O exame clínico dos pés é uma etapa fundamental no cuidado de pessoas com diabetes mellitus, por possibilitar o rastreamento precoce de fatores de risco para úlceras e amputações. No entanto, essa prática ainda é subutilizada na Atenção Primária à Saúde (APS), o que compromete a detecção oportuna de complicações e eleva a morbimortalidade relacionada à doença. Com o intuito de contribuir para o fortalecimento da linha de cuidado do pé diabético nesse nível de atenção, esta pesquisa teve como objetivo validar o software SISPED versão 3.0 como ferramenta de apoio à estratificação de risco de úlceras nos pés, a partir da comparação com o exame clínico convencional. Trata-se de um estudo descritivo, transversal, de abordagem quantitativa, realizado com dados secundários extraídos de prontuários de pacientes com diabetes tipo 2 atendidos no Centro de Especialidades Médicas de Aracaju (CEMAR), entre os anos de 2018 e 2020. Participaram 315 pessoas, provenientes da APS, submetidas a dois exames clínicos distintos em um mesmo dia: o exame físico tradicional dos pés e a avaliação mediada pelo SISPED, ambos conduzidos por profissionais médicos e enfermeiros. Os dados foram registrados no prontuário físico e no banco do software, posteriormente analisados pela pesquisadora conforme os critérios do International Working Group on the Diabetic Foot (IWGDF), classificando o risco de úlcera para cada paciente. A análise estatística incluiu a mensuração do coeficiente Kappa para avaliar a concordância entre os métodos, além do cálculo dos indicadores de desempenho diagnóstico. Os resultados revelaram alta concordância entre os diagnósticos realizados pelo software e pelo exame clínico (Kappa = 0,894; p < 0,001), bem como excelente desempenho diagnóstico do SISPED, com sensibilidade de 98,47 , especificidade de 96,1 e acurácia de 97,1 . Conclui-se que o SISPED é uma ferramenta validada para rastreamento de pé de risco para úlcera, confiável, acessível e de fácil aplicação. Sua adoção pode favorecer a padronização das condutas, a identificação precoce de alterações e a tomada de decisões clínicas alinhadas às diretrizes internacionais, contribuindo para a prevenção de complicações graves e a melhoria dos desfechos assistenciais em pessoas com diabetes mellitus.