Pesquisa da FCM e HMU sobre transtornos psiquiátricos e genética aborda o uso de HQs no Ensino Médico
Publicado por: Camila Delmondes
11 de maio de 2022

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Compreendendo que a arte está presente em todas as esferas da vida, pesquisadores da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp e do Hospital Municipal Universitário (HMU) de São Bernardo do Campo investigaram a contribuição das Histórias em Quadrinhos (HQs) para a formação médica. O resultado do estudo foi publicado em março deste ano no Journal of Visual Communication in Medicine (JVCM). Ao traçar um possível perfil psicológico e genético para o super-herói Batman, os cientistas conseguiram demonstrar como situações de violência na infância podem impactar a saúde física e psíquica dos adultos. Veja o artigo na íntegra, aqui.

A pesquisa, conduzida pelo psicólogo e aluno do Programa de Pós-graduação em Clínica Médica da FCM, Daniel Paixão Pequeno, em conjunto com o médico psiquiatra do HMU, Lucas Pequeno Galvão, teve como orientador o biólogo do Laboratório de Genética do Câncer da FCM, Gustavo Jacob Lourenço.

“A história do Batman, cujo nome verdadeiro é Bruce Wayne, apresenta histórico pessoal e familiar rico para diversas interpretações e teorias. Quando criança, ao sair do cinema, Wayne vê seus pais serem assassinados na sua frente. Tal situação trágica passa a moldar as escolhas da personagem a partir daquele momento, fazendo com que ela venha a se tornar, na vida adulta, uma espécie de morcego vigilante da cidade de Gotham”, disse Daniel, sobre a escolha do super-herói Batman como objeto da investigação científica.

De acordo com o pesquisador, narrativas de experiências de adversidades na infância, de violência urbana e morte parental, tal qual a vivenciada pelo pequeno Bruce Wayne, contribuem para o entendimento da saúde física e psicológica dos adultos. De maneira que tais experiências traumáticas estão entre os fatores de vulnerabilidade para depressão, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).

“Em diversos quadrinhos e filmes, Batman apresenta sintomas característicos de TEPT, como reexperiência do evento traumático por flashbacks, pensamentos intrusivos e alterações em seu humor e reatividade em relação ao trauma sofrido (morte dos pais)”, observa Daniel sobre um possível perfil psicológico do Homem Morcego.

Orientador do estudo, Gustavo Lourenço também vislumbrou no estudo uma eventual composição genética para a personagem Bruce Wayne, que contribuiria na compreensão do desenvolvimento de transtornos psiquiátricos decorrentes de eventos traumáticos, tal qual o TEPT.

“Variantes genéticas de base única em genes do eixo hipotálamo-pituitária-adrenal, responsável pela liberação e modulação do hormônio cortisol – cujo papel é responder ao estresse agudo e consolidar memórias referentes ao momento estressor – podem estar relacionadas à vulnerabilidade genética e a distúrbios psiquiátricos como o TEPT. Alterações genéticas herdadas por Bruce Wayne podem tê-lo exposto a uma vulnerabilidade genética inata ao TEPT, sendo a morte de seus pais o evento traumático que deu início a este diagnóstico”, conjecturou o pesquisador.

Ainda de acordo com Gustavo Lourenço, alterações epigenéticas, que regulam a expressividade dos genes, também poderiam contribuir para o fechamento de um provável diagnóstico de TEPT para Bruce Wayne.

“Os mecanismos epigenéticos são como os interruptores de nossos genes, modulando se estão ligados ou desligados (traduzindo e transcrevendo DNA em RNA mensageiro e por fim produzindo proteínas). As experiências de adversidades da infância têm o potencial de alterar padrões, levando a uma menor produção de cortisol, aumentando a vulnerabilidade dos indivíduos a transtornos psiquiátricos como o TEPT”, explicou.

Gustavo Lourenço destacou a relevância do estudo no contexto de Informação em Saúde e Educação Médica. Ao discutir possibilidades diagnósticas reais, ainda que a partir de histórias fictícias, o pesquisador destacou o completo arcabouço teórico-científico que pode ser depreendido dessas narrativas.

“As HQs oferecem grande potencial ao ensino médico e às mais diversas áreas de Informação em Saúde, pois carregam em si grande potencial de discussão de questões biopsicossociais que podem, sim, serem discutidas a partir do ponto de vista científico”, comentou o pesquisador.

O jovem Bruce Wayne sentado dentro de um cérebro, protegendo-se dos morcegos que voam para longe. Esta obra de arte original é uma alusão à cena recorrente de Bruce Wayne em que ele foge do funeral de seus pais, cai em uma caverna e é cercado por morcegos. No desenvolvimento futuro do personagem, ele utiliza seu próprio medo para assustar seus inimigos (arte original de Gustavo Souza Novaes).
Bruce Wayne adulto em traje de Batman, um DNA e Alfred, o mordomo de Batman. Esta obra original refere-se à persona de Batman, as características genéticas e epigenéticas que poderiam protegê-lo ou torná-lo mais vulnerável a transtornos psiquiátricos, e Alfred, seu fator de proteção após a morte de seus pais (obra original de Gustavo Souza Novaes).

 



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