Na infecção pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), responsável pela pandemia da Doença do Coronavírus (COVID-19), observa-se a ocorrência de anemia, sobretudo nos pacientes com manifestações graves da doença e que necessitam de internação. Na COVID-19, tem sido demonstrado que anemia preexistente está associada a pior prognóstico e seu agravamento pode ser um indicador da progressão da doença. Não está totalmente elucidado, entretanto, a importância do componente hemolítico e do metabolismo do ferro na anemia/evolução dessa doença. Ainda não está claro se a hemólise colabora predominantemente para o prognóstico ou se contribui de maneira equivalente à redução da eritropoiese/homeostase desregulada do ferro, ou, ainda, se uma potencializa a outra. O presente estudo objetivou caracterizar a população atendida e avaliar marcadores de hemólise (reticulócitos, LDH, bilirrubina, haptoglobina), parâmetros empregados na avaliação da anemia oriundos do hemograma, do metabolismo de ferro (níveis séricos de ferro, ferritina, TIBC e saturação de transferrina) e um polimorfismo do gene HMOX-1 (rs2071746), além de identificar a presença ou progressão da anemia em uma coorte de 250 pacientes adultos internados por COVID-19 no Hospital de Clínicas da Unicamp de abril/2020 à março/2021 e, posteriormente, correlacioná-los com a gravidade e o desfecho da doença. Os pacientes foram divididos em subgrupos quanto à gravidade (crítico, grave e não grave), quanto ao desfecho (óbito e alta hospitalar) e quanto à presença de anemia (pacientes admitidos com anemia; pacientes admitidos sem anemia, mas que desenvolveram na internação; pacientes admitidos sem anemia e que não desenvolveram na internação) e avaliados quantos aos parâmetros laboratoriais supracitados. Menor saturação de O2 na admissão, maior duração da hospitalização, internação em UTI e necessidade de IOT estavam associados à maior gravidade e mortalidade, e também à presença de anemia. Ao final da internação, os níveis de hemoglobina (Hb) e hematócrito (Ht) foram significativamente menores no grupo de pacientes com doença crítica, no grupo de não sobreviventes e nos pacientes que apresentaram anemia, enquanto RDW e NRBC era significativamente maior. Os valores de LDH e IRF também foram significativamente maiores nos pacientes críticos, naqueles que não sobreviveram, e nos que apresentaram anemia, no entanto, o aumento de reticulócitos estava relacionado apenas à gravidade e à presença de anemia. A dosagem de bilirrubina total estava significativamente aumentada nos pacientes com desfecho desfavorável, porém excedendo discretamente o limite superior de referência, enquanto a dosagem de ferro sérico estava diminuída nesse grupo. Em linhas gerais, nossos dados parciais demonstraram que a anemia é altamente prevalente em pacientes hospitalizados por COVID-19, e que está associada à progressão da doença e mortalidade. Análises adicionais deverão ser feitas para investigar a influência da hemólise e do metabolismo de ferro na gravidade e mortalidade nesta doença.