Introdução: a infecção persistente pelo papilomavírus humano de alto risco (hr-HPV) é causa necessária do câncer do colo do útero. A maioria dos estudos sobre prevalência e distribuição etária de hr-HPV são direcionados a mulheres jovens, e há lacuna de dados populacionais para mulheres acima de 25 anos no Brasil. Espera-se uma modificação progressiva na epidemiologia desta infecção de acordo com a cobertura vacinal contra HPV, e os programas de prevenção poderão necessitar de ajustes. Objetivos: descrever a distribuição etária da infecção por hr-HPV e das lesões precursoras de alto grau ou pior (HSIL+) em mulheres adultas, predominantemente não vacinadas, participantes de um programa organizado de rastreamento com teste de DNA-HPV. Métodos: estudo observacional de base populacional, utilizando dados da primeira rodada (2017-2022) do programa PREVENTIVO (Indaiatuba, Brasil), que oferta rastreamento com DNA-HPV a mulheres de 25 a 64 anos do sistema público de saúde. Mulheres HPV-16/18 positivas foram encaminhadas para colposcopia; quando positivas apenas para outros 12 tipos (12OT) hr-HPV era realizada citologia reflexa e se citologia anormal, também foi encaminhada para colposcopia. Se houvesse imagem suspeita na colposcopia era realizada biópsia dirigida e, posteriormente, as lesões de alto grau poderia ser submetidas a excisão da zona de transformação. Diagnósticos histológicos foram revisados com p16(INK4a) e classificados pela terminologia LAST. Foram construídas curvas etárias de prevalência de hr-HPV e de lesões HSIL+, e aplicados testes de tendência linear. Resultados: entre 20.398 mulheres rastreadas (cobertura de 78 ), a prevalência global de hr-HPV foi 12,8 (n=2.603) e a taxa de HSIL+ entre positivas foi 10,8 (n=282). Observou-se um padrão bimodal na distribuição etária da infecção, com um primeiro pico inicial em 25-26 anos (26 ) e um segundo pico menor (11 ) aos 55-56 anos. As lesões HSIL+ apresentaram distribuição similar, mas com um atraso de alguns anos. O segundo pico de 6 foi mais tardio, aos 61 anos, cerca de seis anos após o segundo pico de infecção. Conclusão: a distribuição etária da infeção por hr-HPV descrita para mulheres adultas da população brasileira apresentou um padrão bimodal e fornece parâmetros para monitorar o impacto futuro da vacinação no Brasil. Este padrão reforça a importância de estratégias de rastreamento em mulheres mais velhas e indica uma revisão na idade final do rastreamento, ou a aplicação de um teste de DNA-HPV “de saída” em idades maiores.