A pesquisa analisa o funcionamento da Casa da Gestante Puérpera e Bebê (Casa) de Campinas- SP, inédita estrutura do SUS para acolhimento e cuidado integral de grávidas e puérperas em situação de vulnerabilidade psicossocial grave, com seus bebês, por até 18 meses. Trata-se de pesquisa qualitativa, tipo estudo de caso, com entrevistas em profundidade e amostra intencional, composta por mulheres usuárias do serviço, trabalhadores e gestores da Casa e de serviços da rede de atenção à saúde que encaminham essas mulheres, bem como gestores das Secretarias Municipais de Saúde (SMS) e Assistência Social (SMAS). Também foi realizada observação participante. A técnica de tratamento dos dados colhidos foi a da análise de conteúdo temática. Como resultados, trabalhadores e gestores apontam o serviço como alternativa eficaz à maciça retirada de recém-nascidos de mulheres-mães em situação de rua e/ou uso abusivo de álcool e outras drogas, já nas maternidades, como ocorre em muitas cidades brasileiras. A diminuição desse número, após a criação da Casa, vem como argumento neste sentido. Indicam avanços e limites no desafio da oferta de atenção integral à saúde para essa mulher-mãe e seu bebê, destacando o trabalho de resgate de sua autonomia e dignidade diante do histórico de vida de exclusão e sucessivas violências e cuja maternagem precisa ser apoiada por política pública, para evitar outra violência, da separação de seu bebê. Nesse cenário, mulheres, trabalhadores e gestores são unânimes em afirmar os avanços trazidos pela Casa da Gestante, sem deixar de citar problemas complexos que ainda limitam a missão desse serviço e dessa rede, como o fato da Casa não receber o companheiro da mulher e ainda inexistir uma proposta para cuidado da figura masculina. Também importante é a referência, por parte de gestores e das assistentes sociais das maternidades, ao contexto favorável em que nasce o serviço, de grande investimento da SMAS na criação de uma variedade de abrigos para acolhimento conjunto de mães e bebês, bem como da pactuação do poder público municipal com o poder judiciário e as maternidades, de um protocolo de alta responsável dos bebês dessas mulheres, valorizando o papel da família extensa para se corresponsabilizar pelos cuidados da mãe e da criança, antes de utilizar do recurso do encaminhamento para a Casa da Gestante. Devido à prevalência do problema, fica clara sua importância como serviço de referência para maternidades e a atenção primária à saúde, em especial o Consultório na Rua, pela garantia da continuidade do cuidado, inclusive com relatos de impactos positivos da Casa na saúde das mulheres-mães e de seus recém-nascidos, além do respeito aos direitos à maternagem e à convivência familiar e comunitária. Como conclusão, se espera que esse tipo de serviço se torne uma política pública do Ministério da Saúde.