Introdução: Sobreviventes de câncer de mama sob terapia endócrina adjuvante frequentemente apresentam perda de massa magra, declínio funcional e fadiga. O treinamento físico supervisionado melhora composição corporal, força e qualidade de vida, mas a adesão a programas presenciais é limitada por barreiras logísticas. Programas supervisionados on-line surgem como alternativa potencialmente mais acessível, porém sua efetividade e aceitabilidade nessa fase do tratamento ainda não estão bem estabelecidas. Objetivos: Comparar a força muscular, capacidade cardiorrespiratória, composição corporal, fadiga e qualidade de vida de mulheres sobreviventes de câncer de mama em endocrinoterapia adjuvante submetidas a dois protocolos de treinamento físico - supervisionado on-line e não supervisionado (instrução para exercícios) - realizados por 12 semanas; avaliar os motivos para não participar do protocolo de treinos. Métodos: Esta tese é composta por dois braços de um estudo clínico randomizado: no primeiro, foram investigados os efeitos de um protocolo de treinamento físico domiciliar, entregue em dois formatos: (i) supervisionado on-line e (ii) não supervisionado; no segundo estudo foram avaliadas as características e motivos de mulheres que optaram por não participar da intervenção. Foram selecionadas mulheres com carcinoma de mama luminal, com até 65 anos de idade, em tratamento adjuvante com tamoxifeno ou inibidores de aromatase com início há no mínimo 6 meses e no máximo 36, previamente tratadas com quimioterapia neoadjuvante ou adjuvante e cirurgia com ou sem radioterapia. Noventa e oito mulheres foram selecionadas pelo prontuário eletrônico entre 05/2023 e 02/2025. Entre as 73 mulheres que responderam ao contato por telefone ou WhatsApp, 43 aceitaram participar do estudo clinico randomizado, sendo que 4 foram excluídas. Das 30 mulheres que não quiseram participar dos treinos, 21 mulheres inicialmente elegíveis, que não quiseram participar do estudo randomizado, aceitaram responder questionários. No primeiro estudo, 39 mulheres em terapia endócrina adjuvante foram randomizadas para treinamento supervisionado online (SOG; n = 20) ou não supervisionado (NSG; n = 19) por 12 semanas. Massa magra (desfecho primário), composição corporal, força muscular, VO₂pico e qualidade de vida foram avaliados antes e após a intervenção. No segundo estudo, as 21 mulheres que aceitaram responder aos questionários tiveram seus dados clínicos, o nível de atividade física (IPAQ), fadiga (FACT-F) e qualidade de vida (FACT-B) comparados com as 39 mulheres incluídas no estudo randomizado. Também foram avaliados os motivos para não participação. Resultados: No primeiro estudo, interações significantes grupo × tempo foram observadas para massa magra, massa gorda e força de membros inferiores. Apenas o SOG apresentou aumento significante de massa magra (+1,05 kg) e redução de gordura corporal (−1,70 ) e maior ganho de força de membros inferiores. Não houve aumento significante de VO₂pico em nenhum grupo. A qualidade de vida melhorou em ambos os grupos. No segundo estudo, mulheres que não aceitaram participar dos treinos apresentaram maior nível de atividade física e menor fadiga que participantes. Os motivos mais citados para não participação foram já serem fisicamente ativas (52 ) e falta de tempo para avaliações presenciais (33 ). Conclusão: O exercício supervisionado on-line promoveu melhorias significativas e clinicamente relevantes em composição corporal (aumento de massa magra e redução de gordura), força de membros inferiores, qualidade de vida e fadiga. No grupo não supervisionado, não foram observadas mudanças clinicamente relevantes em composição corporal ou força, embora a qualidade de vida e fadiga também tenham melhorado de forma significante. Não houve diferença estatística entre os grupos para as variáveis analisadas. A não participação esteve associada à autopercepção de já ser ativa e falta de tempo para comparecer às avaliações físicas presenciais. Estratégias de recrutamento personalizadas e avaliações flexíveis podem ampliar o engajamento de sobreviventes de câncer de mama em programas de exercício. Para aquelas que já praticam exercícios regularmente, reconhecer suas rotinas atuais e oferecer formas de monitorar e avaliar o progresso pode ajudar a garantir a eficácia e a manutenção dos benefícios ao longo do tempo.