A intensificação da digitalização dos ambientes laborais, acelerada nas últimas décadas e potencializada por eventos como a pandemia de COVID-19, tem provocado mudanças profundas na organização do trabalho, nas relações interpessoais e nas demandas cognitivas impostas aos trabalhadores(as). Nesse cenário, emergem novos riscos psicossociais, denominados “estressores digitais”, decorrentes do uso intensivo de tecnologias de informação e comunicação (TIC) e caracterizados por pressões como sobrecarga de informação, hiperconectividade, exigências de aprendizado constante e vigilância digital. Apesar da relevância do tema, a literatura indica lacunas na disponibilidade de instrumentos específicos e validados para mensurar esses estressores em diferentes contextos culturais. Esta tese, estruturada em três artigos, teve como objetivo geral adaptar e validar o Digital Stressors Scale (DSS) para o contexto brasileiro. O primeiro estudo, uma revisão de escopo, mapeou instrumentos existentes para avaliação de riscos psicossociais relacionados às TIC, identificando que instrumento clássicos não contemplam plenamente as especificidades do estresse digital. Este mapeamento evidenciou a pertinência de instrumentos como o DSS, que avalia múltiplas dimensões desse fenômeno. O segundo estudo consistiu na tradução e adaptação transcultural do DSS para o português-brasileiro, seguindo protocolos internacionalmente reconhecidos que garantem equivalência semântica, conceitual e cultural. Essa etapa envolveu tradução, retrotradução, revisão por comitê de especialistas e pré-teste com amostra de 150 trabalhadores(as), assegurando a adequação linguística, semântica, conceitual e experimental dos itens no contexto nacional. O terceiro estudo avaliou as propriedades psicométricas da versão adaptada do DSS em uma amostra de 462 trabalhadores(as) brasileiros. Foram conduzidas análises fatoriais confirmatórias e exploratórias, utilizando métodos adequados para dados ordinais, além de testes de validade convergente, discriminante e de confiabilidade de consistência interna. Os resultados indicaram necessidade de alteração na composição com exclusão de dois fatores da versão brasileira possivelmente decorrente de problemas estruturais do instrumento, não sendo possível descartar características culturais e organizacionais locais. A versão brasileira apresentou bons índices de ajuste para o modelo com 8 fatores e 32 itens, demonstrando robustez para identificar diferentes dimensões do estresse digital, incluindo sobrecarga, invasão, conflito, suporte, insegurança, segurança, complexidade e confiabilidade. As evidências reunidas confirmam a adequação do DSS para uso no Brasil, oferecendo uma ferramenta sensível e específica para diagnóstico organizacional, e para uso em pesquisas fundamentais para formulação de políticas preventivas e desenvolvimento de intervenções direcionadas à mitigação do estresse digital.