O parto cesáreo a pedido materno (PCPM) é um fenômeno crescente que traz preocupação por suas potenciais consequências clínicas e conflitos éticos. Sua prevalência depende de práticas e percepções sobre o parto cesáreo como forma de nascer. O objetivo desta dissertação é analisar o PCPM, as diferentes formas como se apresenta, os fatores associados, e sua distribuição segundo a Classificação de Robson (CR), utilizando uma definição ampliada que representa a demanda das mulheres numa maternidade brasileira de referência para gestações de alto risco. Foi realizada a análise secundária de dados em sistema informatizado de partos do Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Caism)/Unicamp entre outubro de 2017 e outubro de 2021. O estudo 1, de corte transversal, enfocou a distribuição dos tipos de parto e sua relação com a CR. Foram considerados PCPM as cesáreas primárias ou secundárias, eletivas (PCPM-ele), por desistência de indução (PCPM-di) e também por desistência de trabalho de parto espontâneo (PCPM-dtp), que se diferenciaram das cesáreas por indicação médica. As variáveis estudadas foram: via de parto, CR, PCPM e suas categorias, número de cesáreas anteriores e comorbidades. A análise estatística inicial foi descritiva, com a frequência absoluta e relativa das variáveis categóricas, seguida de teste de qui-quadrado para comparações entre grupos. Para o trabalho 2, observacional, retrospectivo, tipo caso-controle, foram estudados os fatores associados ao PCPM na definição ampliada. Todos os PCPM eletivos ou por desistência de indução, primários ou secundários, foram consideradas casos. Os controles foram os partos vaginais com data e horário mais próximo. As variáveis utilizadas foram: PCPM e suas categorias (PCPMele, PCPMdi, cor de pele, escolaridade, estado civil, acompanhante, idade, complicação clínica e presença de uma cesárea anterior). Utilizaram-se os testes de McNemar e de simetria de Bowker, além das análises de regressão logística condicional simples e múltipla para amostra pareada. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CAAE 65705922.0.0000.5404) e adotou o Termo de Compromisso para Utilização de Dados (TCUD). Observou-se que, em 7.779 partos, houve 53,1 de cesáreas. PCPM correspondeu a 10,2 de todos os PC e 5,4 dos partos. Entre os PCPM, 72,1 dos pacientes apresentavam alguma doença, sendo hipertensão arterial e diabetes as mais frequentes. A segunda cesariana correspondeu a 3,1 de todos os partos e 58,8 dos PCPM. Os PCPMele foram o grupo principal (58,6 ), seguidos por PCPMdi (28,1 ) e PCPMdtp (13,3 ). O grupo de Robson 5.1 (mulheres com cesárea anterior e gestação a termo, feto cefálico) concentrou a maior porcentagem de PCPM (57.1 ), sendo 63,4 dos PCPMele, 45,7 dos PCPMdi e 53,6 dos PCPMdtp. A presença de comorbidades aumentou o risco de PCPMele (OR 13,05, IC95 5,58 – 30,52), PCPMdi (OR 13,46, IC 95 5,07 – 35,77) e PCPM (OR 12,02, IC 95 6,63 – 21,81). Ter cesárea prévia também aumentou o risco de PCPMele (OR 8,78, IC 95 4,08-18,89), PCPMdi (OR 5,51, IC 95 1,94-15,62) e PCPM (OR 7,01, IC 95 3,86-12,74). Conclui-se que, numa maternidade de referência, o PCPM correspondeu a apenas 10,2 dos partos operatórios e que ter comorbidades e uma cesárea prévia, incluindo PCPM por desistência de indução e até de trabalho de parto. A classificação de Robson mostrou-se insuficiente para estudar o fenômeno. Em serviços obstétricos de referência para gestações de alto risco, diante da cultura de cesárea e legislação que respalda esta opção pela mulher, é necessário ampliar a compreensão do fenômeno da PCPM.
