Justificativa: A Síndrome de Turner (ST), caracterizada geneticamente pela perda parcial ou total de um dos cromossomos sexuais, tem como achado mais frequente a baixa estatura, consequente a uma leve restrição do crescimento intraútero, distanciamento progressivo em relação da curva populacional ao longo da infância, com maior acentuação na época da puberdade, já que o estirão de crescimento é comprometido. A estatura sofre influência da etnia e, portanto, o desenvolvimento de curvas de crescimento específicas para a ST permite a avaliação adequada do desenvolvimento pondero-estatural, diagnóstico mais precoce de comorbidades, sendo uma ferramenta que deve ser utilizada como métrica da eficiência de tratamentos de promoção de crescimento. As curvas de crescimento para pacientes com ST disponíveis na literatura apresentam grande heterogeneidade quanto às análises estatísticas, coleta de dados, número total participantes, número total de medidas avaliadas, e na origem étnica da população estudada, sendo que não existe nenhum estudo específico para a população brasileira. Objetivo: Construir uma curva de crescimento específica com a maior série possível de caos com diagnóstico citogenético de ST, que não foram tratadas com hormônio de crescimento recombinante humano (GH) ou oxandrolona, ao longo de todo o seu período de acompanhamento em um centro de referência brasileiro, e aplicando técnica matemática moderna e recomendada pela OMS para sua confecção. Avaliar a estatura adulta de meninas com ST. Comparar a estatura final com o alvo familiar. Analisar se há diferenças na média da estatura adulta entre subgrupos específicos definidos pela presença de material do cromossomo Y, ocorrência de menarca espontânea e ano de nascimento (tendência secular de crescimento). Métodos: Trata-se de um estudo retrospectivo longitudinal com 259 casos de ST atendidas de 1975 a 2019, sem uso de GH ou Oxandrolona. Foram utilizadas 3.160 medidas de estatura e 2.918 de peso, com posterior cálculo do índice de massa corporal (IMC). Para análise dos dados foi utilizado o pacote “GAMLESS” (Generalized Additive Models for Location, Scale and Shape) do software “R”. Resultados: A média da estatura alvo foi de 157,8 cm (desvio padrão 5,2; mediana 160,4 cm). A média de estatura das pacientes com ST aos 20 anos foi de 145,6 cm (desvio padrão 5,9; mediana 146,7 cm), em meninas que continham material de Y foi de 147,2 cm, (desvio padrão 6,1, mediana 147,4 cm), em menarca espontânea foi de 147,6 cm (desvio padrão 5,8; mediana 148,6 cm), naquelas nascidas entre 1957 e 1989 foi de 144,9 cm (desvio padrão 6,0; mediana 145,5 cm) e naquelas nascidas entre 1990 e 1999 foi de 146,4 cm (desvio padrão 5,9; mediana 156,8 cm). Gráficos de estatura, peso e IMC por idade foram desenvolvidos para meninas ST entre 2 e 20 anos. Conclusão: Estas curvas de crescimento podem ser utilizadas para monitorar o crescimento de meninas com ST e verificar o efeito de tratamentos adjuvantes na promoção do crescimento. Houve diferença numérica das médias de estatura adulta em grupos especiais de meninas com ST, porém o baixo número de meninas não permitiu análises estatísticas.