Introdução: O carcinoma espinocelular da cavidade oral (CECO) é a principal neoplasia maligna da cavidade oral, acometendo os lábios, os dois terços anteriores da língua, o palato duro, a gengiva, a mucosa oral, os alvéolos dentários e o assoalho da cavidade oral. No Brasil, entre 2023 e 2025, foram notificados 15.100 novos casos desse tipo de câncer na cavidade oral, sendo o quinto mais incidente em homens, com 10.900 casos. Na região Sudeste do Brasil, é o quarto tumor mais frequente em homens, segundo dados do INCA. Objetivo: Este estudo teve como objetivo analisar os fatores prognósticos associados à sobrevida e à recorrência em pacientes com carcinoma espinocelular da cavidade oral (CECO) tratados em São Paulo, Brasil. A investigação focou na avaliação da influência do estadiamento clínico, da modalidade de tratamento, da idade e do sexo na sobrevida global e na sobrevida livre de recorrência em uma grande coorte derivada de um registro público de câncer. Métodos: Foi realizado um estudo observacional retrospectivo unicêntrico com análise transversal e quantitativa, utilizando dados de 10.122 pacientes diagnosticados com carcinoma espinocelular oral (CECO) entre 2004 e 2014, obtidos do banco de dados da Fundação Oncocenter de São Paulo (FOSP). O desfecho primário foi a sobrevida global (SG), e os desfechos secundários incluíram sobrevida livre de recorrência (SLR), sobrevida livre de doença (SLD) e sobrevida livre de recorrência local (SLRL). Os fatores prognósticos foram avaliados por meio de modelos de riscos proporcionais de Cox univariados e multivariados. As curvas de Kaplan-Meier foram utilizadas para estimar a sobrevida, e as comparações foram realizadas utilizando o teste de log-rank. Resultados: O tempo mediano de seguimento foi de 24,5 meses (intervalo interquartil, não apresentado). A idade variou de 11 a 104 anos, com média de 60,2 ± 12,6 anos ao diagnóstico, e 78,3 eram do sexo masculino. A maioria dos pacientes (61,97 ) foi diagnosticada em estágio avançado (III–IV). Estágio avançado e tratamento não cirúrgico foram associados independentemente a pior sobrevida global (SG) (HR 4,253, IC 95 3,883–4,659; 2,546, IC 95 2,381–2,722, respectivamente). A taxa de sobrevida global em 5 anos foi de 50,3 , com mediana de sobrevida de 4,84 anos (intervalo interquartil, não mostrado) após o diagnóstico. Pacientes idosos e do sexo masculino apresentaram maiores riscos de recorrência e mortalidade, enquanto doença em estágio inicial e tratamento cirúrgico foram associados a melhores desfechos. Conclusão: Estágio clínico avançado e tratamento não cirúrgico foram os fatores prognósticos independentes mais fortes para diminuição da sobrevida em carcinoma espinocelular oral. Esses achados ressaltam a importância da detecção precoce e do manejo cirúrgico, bem como a necessidade de estratégias de saúde pública para reduzir os atrasos no diagnóstico e tratamento no Brasil.