a localização e o acesso preciso às profundas estruturas intracranianas são realizadas através de apenas um pequeno orifício no crânio.

A cirurgia foi conduzida pela equipe da divisão de neurocirurgia funcional do Departamento de Neurologia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, leva pouco mais de duas horas e é feita com o paciente acordado.

A história é real, mas a personagem é fictícia para preservar o nome da paciente. Há dez anos esse tipo de cirurgia não acontecia na Unicamp. A demanda, no entanto, é grande: todo mês dois pacientes são encaminhados pela área de neurologia clínica do HC da Unicamp para o Hospital das Clínicas (HC) da USP de São Paulo, referência na América Latina.

A realização dessa cirurgia na Unicamp só foi possível graças a dois fatores: a parceria da disciplina com uma empresa nacional que cedeu os equipamentos e o treinamento específico em neurocirugia funcional dos neurocirurgiões Elton Gomes da Silva e Juliana Zuiani. Elton é pós-graduando e fez especialização no Hospital de Clínicas da USP de São Paulo e na Universidade de Virgínia, nos Estados Unidos. Juliana é médica-residente e fez especialização também no HC da USP e na Universidade de Toronto, Canadá. O neurocirurgião que supervisionou a cirurgia foi o doutor Andrei Joaquim, médico assistente de ensino da Disciplina de Neurocirurgia.

“Essa cirurgia é indicada para pacientes que apresentam efeitos colaterais à medicação. Ela vai reduzir a dose de medicamentos necessários para controlar os sintomas de Parkinson”, disse Elton.

“Já começamos a diminuir a medicação da paciente e esperamos que daqui há três meses ela tenha uma melhora completa”, comentou Juliana.

De acordo com o responsável pela divisão de neurocirurgia da FCM da Unicamp, o médico Helder Tedeschi, essa cirurgia marca o início da reativação do setor de neurocirugia funcional do HC Unicamp e constitui o embrião para futuros projetos de assistência e pesquisa cujo apoio deve incluir instituições como a FAPESP.

“Investir em alta tecnologia para gerar conhecimento, obtendo assim resultados que revertam em benefício da população de Campinas e região é o objetivo principal de todas as áreas do Departamento de Neurologia”, disse Tedeschi, que segue para Cleveland, nos Estados Unidos para aperfeiçoamento, com o intuito de trazer para a Unicamp a mais recente técnica para tratar a doença de Parkinson: a implantação de eletrodos cerebrais profundos.

Texto: Edimilson Montalti - ARP-FCM/Unicamp

Fotos: Equipe da divisão de neurocirurgia funcional do Departamento de Neurologia da FCM/Unicamp