Jovens apresentam taxas mais altas de sintomas de olho seco, mostra estudo da Unicamp na Revista Plos One

Enviado por Camila Delmondes em Qui, 20/01/2022 - 10:31

O olho seco é uma doença comum, complexa e multifatorial da superfície ocular e da lágrima que resulta em sintomas de desconforto ocular e flutuações na visão. Publicada no mês de novembro na Revista Plos One, uma pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp – realizada com 2.140 estudantes universitários, entre 23 e 25 anos de idade – mostrou que, em comparação com as taxas de olho seco encontradas na população acima dos 40 anos, os mais jovens apresentaram maior prevalência de sintomas e diferentes fatores de risco para a doença.

A pesquisa, realizada no âmbito do Departamento de Oftalmologia e Otorrinolaringologia da FCM, sob a coordenação da professora colaboradora Mônica Alves, teve como coautora a estudante de  graduação da FCM, Isabela Yang, e contou com a participação de estudantes da Liga de Oftalmologia da Unicamp e colaboradores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

A metodologia do estudo incluiu avaliação clínica e aplicação de questionários sobre sintomas oculares, muito utilizados em estudos sobre sintomas de olho seco: o Ocular Surface Disease Index (OSDI) e o Women's Health Study (WHS). Do total de participantes do estudo, 34% apresentaram pontuação maior que 22 no questionário OSDI, considerada alta, e 23,5% apresentaram olho seco de acordo com o questionário WHS.

Tais resultados caracterizaram a presença de olho seco nos estudantes, que foram encaminhados para avaliação oftalmológica pormenorizada. Em ambos os questionários, as taxas de incidência de olho seco foram mais altas entre as estudantes do sexo feminino, comparadas aos estudantes do sexo masculino: mulheres (42,6%) contra homens (24,0%), no OSDI; e mulheres (27,1%) contra homens (18,5%), no WHS.

De acordo com Mônica Alves, o uso de lentes de contato, de telas por mais de 6 horas por dia e de certos medicamentos (como antidepressivos e isotretinoína usada no tratamento de acne) e, ainda, a frequência de sono regular inferior a 6 horas por noite, foram identificados entre os fatores de risco relevantes para o desenvolvimento do olho seco.

“Tais fatores de risco são muito presentes em populações mais jovens e devem ser identificados como causa de sintomas de desconforto ocular. Eles podem oferecer dano à superfície ocular e impactar na qualidade de vida e de visão”, afirmou.

Considerando que, na atualidade, a maior parte dos estudos científicos sobre olho seco, no mundo, costuma envolver populações acima dos 40 anos, considerando o envelhecimento um fator de risco bem determinado para a doença, a pesquisadora da FCM destacou a relevância do estudo realizado na Unicamp.

“Em 2018, nosso grupo de pesquisa publicou o primeiro estudo sobre olho seco na população brasileira aplicando os mesmos questionários em participantes de todas as regiões do país. A prevalência de sintomas de olho seco foi de 12,8%, em participantes acima de 40 anos. Demonstramos, agora, com este estudo, que esses números são mais elevados entre os jovens e esta informação demanda nossa atenção e cuidado”, comentou.

Embora os participantes do estudo tenham apresentado alterações leves de olho seco na avaliação clínica, a especialista da FCM estima, a partir dos dados obtidos, que mais de dois milhões de estudantes universitários brasileiros podem sofrer com a doença.

“Além de mostrar a alta prevalência de olho seco na população mais jovem, a nossa pesquisa evidencia a necessidade da conscientização sobre as causas, formas de prevenção e tratamento”, afirmou Mônica.

Você sabia?

Algumas atividades e hábitos, como o uso de telas e poucas horas de sono, exposição ambiental (poluição, baixa umidade), medicamentos (ansiolíticos, antidepressivos e antialérgicos), história de cirurgia ocular e doenças crônicas são condições que aumentam o risco de aparecimento de sintomas de olho seco. Caso apresente desconforte nos olhos como vermelhidão, ardência e coceira, procure um médico oftalmologista.