SC431

Atividade da disciplina SC 431 – dia 13/06

No dia 13 de junho tivemos a nossa última aula da disciplina SC 431 – Sociologia das Práticas Alternativas, Complementares e Integrativas em Saúde, na qual discutimos os artigos ““Esse povo não está nem aí”: as mulheres, os pobres e os sentidos da reprodução em serviços de saúde de atenção básica à saúde em Maceió, Alagoas” (Pedro Nascimento e Ariana Cavalcante de Melo) e “Reparar o Moral: etnografia dos cuidados médicos de um centro de saúde humanitário francês” (Jaqueline Ferreira). De forma introdutória, percorremos alguns pontos sobre antropologia, etnografia e o posicionamento do(a) pesquisador(a), destacando questões sobre a construção do conhecimento empreendida por esse saber: a linguagem etnográfica, o texto etnográfico (mais especificamente sobre o embasamento teórico e a descrição densa), as relações estabelecidas em campo e a necessidade de romper com a lógica acadêmica-científica colonizadora.

Com base nos artigos selecionados para o trabalho do dia, fomos aprofundando essas questões, refletindo sobre como o conhecimento hegemônico (seja através de pesquisas, seja no acolhimento profissional nos serviços de saúde) tende a anular as experiências e os saberes considerados como populares (“do povão”, “dos pobres”), inferiorizando todo e qualquer discurso que não seja legitimado pelo saber tido como oficial (“o mais certo”, “o verdadeiro”, “o profissional”). O artigo de Pedro Nascimento e Ariana C. de Melo trouxe uma reflexão importante sobre a representação mais comum entre os profissionais de saúde sobre os “pobres/dependentes do SUS”, que está ancorada em um imaginário social que ajuíza que, perante uma situaç&a tild e;o de pobreza ou vulnerabilidade social, cabe somente a precariedade e a falta de acesso a recursos básicos como educação e saúde, resultando na ignorância desconhecimento sobre os métodos anticoncepcionais.

Pensando sobre a representação, nossa conversa sobre o artigo produzido pela médica e antropóloga Jaqueline Ferreira sobre o atendimento médico para imigrantes em um centro humanitário de renome internacional foi importante para recuperar outros artigos que trabalhamos durante o semestre e identificarmos as assimetrias existentes entre os discursos dos profissionais e usuários que estão inseridos em serviços de saúde mental, cuja assistência e alguns benefícios concedidos ganham diferentes visões e interpretações. Problematizando sobre os valores e a missão do Médecins du Monde, a autora afirma que, por mais que profissionais de saúde e voluntários demonstrem orgulho e considerem que estão prestando um atendimento humanitário aos imigrantes em situa& cced il;ão de rua, isso não garante, de fato, uma mudança na relação hierárquica entre médico e paciente, muito menos a “reparação das identidades” (p. 150) que foram expropriadas dos sujeitos atendidos. Para Ferreira: “É certo que esse tipo de atividade não lhes aporta reconhecimento social, ao contrário, reifica-lhes na situação de marginalidade.” (p. 151).

O debate da turma foi muito produtivo e novas questões surgiram, fruto da reflexão e da vivência de cada uma e de cada um de nós. A conversa sobre a relação indiscriminada de que o SUS é pra pobre e pra pobre cabe a precariedade e a origem histórica disso com a ultra valorização dos planos de saúde tem rendido conversas até hoje no grupo de WhatsApp, resultando em um processo de aprendizado que passa pela construção e desconstrução de saberes, sentidos e valores. Esse exercício, que começa no estranhamento, não é tarefa fácil, mas é importante para não anularmos subjetividades e saberes.