Pesquisa da Unicamp avalia agente de contraste para caracterização de lesões difíceis no fígado

Enviado por Edimilson Montalti em Qui, 28/11/2019 - 16:00

A caracterização de lesões focais hepáticas pode ser um desafio para o médico na busca do perfeito diagnóstico, tratamento e prognóstico das doenças do fígado. Na busca da correta caracterização das lesões, houve a introdução recente na prática clínica do ácido gadoxético como agente de contraste hepatobiliar-específico (AHBE) em ressonância magnética (RM). O ácido gadoxético é um tipo de agente de contraste paramagnético para exames do fígado.

Demonstrar o valor das fases hepatobiliares utilizando-se o ácido gadoxético como AHBE em ressonância magnética na detecção e caracterização de lesões hepáticas focais benignas e malignas foi o desafio do mestrado de Daniel Alvarenga Fernandes, médico radiologista do Departamento de Radiologia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp.

“As lesões hepáticas focais incluídas no estudo foram aquelas desafiadoras em seu diagnóstico por imagem, que já haviam sido identificadas em exames prévios (tomografia computadorizada ou ressonância magnética com gadolínio convencional), mas ainda permaneciam indeterminadas, necessitando de complementação diagnóstica para elucidação”, explicou Daniel.

Foram estudadas, retrospectivamente, 302 lesões em 136 pacientes que realizaram exames de RM utilizando o ácido gadoxético como AHBE na avaliação de lesões hepáticas focais, sendo 160 lesões benignas e 142 malignas, com metástases e carcinomas hepatocelulares. Dois radiologistas independentemente revisaram em cinco etapas exames de RM, chegando-se, posteriormente, ao consenso nos casos discordantes, utilizando uma escala de seis pontos para caracterizá-los.

O estudo foi desenvolvido em cinco etapas: na primeira etapa, Daniel usou imagens sem contraste; na segunda etapa, foram usadas imagens sem contraste e fases dinâmicas após contraste; na terceira etapa o pesquisador entrou na fase hepatobiliar após 10 minutos em adição à segunda etapa; já na quarta etapa, considerou-se a fase hepatobiliar após 20 minutos em adição à segunda etapa e na última fase, o pesquisador usou sequências ponderadas em difusão em adição à terceira etapa do experimento.

De acordo com os resultados, a concordância interobservador foi elevada em todas as etapas na detecção e caracterização das lesões hepáticas focais benignas e malignas. A precisão ponderada diagnóstica foi aumentada pela adição das fases dinâmicas e também na fase hepatobiliar. O índice de desempenho diagnóstico foi menor na etapa um (60,3%), aumentando para 77,8% na etapa dois e para 94% com a adição da fase hepatobiliar após dez minutos na etapa três, manteve-se de 94% com a adição da etapa quatro e com as sequências ponderadas em difusão na etapa cinco. 

As sequências hepatobiliares aumentaram a detecção e a confiabilidade diagnóstica na caracterização de lesões hepáticas focais malignas; aumentaram a confiabilidade diagnóstica na caracterização de lesões hepáticas focais benignas; e melhoraram o desempenho diagnóstico na diferenciação entre lesões hepáticas focais benignas e malignas.

“A contribuição demonstrada das fases hepatobiliares em RM com o contraste hepatoespecífico nas lesões hepáticas focais desafiadoras na prática clínica pode auxiliar o manejo de pacientes com diferentes desordens hepáticas. O procedimento pode ser adotado em hospitais que tenham disponibilidade de ressonância magnética com o contraste hepatoespecífico”, disse Daniel.

Premiação

Durante o Congresso Brasileiro de Radiologia 2019, realizado em Fortaleza-CE, Daniel apresentou o trabalho O valor das fases hepatobiliares em ressonância magnética morfofuncional com contraste hepatoespecífico na detecção e caracterização de lesões hepáticas focais. O estudo é resultado da pesquisa que teve como orientadores a professora Ilka Boin, do Departamento de Cirurgia e o professor Nelson Caserta, do Departamento de Radiologia, ambos da FCM.

Daniel recebeu o prêmio de terceiro lugar entre os melhores trabalhos originais apresentados no Congresso. O trabalho foi realizado com a participação também dos demais membros do grupo de Radiologia Abdominal da Unicamp e do Departamento de Cirurgia e Anatomia Patológica da faculdade.