Introdução:
O atendimento à PCR é um dos temas mais desafiadores aos graduandos de Medicina, diante da necessidade de aplicar uma combinação de habilidades cognitivas e psicomotoras em ambiente de alta tensão. Ainda que o ensino possa oferecer a habilidade cognitiva, só a prática pode garantir a habilidade psicomotora e consequente competência e isso passa pela aplicação de treinamento em Simulação clínica. Há, porém, um terceiro componente nestas habilidades a ser desenvolvido nos estudantes, a habilidade comportamental ou não técnica, representada pelas soft skills.
Objetivos:
Analisar como estratégias de ensino baseadas em simulação clínica e vivências em contextos sociais contribuem de forma complementar para o desenvolvimento de competências técnicas e soft skills em estudantes de medicina.
Avaliar o desempenho de estudantes do último ano de graduação, no atendimento de um caso simulado de parada cardiorrespiratória (PCR) em assistolia, baseado no checklist proposto;
Avaliar a interação entre um grupo de alunos do curso de medicina com adolescentes de um projeto socioeducativo na cidade de Campinas/SP, no contexto do desenvolvimento das soft skills.
Método:
Foram realizados dois estudos observacionais descritivos:
No estudo apresentado no artigo 1 os estudantes foram expostos a um cenário simulado de PCR intra-hospitalar em assistolia, em uma criança. Foram avaliados com base na sistematização do cuidado e na aplicação de habilidades e competências técnicas e comportamentais, por meio de um checklist baseado nas diretrizes do PALS. Uma amostra foi reavaliada no último mês do ano letivo, a fim de verificar a retenção de aprendizagem.
O estudo do artigo 2 avaliou, mediante um questionário eletrônico baseado em escala do tipo Likert, o sentimento dos alunos do curso de Medicina em relação ao desenvolvimento de soft skills durante participação em atividades de orientação sobre medicina preventiva e primeiros socorros a adolescentes numa escola municipal.
Resultados
No artigo 1, observou-se atraso significativo no início da RCP em toda a amostra com 75,8 necessitando de mais de 30 segundos para começar. Em relação à qualidade técnica das compressões torácicas, 58,2 dos participantes atingiram a profundidade recomendada, porém, 75,8 deixaram colocar o anteparo rígido. Apenas 36,3 mantiveram a taxa de compressão recomendada de 100–120 por minuto, enquanto 92,3 interromperam as compressões por mais de três segundos em várias ocasiões. A troca recomendada de compressor após cada ciclo foi realizada por 49,5 ; A administração de epinefrina foi em geral adequada, com 85,7 administrando a primeira dose nos primeiros cinco minutos do atendimento.
Na amostra da segunda avaliação, os estudantes demonstraram melhor desempenho no tempo para o início da RCP (p valor = 0,039).
No artigo 2, destaca-se que a participação dos estudantes no projeto gerou maior impacto positivo nas seguintes soft skills: habilidade em lidar com situações adversas, tomada de decisão e capacidade em lidar com o medo de não corresponder às expectativas.
Conclusões:
Os trabalhos enfatizam a necessidade de reavaliação das estratégias educacionais especialmente na integração das habilidades cognitivas, psicomotoras e afetivas, reforçando o papel da simulação nessa aprendizagem.